[foto: Gabriel Pardal]
quinta-feira, fevereiro 06, 2014
das surpresas felizes:
meus livros de poemas "Vinis mofados" e "Poemas tirados de notícias de jornal" são objetos de pesquisa da dissertação de mestrado de Luciano Motta na Universidade Federal Fluminense (UFF): "Ressonâncias literárias e midiáticas na poesia de Ramon Mello". a defesa será dia 10 de março de 2014, às 14h.
FRAGMENTOS DE UM AUTO-RETRATO AOS 29 ANOS
Quando acordo, sempre penso que eu poderia ser outra pessoa. A época também poderia mudar, conforme meu humor. Ao escovar os dentes os pensamentos intrusos desaparecem, estou repleto deles, aceito cada apresentação cotidiana. Vontade obsessiva de criar outros eus. Observo minha morte todos os dias, em cada linha que se forma no esboço de um sorriso. Ou melhor, minhas mortes. Escrevo, cometo pequenos suicídios no decorrer da manhã, logo após o café. Normal. O fim faz parte / o que é vivo / por ser vivo / contrai, descontrai / e morre / ela me disse. Escrever poemas dói, insisto apesar de. Pessoas especiais morrem no dia do nascimento, não será o meu caso. Silêncio. Batizei um dos meus gatos de Silêncio para me lembrar disso. Passo a maior parte do dia calado, sem música – valorizo a quietude dos objetos, dos livros. À noite, para dormir ouço mantras, ou cantos indígenas. Tenho muitas manias, só me desfaço delas quando percebo que se tornaram obrigação. Mania não é obrigação, é mania mesmo. Anotar num caderno trecho de livros possíveis, a primeira frase de um romance inacabado: É perigoso quando o espírito inquieto passeia assim pelo espaço, fica sempre ligado aos sentidos por um laço secreto. Mania. Também gosto de comprar edições autografadas de escritores que admiro. Mania. Sou esquisito. Eu sei. Não sou fácil. Difícil é eu mesmo me aguentar. Tem dia que tenho vontade de sair do corpo, por isso medito diariamente. Um vazio sinistro. Fico quieto esperando o coração acalmar, nem sempre é possível. O que fazer com tanta inquietude? Por um coração que compreenda, repito. A meditação me trouxe a fé. Ou será o contrário? Tenho muita fé, na vida e na arte. Encarando a angústia, motivos humanos passam a ocupar meus vazios. Quem disse que seria fácil o retorno de Saturno? Além de dois gatos, tenho dois livros de poemas publicados e um livro de contos auto-rejeitado. Estou escrevendo o terceiro livro de versos: “a vida efêmera dos peixes de aquário”. Ah, quando mudar para uma casa maior, quero adotar outro gato, branco. Ou, quem sabe, uma lebre que mia. Seria interessante a lebre miando entre os livros, subindo na estante de poesia. Pretendo finalizar o primeiro romance aos 30 anos, promessa interior. E, antes disso, apresentar o infantil “a menina que queria ser árvore”. Sempre quis ser árvore, mas nunca quis ser menina. Gosto de ser homem, e amo homens autênticos. Interesso-me mais por pessoas solidárias do que inteligentes, observo. No mais, tenho preguiça de preconceito, e pessoas que falam em excesso. É sempre complicado falar de mim, fico perdido em labirintos, deixo os outros constrangidos. Prefiro falar sobre sonhos que surgem quando estou presente, agora por exemplo.
Ramon Nunes Mello
Rio de Janeiro, 04 de janeiro de 2014.
[Texto escrito para o "Projeto Autoretrato", de Renan Nazzos e Sandra Alvarez]
AMPLIANDO A CONSCIÊNCIA POLÍTICA
“Que tempos são esses em que é necessário defender o óbvio?”
Bertold Brecht
Felizmente a vida surpreende, estamos despertando de um sono profundo. A população – principalmente o estudante, vanguarda das transformações sociais – está nas ruas do Brasil clamando por mudança, a maioria de forma pacífica, ampliando a consciência política. E violência e vandalismo? Reflexo da desigualdade em que vivemos, não faz parte do grito de paz do povo que ecoa pelo país.
Neste novo tempo só acredito em revolução relacionada com a paz – a maior transformação que podemos realizar. Tente fazer algo, qualquer coisa que seja, sem paz. Impossível. Alguns indivíduos consideram anacrônica (ou até ingênua) a cultura da paz. Como se o movimento de pacificação estivesse dissociado da reflexão crítica. Talvez porque essa palavra esteja esgarçada pelo uso, como diz a poeta Viviane Mosé sobre a necessidade de ressignificação de algumas palavras e conceitos no livro ‘Receita para lavar palavra suja’. Sejamos paz, então, em nossas ações, diariamente.
Falo de um estado de harmonia, onde os opostos se equilibram. Quem está acostumado a meditar com freqüência ou praticar a espiritualidade (não falo de religião, é bem diferente) consegue vislumbrar esse estado com mais facilidade, aquietando a mente e o coração. Isso está muito além de sentar em posição de lótus. Não se trata de inércia, pelo contrário, movimento contínuo, ação em harmonia. É preciso disposição para pacificar-se, ainda mais num mundo em que a cultura da guerra e violência está em nosso cotidiano. Impossível? Não. É um desafio, possível e gratificante.
Sempre me considerei uma pessoa engajada, principalmente por aprender ainda menino lições de política com meu pai. Descobri cedo que o poder quando mal usado pode causar estragos. E quando fui estudante da Escola Estadual de Teatro Martins Penna e me tornei presidente do Grêmio Renato Vianna aprendi muito sobre democracia. No entanto, a palavra paz não se encontrava no meu dicionário. Ou, estava lá, e eu a ignorava. Hoje posso afirmar que faz muita diferença pensar e exercitar a política pelo prisma da paz.
“A Paz é barulhenta”, costuma afirmar Ana Vitória Monteiro, fundadora da Ong Paz Sem Fronteiras. De fato, é verdade, podemos constatar nas ruas, nas postagens das redes sociais, nas matérias de jornais e televisão. Os milhares de cidadãos que estão indo às ruas desejam um mundo em paz, com menos desigualdade social. Esse pedido de paz está presente nos diversos cartazes como “Fora Feliciano!”; “Pare Belo Monte!”; “ Fora Renan Calheiros!”; “Reforma política!”… Qual ser humano que não deseja paz para sua vida? Desconheço.
Participei de diversas passeatas em 2013. Levei para uma delas (na Presidente Vargas, Rio de Janeiro, no dia 17/06, que reuniu mais de 100 mil pessoas) um cartaz onde estava escrito: PAZ SEM FRONTEIRAS. Foi interessante observar a surpresa das pessoas, pediam para fotografar/filmar o cartaz. Paz é o que mais desejo nesse momento de transformação. Que tal começar essa mudança em nós mesmos? Praticar o que exigimos nos cartazes que levantamos nas ruas? Ética, cidadania, solidariedade, amor, respeito ao próximo, e paz.
No yoga esse almejado estado de paz chama-se ahimsa – uma espécie de fio dourado que conduz a prática, traçado pelo cultivo da não-violência e do respeito a si e aos outros. Que possamos recriar nossa realidade, ancorando a paz em nós para que então se instaure no mundo.
Ramon Nunes Mello
Rio de Janeiro, julho de 2013.
Rio de Janeiro, julho de 2013.
sábado, outubro 12, 2013
POEMA ATRAVESSADO PELO MANIFESTO SAMPLER (performance, audio)
POEMA ATRAVESSADO PELO MANIFESTO SAMPLER from Ramones on Vimeo.
Poema atravessado pelo Manifesto Sampler
performance
performance
Ramon Nunes Mello
poesia
poesia
Siri
música
música
Debora Engel
fotos
não copie e cole
se aproprie e recrie a realidade
use seu imaginário
carta de alforria para um primeiro
ato
nem todo início é um prólogo
não escrever sobre
não descrever ou reproduzir
o mestre
produzir escrever produzir
eu
estou menino
em suas palavras
não chame meu nome em vão
salte a pedra
no caminho
seja atravessado pelos poetas que lê
aniquile as referências
um coletivo de enumerações
faça
literatura sem agradecer a raduan
ou adalgisa
faça
você seu retrato
enquanto jovem
encontre suas ideias
a partir de
apesar de
(lembra dela?)
apesar
de
invasor
ao combate
quais os limites
do texto?
autores originais
não mais
viva de uma forma política
crie assim
invada a cidade
invente
coloque tudo para dentro
para depois respirar
sentir e notar
você
eu estou colocando
pra dentro
o chocolate
de tanto olhar
ler
IV
plagiador sabotador
coroe sua intimidade
perturbe
seus pares
não os deixem
invente
seja autor inventor
o leitor
deve reconhecer seus passos
caminho percorrido
está
tudo no passado
o futuro se tropeça
com ele
a poesia se esfrega nas coisas
percebe?
ao acordar veja as coisas
como
as coisas todas
espalhadas livros jornais
mesquinhez de sua relação
amorosa
você pode abrir sulcos na escrita
fluxos
corpo é texto
é corpo
emancipe sua escrita
deixem falar mal
amanhã
estão todos lambendo seu rabo
discuta apenas sua
existência
na palavra
leia
escreva
como quem atravessa
o leitor
subverta
fotos
POEMA
ATRAVESSADO PELO MANIFESTO SAMPLER
para Fred Coelho e
Mauro Gaspar
I
invadir
o corpo do mundo
aceitar
o
caos
aceitar
o
caos
atuar
no esvaziamento das certezas
não copie e cole
se aproprie e recrie a realidade
use seu imaginário
carta de alforria para um primeiro
ato
nem todo início é um prólogo
II
acredite
você não é original
certo
apenas a pureza de um
mito
a pressão não
é
simples
pratique
sequestro saque captura
de palavras
não comunique aos pais
toda palavra é
órfã
não
existem palavras
finais
toda palavra
é
começo
você não é original
certo
apenas a pureza de um
mito
a pressão não
é
simples
pratique
sequestro saque captura
de palavras
não comunique aos pais
toda palavra é
órfã
não
existem palavras
finais
toda palavra
é
começo
pirata
capitão buquineiro
promessa de geração
00
remix de ideias
souvenirs
alô wally
ah se você ainda estivesse por aqui
promessa de geração
00
remix de ideias
souvenirs
alô wally
ah se você ainda estivesse por aqui
não escrever sobre
não descrever ou reproduzir
o mestre
produzir escrever produzir
eu
estou menino
em suas palavras
não chame meu nome em vão
salte a pedra
no caminho
III
seja atravessado pelos poetas que lê
aniquile as referências
um coletivo de enumerações
faça
literatura sem agradecer a raduan
ou adalgisa
faça
você seu retrato
enquanto jovem
encontre suas ideias
a partir de
apesar de
(lembra dela?)
apesar
de
invasor
ao combate
quais os limites
do texto?
autores originais
não mais
viva de uma forma política
crie assim
invada a cidade
invente
coloque tudo para dentro
para depois respirar
sentir e notar
você
eu estou colocando
pra dentro
o chocolate
de tanto olhar
ler
IV
propriedade coletiva
eu sou vocês
sou eu nos
reconhecemos nas palavras
lidas e não ditas e não lidas
também
percebe
posse-criação
só
os mentirosos
são dignos
do amor
deus
em latim é fingidor
da via
criação
eu sou vocês
sou eu nos
reconhecemos nas palavras
lidas e não ditas e não lidas
também
percebe
posse-criação
só
os mentirosos
são dignos
do amor
deus
em latim é fingidor
da via
criação
escreva
tudo
com essa mão nervosa
escreva escreva
as vozes que habitam
em ti
no papel
selvagem caótico
esse texto não é
seu nem meu
esse texto pertence
apenas
ataque
perigo ritmo
sem receio da autocrítica
se aproprie dos rótulos
para destruí-los
com essa mão nervosa
escreva escreva
as vozes que habitam
em ti
no papel
selvagem caótico
esse texto não é
seu nem meu
esse texto pertence
apenas
ataque
perigo ritmo
sem receio da autocrítica
se aproprie dos rótulos
para destruí-los
plagiador sabotador
coroe sua intimidade
perturbe
seus pares
não os deixem
presos
no
século passado
o aprendizado
as vanguardas e a tradição
modos de usar
sua língua
esqueça os ismos
a divisão didática
atravesse
seja tático
o aprendizado
as vanguardas e a tradição
modos de usar
sua língua
esqueça os ismos
a divisão didática
atravesse
seja tático
V
cale
a boca de quem
não se posiciona
no espaço
torne seu o que é
do outro
cale
a boca de quem
não se posiciona
no espaço
torne seu o que é
do outro
provoque
todas
as encenações institucionais
modo de fazer
aprender fazendo
seu trabalho
diário
as encenações institucionais
modo de fazer
aprender fazendo
seu trabalho
diário
manipule
a história
alheia escreva a nossa
alheia escreva a nossa
invente
seja autor inventor
o leitor
deve reconhecer seus passos
caminho percorrido
está
tudo no passado
o futuro se tropeça
com ele
a poesia se esfrega nas coisas
percebe?
ao acordar veja as coisas
como
as coisas todas
espalhadas livros jornais
mesquinhez de sua relação
amorosa
você pode abrir sulcos na escrita
fluxos
corpo é texto
é corpo
emancipe sua escrita
deixem falar mal
amanhã
estão todos lambendo seu rabo
discuta apenas sua
existência
na palavra
leia
escreva
como quem atravessa
o leitor
subverta
transforme
o meio com a palavra
transtextual
células trans
transexual
exu contemporâneo se aloja no outro
passado tomando o presente
de cavalo
transtextual
células trans
transexual
exu contemporâneo se aloja no outro
passado tomando o presente
de cavalo
VI
ultrapasse
a si mesmo
não trapaceie é fatal
amadureça
a experiência
seja através
dos outros
a verdadeira história da literatura
uma história de ladrões
experiência
número infinito
o homem forte vive
só
lembre dos outros
entenda
as relações de força
você ouviu de um artista de plástico
vale tudo só não vale
qualquer
coisa
as coisas negras são
tão bonitas
menos o cavalo
beba
ice tea light
com limão e gelo
lipton com muita cafeína
no cafeína
a si mesmo
não trapaceie é fatal
amadureça
a experiência
seja através
dos outros
a verdadeira história da literatura
uma história de ladrões
experiência
número infinito
o homem forte vive
só
lembre dos outros
entenda
as relações de força
você ouviu de um artista de plástico
vale tudo só não vale
qualquer
coisa
as coisas negras são
tão bonitas
menos o cavalo
beba
ice tea light
com limão e gelo
lipton com muita cafeína
no cafeína
não
imite
escreva a partir
de
dobre a linha da folha
dobre-se
você sabe que o papel
só pode ser dobrado
sete vezes
hum
escreva a partir
de
dobre a linha da folha
dobre-se
você sabe que o papel
só pode ser dobrado
sete vezes
hum
modo
de
de experimentar
os espaços
nascemos com os mortos
sempre
de experimentar
os espaços
nascemos com os mortos
sempre
o
fim é o meio
novo desvio
novidade sem novidade
caminho literário cercado de música
ouça
não é preciso citar
não é
faça
teses para corrompê-las
o texto tem sentidos
não
sentido
fazer ao ler
novo desvio
novidade sem novidade
caminho literário cercado de música
ouça
não é preciso citar
não é
faça
teses para corrompê-las
o texto tem sentidos
não
sentido
fazer ao ler
a
linguagem não indica sentido
mas possibilidades
as palavras
penetram em você
ou não
use todos os guardanapos
do café
com leite e biscoito de maisena
(compensando os 10% de mal atendimento)
ganhar força com as ideias
mas possibilidades
as palavras
penetram em você
ou não
use todos os guardanapos
do café
com leite e biscoito de maisena
(compensando os 10% de mal atendimento)
ganhar força com as ideias
pense
no tempo
em nosso tempo
tempo
tempo
tempo
tempo
em nosso tempo
tempo
tempo
tempo
tempo
silêncios
incorporados na escrita
esquecimento como aprendizado da escritura
invasão pela leitura
esse poema não tem
fim
é o meio
esquecimento como aprendizado da escritura
invasão pela leitura
esse poema não tem
fim
é o meio
POEM
TRAVERSED BY THE SAMPLER MANIFESTO
Ramon Mello
To Frederico Coelho and Mauro Gaspar
To Frederico Coelho and Mauro Gaspar
translation by Leonardo Villa-Forte with Sophie Lewis
I
to invade the
body of the world
to accept
the
chaos
to act in the
emptying of certainties
don’t copy
and paste
appropriate
yourself and recreate reality
use your
imagination
emancipation
papers for a first
act
not every
beginning is a prologue
II
believe
you are not
original
right
just the
purity of a
myth
pressure is
not
simple
exert
kidnap,
looting, capture
of words
don’t tell
the parents
every word is
an orphan
there are
no final
words
every word
is
beginning
pirate,
captain, buccaneer
00’s
generation
promise
ideas remix
souvenirs
hail waly
oh, if you
were still around
not to write
about
not to
describe or reproduce
the master
produce write
produce
I
am a boy
in your words
don’t call my
name in vain
skip the
stone
in the way
III
be changed by
the poets you read
annihilate
the references
a collection
of enumerations
make
literature
without thanking raduan
or adalgisa
make
your
own portrait
as a young
man
find your
ideas
starting from
in spite of
(remember
her?)
in spite
of
invader
to battle!
what are the
limits
of the text?
original
authors
live in a
political way
create
likewise
invade the
city
invent
put
everything inside
so that you
can breathe
feel and
notice
you
I am putting
inside
the chocolate
of so much
looking
reading
no more
IV
collective
property
I am you
is me we
recognize
ourselves in the words
read and not
said and not read
also
perceive
possession-creation
the
liars
are worthy
of love
god
in latin is
pretender
of the
creation
path
write
everything
with this frantic
hand
write write
the voices
living
in you
in the paper
chaotic wild
this text is
not
mine or yours
this text
belongs
and that’s it
attack
danger rhythm
fearless of
self-criticism
appropriate
the labels
to destroy
them
plagiarist
saboteur
crown your
intimacy
disturb
your peers
don’t let
them
imprisoned
in the last
century
the learning
the
avant-gardes and the tradition
ways of using
your language
forget the
isms
the didactic
division
cross over
be tactical
V
shut
the mouth of
whoever
doesn’t place
himself
in space
make yours
what is
someone
else’s
provoke every
institutional
simulation
way of making
to learn by
doing
your diary
work
manipulate
the history of
strangers
write ours
invent
be author
inventor
the reader
must
recognize your steps
traversed
path
it is
all in the
past
future
tumbles
over it
poetry rubs
itself in things
see?
when you wake
up, see things
as
every thing
thrown around
books newspapers
your love
affair’s
avarice
you can
furrow writing
flow
body is text
is body
emancipate
your writing
let them
bad-mouth you
tomorrow
they will all
be kissing your ass
only debate
your
existence
in the word
read
write
like one who
traverses
the reader
subvert
transform the
medium with the word
transtextual
trans cells
transsexual
a contemporary
exu lodges in the other
past taking
the present
for a
horse-ride
VI
over-reach
yourself
ripen
the
experience
be through
others
don’t cheat
it’s fatal
literature’s
true story
a story of
thieves
experience
infinite
number
the strong
man lives
only
remember the
others
understand
relations of
power
you heard
from an artist made of plastic
it’s all
worthy but not worth
any
thing
black things
are
so beautiful
except for
the horse
drink
ice tea light
with lemon
and ice
lipton with
lots of caffeine
at cafeína
do not
imitate
write
starting
from
fold the
sheet’s line
fold yourself
you know that
paper
can only be
folded
seven times
hm
way of
trying out
the spaces
we are born
with the dead
always
the end is
the means
a new detour
news without
news
literary
journey surrounded by music
listen
it doesn’t
need to quote
it’s not
build
theses to
corrupt them
the text has
senses
not
sense
to make while
reading
language
doesn’t indicate sense
but
possibilities
the words
penetrate you
or not
use every napkin
from the
coffee
with milk and
cornflour biscuit
(compensating
the poor service’s 10%)
to gain
strength with the ideas
think about
time
about our
time
time
time
time
time
silences
incorporated
in writing
oblivion as
learning the written?
invasion by reading
this poem has
no
end
it is the
medium
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