quarta-feira, setembro 29, 2010

DIAMANTE


[Antonio Cicero]

O amor seria fogo ou ar
em movimento, chama ao vento;
e no entanto é tão duro amar
este amor que o seu elemento
deve ser terra: diamante,
já que dura e fura e tortura
e fica tanto mais brilhante
quanto mais se atrita, e fulgura,
ao que parece, para sempre:
e às vezes volta a ser carvão
a rutilar incandescente
onde é mais funda a escuridão;
e volta indecente esplendor
e loucura e tesão e dor.

terça-feira, setembro 28, 2010

HOMENAGEM A ADALGISA NERY


homenagem a poeta Adalgisa Nery (1905-1980) na Fundação Casa de Rui Barbosa, dia 30 de setembro, às 18h. vou mediar a conversa entre Ana Arruda Callado, Dalva Nery e Elizabeth Feldhuzen.

DIGESTÃO


ele ainda está na calçada da voluntários, sob a chuva, com o coração na boca.

sábado, setembro 25, 2010



Agora

[Rosanna Decelso]

agora que você não quer
agora que você não diz que quer eu quero
agora que você diz não
agora que emudeceu seu coração eu falo

falo porque penso
ouço meu silêncio e canto
meu amor imenso
acenando o lenço no porto
sente dor mas não chora
sabe que o amor tem hora
pra chegar e pra partir

agora que você meu bem
agora que você não me quer bem eu quero
agora que você mais nem
me olha como se olhasse alguém eu olho

olho de relance
um filme um romance triste
cena de solidão
meu coração não resiste
sente dor mas não chora
sabe que o amor tem hora
pra chegar e pra partir

quinta-feira, setembro 23, 2010



O site do IMS publica vídeo com imagens de arquivo das famílias de Haruo Ohara e de Hikoma Udihara, um dos pioneiros da imigração japonesa no Paraná.

quarta-feira, setembro 22, 2010

"Um dia, como um dia para toda adolescente, eu senti que amava um homem. Conheci então uma nova paisagem da minha alma. Descobri nesse sentimento um senso de beleza capaz de afugentar todas as sombras acumuladas dentro do meu ser. Pela primeira vez, tive a sensação exata de força e liberdade. Lembro-me que, imantada por ele, eu me integrei totalmente em todas as partículas da vida e da natureza. Subindo os degraus de uma escada de pedra, reparei nas formigas que cruzavam e, com cuidado especial, procurei não esmagá-las com os meus pés. Fitei com uma ternura cuidadosa as plantas, as flores, as andorinhas, que traçavam espaço e a poeira de orvalho caída sobre as folhagens. Aprendi as cores nas luzes das manhãs e nas tonalidades do anoitecer. Eu estava no processo da metamorfose. Em tudo eu encontrava uma duplicidade de sentido. Estava sob a função de reminiscências eternas que atuavam como ligação do divino que surge no humano e com o divino que se entende no universo. Havia um abandono alegre no meu ser acompanhando a causa misteriosa. E, de repente, me senti identificada com a vida. Tive a impressão de que uma grande chuva caíra sobre o mundo, e agora se apresentava lavado, fresco, radiante. Creio que os meus gestos se tornaram harmoniosos, a minha voz era o eco da música das águas cantantes e a minha memória só se recordava das formas perfeitas, para essa nova construção. Foi uma fase de grandeza aguda e espetacular da minha alma. De tudo emanava doçura e leveza compensadoras".

[Trecho do romance autobiográfico A imaginária, publicado em 1957, o sétimo livro de Adalgisa Nery]

segunda-feira, setembro 20, 2010

ARRANJO HÍBRIDO


os lírios se abriram
ao som de trenzinho caipira
saudades, disseram

domingo, setembro 19, 2010

DOMINGO


dia internacional da carência

sábado, setembro 18, 2010

ADEUS, LATUF

"Não existe frase final, toda frase é um recomeço", professor Latuf Isaias Mucci - Doutor em Letras (UFRJ) e Professor de Teoria da Arte na UFF (Universidade Federal Fluminense).


Professor Latuf faleceu dia 9 de setembro de 2010.

sábado, setembro 11, 2010

SOZINHEZ

condição de estar só de forma reflexiva, com repercussões criativas


["sozinhez": expressão inventada por paulo mendes campos, na crônica 'para maria da graça' - volume 4 da coleção 'para gostar de ler', editora ática, 1989]

sexta-feira, setembro 10, 2010

DIMITRI BR - DIAHUM


diahum: uma nova música todo dia 1 | clique aqui para ouvir e baixar

GULLAR, 80 ANOS

O DUPLO

Foi-se formando
ao meu lado
um outro
que é mais Gullar do que eu

que se apossou do que vi
do que fiz
do que era meu

e pelo país
flutua
livre da morte
e do morto

pelas ruas da cidade
vejo-o passar
com meu rosto

mas sem o peso
do corpo
que sou eu
culpado e pouco

[poema extraído do livro Em alguma parte alguma - José Olympio, 2010]


O poeta Ferreira Gullar completa 80 anos nesta sexta-feira, 10 de setembro:

http://migre.me/1eaiM


quarta-feira, setembro 08, 2010

AL BERTO



[noite de lisboa com auto-retrato e sombra de ian curtis]




Al Berto nasceu a 11 de janeiro de 1948 em Coimbra, Portugal. Seu nome de batismo era Alberto Raposo Pidwell Tavares. Estudou em Lisboa, primeiramente, e mais tarde viajou a Bruxelas para estudar pintura. Voltou a Portugal na década de 70, onde passou a dedicar-se exclusivamente à escrita. Publicou vários livros de poesia, como Meu Fruto de Morder, Todas as Horas (1980), Salsugem (1984) e Horto de Incêndio (1997), mas foi a coletânea O Medo, com poemas escritos entre 1974 e 1986, editada pela primeira vez em 1987, que trouxe o reconhecimento da importância de Al Berto no panorama da poesia portuguesa contemporânea, tornando-se o livro mais conhecido do poeta português, ao qual seriam adicionados em posteriores edições novos escritos do autor, mesmo após a sua morte. Al Berto tornou-se um dos poetas mais conhecidos do Portugal pós-Salazar, por fazer de “Al Berto” uma criação poética em que a vida e a obra se entrelaçavam. Atualmente, sua obra é editada pela prestigiosa Assírio & Alvim. Al Berto morreu em 1997.

terça-feira, setembro 07, 2010

A Quoi ÇA Sert L'amour



[animação de Louis Clichy]

A Quoi ÇA Sert L'amour
Edith Piaf & Theo Sarapo

A quoi ça sert l'amour ?
On raconte toujours
Des histoires insensées.
A quoi ça sert d'aimer ?

L'amour ne s'explique pas !
C'est une chose comme ça,
Qui vient on ne sait d'où
Et vous prend tout à coup.

Moi, j'ai entendu dire
Que l'amour fait souffrir,
Que l'amour fait pleurer.
A quoi ça sert d'aimer ?

L'amour ça sert à quoi ?
A nous donner d' la joie
Avec des larmes aux yeux...
C'est triste et merveilleux !

Pourtant on dit souvent
Que l'amour est décevant,
Qu'il y en a un sur deux
Qui n'est jamais heureux...

Même quand on l'a perdu,
L'amour qu'on a connu
Vous laisse un goùt de miel.
L'amour c'est éternel !

Tout ça, c'est très joli,
Mais quand tout est fini,
Il ne vous reste rien
Qu'un immense chagrin...

Tout ce qui maintenant
Te semble déchirant,
Demain, sera pour toi
Un souvenir de joie !

En somme, si j'ai compris,
Sans amour dans la vie,
Sans ses joies, ses chagrins,
On a vécu pour rien ?

Mais oui ! Regarde-moi !
A chaque fois j'y crois
Et j'y croirai toujours...
Ça sert à ça, l'amour !
Mais toi, t'es le dernier,
Mais toi, t'es le premier !
Avant toi, 'y avait rien,
Avec toi je suis bien !
C'est toi que je voulais,
C'est toi qu'il me fallait !
Toi qui j'aimerai toujours...
Ça sert à ça, l'amour !...

domingo, setembro 05, 2010

As-tu déjà aimé



Louis Garrel et Grégoire Leprince-Ringuet chantent "La Beauté du geste" (As-tu déjà aimé) à l'Alhambra (Paris) le 25 mars 2010.



As Tu Déjà Aimé? [Les Chansons D'amour]

As-tu déjà aimé
pour la beauté du geste?
As-tu déjà croqué
la pomme à pleine dent?
Pour la saveur du fruit
sa douceur et son zeste
T'es tu perdu souvent?

Oui, j'ai déjà aimé
pour la beauté du geste
mais la pomme était dure.
Je m'y suis cassé les dents.
Ces passions immatures,
ces amours indigestes
m'ont écoeuré souvent

Les amours qui durent
font des amants exsangues,
et leurs baisers trop mûrs
nous pourrissent la langue

Les amour passagères
ont des futiles fièvres,
et leur baiser trop verts
nous écorchent les lèvres

Car a vouloir s'aimer
pour la beauté du geste,
le ver dans la pomme
nous glisse entre les dents.
Il nous ronge le coeur,
le cerveau et le reste,
nous vide lentement

Mais lorsqu'on ose s'aimer
pour la beauté du geste,
ce ver dans la pomme
qui glisse entre les dents,
nous embaume le coeur,
le cerveau et nous laisse
son parfum au dedans

Les amours passagères
font de futils efforts
Leurs caresses ephémères
nous faitguent le corps

Les amours qui durent
font les amants moins beaux
Leurs caresses, à l'usure,
ont raison de nos peaux.

sexta-feira, setembro 03, 2010

NOLL






"A viagem é muito individual, não é? [silêncio] Eu acho que tem que doer um pouco, a escrita. Se não doer um pouco tem alguma coisa errada aí. A não ser que o cara seja um escritor de questões históricas... Seja muito distante da psicologia pessoal, está mais preocupado com o mundo objetivo etc. Se não, acho que tem que doer um pouco. Na literatura, tem que ir um pouco além daquilo que você vive, daquilo que se é obrigado a viver no meio social... Esconde-se muita coisa diante dos outros. E na literatura tem que se desvelar, revelar isso... É isso que dói. Eu quando escrevo fico pensando: “Essas coisas não se dizem! Não devem ser ditas”. Não, vamos dizê-las, sim.mos dizê-las, sim."

>>> leia a conversa completa, aqui!


ORIXÁ DAS PALAVRAS

Foto: Mauro Ferreira
Por Ramon Mello

Ansiosos, os estudantes adolescentes aguardavam o início da pré-estreia de Bethânia e as Palavras, no Teatro Fashion Mall, no Rio de Janeiro. Alguns empunhavam cadernos com declarações de amor, outros levavam discos com fotos da cantora, muitos falavam alto, gargalhavam. Quando Maria Bethânia subiu ao palco, com os pés sempre descalços, o silêncio tomou conta do ambiente, para, em seguida, ser cortado por aplausos e gritos elogiosos.

Bethânia, mãos ao alto, óculos no rosto, longe do microfone, no centro do palco, canta, à capela, com sua voz híbrida, um trecho de música em reverência a Iansã, deusa africana dos ventos e das tempestades. O público torna a ficar em silêncio, aguardando o próximo gesto da cantora, que, de tão imponente, lembra o próprio orixá de que é devota. Tomando o microfone, a intérprete abre o espetáculo assumindo seu amor pela palavra falada, confessando a alegria e a surpresa de estar no teatro para fazer leitura de textos.

Mesclando canções, Bethânia lê dramaticamente, acompanhada do violonista Luiz Brasil (que, por esquecer de tocar o violão durante a leitura de alguns poemas, levou uma bronca da cantora) e do percussionista Carlos Cesar, de poetas e escritores que marcaram sua vida: Sophia de Mello Breyner Andersen, Cecilia Meireles, Clarice Lispector, Manuel Bandeira, Fausto Fawcett, Wally Salomão, Cacaso, Ferreira Gullar, Fernando Pessoa. "O palco é sempre lugar de aprender", afirma Bethânia, para em seguida cantarolar um trecho da música “O que é? O que é?”, de Gonzaguinha: "Viver! / E não ter a vergonha / De ser feliz ".

Apresentada às palavras pelo professor Nestor de Oliveira, mestre de sua cidade natal, Santo Amaro da Purificação, no interior da Bahia, Bethânia expõe sua intimidade com textos de escritores e poetas, principalmente com Fernando Pessoa - cuja reverência rendeu à Maricotinha a Ordem do Desassossego, da Casa Fernando Pessoa, em Portugal. “Mesmo estudando no recôncavo da Bahia, é possível se encantar com as palavras. É uma prova que é possível uma educação plena”, diz a cantora, que dedicou o espetáculo a suas mestras Teresa Aragão (ex-mulher de Ferreira Gullar) e Violeta Arraes. A intérprete também agradeceu aos alunos e professores presentes na plateia, entre eles Julio Diniz, diretor do departamento de Letras da PUC - Rio, seu amigo e colaborador.

O novo espetáculo de Maria Bethânia, criado em 2009 a partir de um convite da Universidade Federal de Minas Gerais para participar do ciclo de conferências Sentimentos do mundo, é uma declaração de amor à língua portuguesa.

Entre versos e canções, no palco, Maria Bethânia é um “orixá das palavras”.

>>> Maria Bethânia conversa com Leilane Neubarth (Globo News) sobre o espetáculo " Bethânia e as Palavras":




>>> Assista à entrevista exclusiva de Maria Bethânia ao SaraivaConteúdo:



quarta-feira, setembro 01, 2010

sonhei que me transformava num cachorro engolidor de tempo

CBN - LEÃO

[entrevista sobre Rodrigo de Souza Leão para o blog Tempo de Letras - CBN, da jornalista e poeta Simone Magno]