domingo, janeiro 24, 2010

RASCUNHO ou ESTUDO SOBRE GARATUJA

antes
de perceber
sua existência entre
livros quando (ainda)
éramos dois um simples
desenho infantil não
significava nada hoje
garatuja é
poesia


POESIA DE DOMINGO

desde outubro de 2009, todo domingo, estou publicando poemas no Blog de Letras do site SaraivaConteúdo.

a idéia é um plágio (autorizado!) do blog Caquis Caídos da escritora Adriana Lisboa, que publica todo-santo-sábado poemas de diversos autores.

estreei o POESIA DE DOMINGO com um poema inédito de Adriana Lisboa, feito a partir de uma canção de Ronaldo Miranda chamada Cantares:


quando não se espera que ele venha
usando outra palavra certa
que talvez não seja essa, puída,
amor
mesmo que larga
como a brisa imaterial da madrugada
quando não se espera que ele
amor
supostamente calmo e sem pernoites
venha mal-dormido
sem dicionário ou crachá
mais feito de olhar que de contato
quando não se espera por
nenhum de seus sinônimos?
(íncubos, avatares, falsos milagres)
ele surge à porta
no meio da festa
sem contentamento
sem merecimento
sem futuro nem presente nem passado
puro e tonto
como as aves imigrantes sem pousada


desde então, publiquei poemas de Manoel de Barros, Paulo Leminski, Antonio Cicero, Simone Magno, Hilda Hilst, Eucanaã Ferraz, Augusto de Campos, Carlos Drummond de Andrade, Heitor Ferraz Mello, Gonçalo M. Tavares, Viviane Mosé...

neste domingo postei FICOU BONITO O MEU DESENHO, PROFESSORA?!, de Nicolas Behr. leia, aqui!

no Sorriso, deixo um soneto de Rainer Maria Rilke, traduzido por Manuel Bandeira:


TORSO ARCAICO DE APOLO

Não sabemos como era a cabeça, que falta,
De pupilas amadurecidas, porém
O torso arde ainda como um candelabro e tem,
Só que meio apagada, a luz do olhar, que salta

E brilha. Se não fosse assim, a curva rara
Do peito não deslumbraria, nem achar
Caminho poderia um sorriso e baixar
Da anca suave ao centro onde o sexo se alteara.

Não fosse assim, seria essa estátua uma mera
Pedra, um desfigurado mármore, e nem já
Resplandecera mais como pele de fera.

Seus limites não transporia desmedida
Como uma estrela; pois ali ponto não há
Que não te mire. Força é mudares de vida.

terça-feira, janeiro 19, 2010

HELP!

A Embaixada da República do Haiti está arrecadando doações em dinheiro. Para colaborar, podem ser feitos depósitos ou transferências de qualquer banco, mesmo de fora do Brasil, para a conta corrente abaixo:

Embaixada da República do Haiti
Banco: Banco do Brasil
Agência: 1606-3
CC: 91000-7
CNPJ: 04170237/0001-71


O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) também recebe doações só em dinheiro. A entidade não recebe outros tipos de doações em função da dificuldade de enviá-las ao país.

Dados para depósitos ou transferências:

Comitê Internacional da Cruz Vermelha
Banco: HSBC
Agência: 1276
CC: 14526-84
CNPJ: 04359688/0001-51


O Viva Rio, que está desde 2004 no Haiti, onde desenvolve projetos sociais ligados às áreas de segurança, desenvolvimento e meio ambiente, também abriu uma conta para quem quer fazer doações às vítimas do terremoto:

Viva Rio
Banco: Banco do Brasil
Agência: 1769-8
CC: 5113-6
CNPJ: 00343941/0001-28




segunda-feira, janeiro 18, 2010

SOUZA LEÃO


O esquizoide

A editora Record começa a publicar nos próximos meses os livros inéditos do escritor Rodrigo de Souza Leão, falecido em 2009 numa clínica psiquiátrica no Rio. Entre os títulos estão O esquizoide e Me roubaram uns dias contados. Ramon Mello, organizador da obra de Rodrigo, pretende utilizar pinturas do escritor nas capas dos livros.

[gente boa, o globo - 18.01.10]

domingo, janeiro 17, 2010

JORNAL DA UNIÃO, PARAÍBA


Por Leonardo Davino

Destacar os melhores de 2009 não é tarefa fácil. Mas dou minha contribuição, neste período de balanços e expectativas, apontando o que continuará (me) tocando em 2010.

Na música tivemos: Pelo sabor do gesto, disco que confirma Zélia Duncan como uma das cantoras que melhor sabe escolher repertório; Certa manhã acordei de sonhos intranquilos, de Otto, é um objeto híbrido capaz de amalgamar vários matizes do experimento cancional; além do denso e redentor Zii e Zie, de Caetano Veloso; e do avassalador Maria Alcina confete e serpentina, da sempre fulgurante Maria Alcina.

Entre as exposições, frente ao luto pelo incêndio que destruiu parte do acervo de Hélio Oiticica: Obranome II reuniu os mais significativos objetos da poesia visual do Brasil; Pierre et Gilles - a apoteose do sublime trouxe alguns bons exemplos da obra da dupla francesa; e Vertigem, dos gêmeos Gustavo e Otávio Pandolfo, mostrou a união do grafite com o realismo fantástico típicos dos irmãos.

Já no cinema, alheio à invasão dos vampiros, 2009 teve: o bonito Milk, com um competente Sean Penn; o diagnóstico preciso de Entre os muros da escola; e o inquietante e pop (500) dias com ela. Por aqui, Coração vagabundo, Palavra(en) cantada, Dzi Croquettes e Simonal - ninguém sabe o duro que dei se destacam entre os documentários (categoria reinante) que retrataram figuras e épocas que contribuem para a riqueza da canção e da cultura brasileiras. Mas, certamente, o velhinho Carl Fredricksen, de Up - altas aventuras, roubou a cena.

Na literatura, tivemos o lançamento de Vinis mofados, o aguardado livro de poesia de Ramon Mello. Além de registrar como o diálogo entre canção e poesia é muito tênue, o autor consegue, através de versos rápidos (mas demonstradores de boa lapidação), imprimir o cotidiano de forma tão prazerosa (mesmo com dor) que a vida parece mesmo valer a pena; além do livro Entre milênios, reunião póstuma dos escritos de Haroldo de Campos, que mostra o mestre atento ao novo e à tradição.

Mas entre as surpresas de 2009 (ano do centenário de Carmen Miranda), Sílvia Machete é rainha. Com presença e voz marcantes, suas bolhas de sabão fizeram o ano passar mais leve.

A outra impactante surpresa foi ouvir Pedro Miranda. Sua voz (com algo de Clementina de Jesus) é forte e doce, cheia de tradição, mas sem se desconectar de seu tempo. O cd Pimenteira é o melhor (pela revelação) de 2009.


sábado, janeiro 16, 2010

MÚSICA DE SÁBADO

ESTRELA DE OXUM, na voz de MÔNICA SALMASO
Composição: Rodolfo Stroeter e Joyce

Maracatu
Oiô
Mandô
Chamá
Bandeira pião bandeira
Estrela da vida inteira
Mucama da saia grande
Saiu pra cantar
A voz ecoou brejeira
Na mata, na cachoeira
A noite foi abraçando
O véu do luar
No chão de areia branquinha
Pisada pequenininha
O canto da ribeirinha
Fez tudo acordar
Oxum despertou sorrindo
Gostou do que estava ouvindo
Cantou seu canto mais lindo
Brincando de acompanhar
Bandeira pião bandeira
Cansada da brincadeira
Estrela de Oxum faceira
Dormiu de tanto cantar

sexta-feira, janeiro 15, 2010

quarta-feira, janeiro 13, 2010

COMO SE NÃO HOUVESSE AMANHÃ

A editora Record vai lançar a antologia Como se não houvesse amanhã, na qual 20 escritores fãs da Legião Urbana escolheram uma música preferida e fizeram um conto. A organização é do poeta Henrique Rodrigues.

Dentre os autores, Miguel Sanches Neto, Marcelo Moutinho, Tatiana Salem Levy, Wesley Peres, Manoela Sawitzki, Maurício de Almeida e eu Ramones.

Renato Russo faria 50 anos dia 27 de março.



[sereníssima]

terça-feira, janeiro 12, 2010

MEGAZINE



LIQUIDIFICADOR
André Miranda & Télio Navega

CADÊ OS MORANGOS?

A poesia pode ser um elemento cotidiano e a partir de um rapaz de Araruama que se conecta com o mundo através dos blogs. Em Vinis mofados (Língua Geral), Ramon Mello escreve dois lados de poesia, como num disco. No lado A, diz em Phono 00: "ipod ligado/listening to ramones/e dançando a vida" No B, complementa em Cartilha: "não/se aproxime/estou/(entre/parênteses)". O título é uma referência ao livro Morangos mofados, de Caio Fernando Abreu.

[megazine, o globo - 12.01.2009]

domingo, janeiro 10, 2010

CON TODA PALABRA

Adiós, Lhasa de Sela.

A cantora Lhasa de Sela morreu sexta-feira, dia 08 de janeiro, aos 37 anos, vítima de cancro da mama, em Montreal.




Con Toda Palabra
Lhasa de Sela

Con toda palabra
Con toda sonrisa
Con toda mirada
Con toda caricia

Me acerco al agua
Bebiendo tu beso
La luz de tu cara
La luz de tu cuerpo

Es ruego el quererte
Es canto de mudo
Mirada de ciego
Secreto desnudo

Me entrego a tus brazos
Con miedo y con calma
Y un ruego en la boca
Y un ruego en el alma

Con toda palabra
Con toda sonrisa
Con toda mirada
Con toda caricia

Me acerco al fuego
Que todo lo quema
La luz de tu cara
La luz de tu cuerpo

Es ruego el quererte
Es canto de mudo
Mirada de ciego
Secreto desnudo

Me entrego a tus brazos
Con miedo y con calma
Y un ruego en la boca
Y un ruego en el alma






De Cara a La Pared
Lhasa de Sela
Composição: Lhasa de Sela / Yves Desrosiers

Llorando
de cara a la pared
se apaga la ciudad

Llorando
Y no hay màs
muero quizas
Adonde estàs?

Soñando
de cara a la pared
se quema la ciudad

Soñando
sin respirar
te quiero amar
te quiero amar

Rezando
de cara a la pared
se hunde la ciudad

Rezando
Santa Maria
Santa Maria
Santa Maria

sábado, janeiro 09, 2010

A ARTE DE PERDER

Por Elizabeth Bishop

Uma Arte

A arte de perder não é nenhum mistério;
Tantas coisas contêm em si o acidente
De perdê-las, que perder não é nada sério.

Perca um pouquinho a cada dia. Aceite, austero,
A chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.

Depois perca mais rápido, com mais critério:
Lugares, nomes, a escala subseqüente
Da viagem não feita. Nada disso é sério.

Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero
Lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.

Perdi duas cidades lindas. E um império
Que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles. Mas não é nada sério.

– Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo que eu amo) não muda nada. Pois é evidente
que a arte de perder não chega a ser mistério por muito que pareça (Escreve!) muito sério.

[tradução do poeta Paulo Henriques Britto]


One Art

The art of losing isn't hard to master;
so many things seem filled with the intent
to be lost that their loss is no disaster.

Lose something every day. Accept the fluster
of lost door keys, the hour badly spent.
The art of losing isn't hard to master.

Then practice losing farther, losing faster:
places, and names, and where it was you meant
to travel. None of these will bring disaster.

I lost my mother's watch. And look! my last, or
next-to-last, of three loved houses went.
The art of losing isn't hard to master.

I lost two cities, lovely ones. And, vaster,
some realms I owned, two rivers, a continent.
I miss them, but it wasn't a disaster.

-Even losing you (the joking voice, a gesture
I love) I shan't have lied. It's evident
the art of losing's not too hard to master
though it may look like (Write it!) like disaster

sexta-feira, janeiro 08, 2010

PRENEZ SOIN DE VOUS

menina de nove anos, via sms: “esse cara se acha! isso é muito triste”

[exposição 'cuide de você', de sophie calle]

quinta-feira, janeiro 07, 2010

AS CANÇÕES

O coração necessita de afinação como os rádios.
Por vezes, em simultâneo, escutamos duas canções,
e uma perturba a outra,
e não é bom para os ouvidos.
Mas qual o botão que afina o coração?
Não é assim tão fácil.

[in Observações, 1 - Gonçalo M. Tavares. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005.]

terça-feira, janeiro 05, 2010

VINIS NO TRIBUNA


A POESIA MUSICAL DE RAMON MELLO
Livro de estreia do poeta carioca reúne influências musicais diversas


Não estranhem o mofo do título, caros leitores: referência explícita a Caio Fernando Abreu. O conteúdo é poesia vivíssima, ágil, certeira, like a rolling stone. Se pedras que rolam não criam limo, poesia também. O primeiro poema do livro é dedicado a Waly Salomão, desde sempre apaixonado por livros e literatura (Cesta básica, o poema, ligeiro, fala justo dessa paixão), o que mostra o bom acompanhamento do poeta que ao longo de sua estreia presta ainda outros tributos.

Vinis mofados [2009, 94p., Língua Geral, coleção Língua Real, R$ 25,00 no site da editora], de Ramon Mello é, como entrega o título, um livro cheio de referências musicais. Inclusive dividido em lado a e lado b. O autor, nascido em Araruama em 1984, já é da geração do moribundo CD (e mp3, mp4, download etc.), mas traz, neste belo livro-álbum, uma interessante coleção de um pouco de tudo, matéria-prima de sua boa poesia, não confundir simplicidade com facilidade.

"resolvi organizar/ a bagunça na estante:// palavras empoeiradas/ fotografias letras de/ música vinis mofados// e uma coleção de/ romances fracassados", o poema-título (Vinis mofados, p. 68). Na homenagem a cidade natal, um dos poucos poemas sem explícita referência musical, ele escreve: "bebedouro de araras e/ (alguns) políticos corruptos" (Araruama, p. 25). Não fossem as aves, o poeta poderia ter nascido em qualquer lugar e ainda assim parido este poema.

Aproveitem a promoção: "baratos da ribeiro/ promoção do dia:// elis regina richard/ strauss (zaratustra)/ beatles gal fa - tal// tudo por cinco real" (Sebo, p. 38). Sua poesia, observações (o autor é jornalista), é feita de sentimentos. Uns doem: "toca discos com/ agulha quebrada/ livros encaixotados// gato persa deprimido/ vomitando mudanças/ saudades e bolas de// pelo piano de parede/ mudo chorando/ ausência dos seus// dedos firmes viris/ enquanto escrevo/ versos inúteis" (Partitura, p. 74).

Do alto de sua juventude o que Ramon Mello faz é tirar a poeira e o mofo de seus vinis-poemas, colocando-os na vitrola-olhos-mentes-corações-dos-leitores para tocá-los.


segunda-feira, janeiro 04, 2010

MEUS FAVORITOS

a jornalista e poeta simone magno perguntou sobre os livros que marcaram minha vida. humm, difícil. mas resgatei maria vai com as outras, de sylvia orthof e longa vida, de armando freitas filho.


OS LIVROS DA MINHA VIDA

Por Simone Magno

O quadro desta semana é com o jornalista e escritor Ramon Mello, uma das melhores surpresas de 2009. Ele estreou com o livro de poesia Vinis mofados (Língua Geral) e ainda organizou o livro de memórias de Heloisa Buarque de Hollanda, Escolhas (Língua Geral) e a antologia digital Enter.

Tempo de Letras – Qual o primeiro livro que marcou sua vida?

Ramon Mello – A leitura de Maria vai com as outras (Ática), de Sylvia Orthof, não sai da minha cabeça até hoje. Os desenhos da própria autora também são inesquecíveis. Li o livro quando cursava a alfabetização no Colégio Araruama, por indicação da professora “Tia Naia”. A ovelha Maria, protagonista da história, era uma mesmo maria-vai-com-as-outras, mas um dia percebeu que o melhor era fazer o próprio caminho. Não há metáfora melhor para a vida. Acredita que ainda folheio as páginas do livro? É uma alegria, sempre.

TL – Qual o livro que mais mexeu com você?

RM – Longa vida (Nova Fronteira), de Armando Freitas Filho, publicado em 1982. A capa do livro é do Rubens Gerchman e o prefácio da Ana Cristina César. Descobri o exemplar no sebo da Livraria Leonardo Da Vinci exatamente quando me preparava para entrevistar o “poeta-referência”. Armando tem uma simplicidade impressionante na escrita, ele consegue transformar o cotidiano em poesia. É um livro fundamental na minha vida.

TL – O que você está lendo agora?

RM – Neste momento, leio Me roubaram uns dias contados, romance inédito do poeta Rodrigo de Souza Leão, falecido em julho do ano passado. Sem dúvidas, Rodrigo é um dos autores mais originais que surgiu nos últimos anos. Basta ler Todos os cachorros são azuis para comprovar o que digo.



PROSA &VERSO


[o globo 02.01.2010]

não estou plenamente de acordo com a análise comparativa do jornalista doutor - principalmente quando se refere ao formato sistematizado, bolor no 'morangos' e carioquismo excessivo.

tudo muito confuso.

mas valeu, a bunda está na janela.

"toda unanimidade é burra", disse tio nelson.

LETUCE, PISCINA HAIKAI

não consigo parar de ouvir a banda letuce!

letícia novaes é esquisita e interessante, impossível não acompanhá-la.

copiei a letra da minha música preferida no ouvidômetro. não sei se a estrutura está correta, mas vale o registro:

PISCINA HAIKAI
Letícia Novaes e Lucas Vasconcellos

eu desmorono
cê extrapola

vai cair, vai cair

que dia que cai?
que dia que cai?

eu estipulo
cê escapole

vai sair, vai sair

que dia haikai
que dia haikai
piscina haikai

vai sair, vai sair

que dia haikai
que dia haikai
piscina haikai

eu queria saber que dia cai o carnaval
o carnaval cai que dia?

o peito cai
o pinto cai
a bolsa cai

o peito cai
o pinto cai
a bolsa cai

uma estrela cai
um balão cai
o meu queixo cai

quando você sai







AME E DÊ VEXAME

"Há momentos em que se sente que a vida pode ter fim antes da morte da gente"

Roberto Freire