‘Nise – Arqueóloga dos Mares’, de Bernardo Carneiro Horta, é o livro que estou lendo para realizar a próxima entrevista do CLICK(IN)VERSOS. Não se trata de uma biografia, mas um ‘biografema’ da psiquiatra Nise da Siveira. Bernardo usou as palavras do escritor francês Roland Barthes para convencer a ‘dama do inconsciente’ sobre o livro.
O biografema nunca é uma verdade objetiva, ele nada mais é do que uma anamnese factícia – o que empresto ao autor que amo. A biografemática, ciência do biografema, teria como objetivo pormenores isolados da vida da vida da gente. Essa biografia fragmentada diferiria da biografia-destino, onde tudo se liga tentando fazer sentido. O biografema é o detalhe aparentemente insignificante, fosco – a narrativa e a personagem no grau zero, meras virtualidades de significação. Por seu aspecto sensual, o biografema convida o leitor a fantasiar, a compor, com estes fragmentos, um outro texto, que é, ao mesmo tempo, do autor amado e dele mesmo, o leitor.
O autor teve o privilégio de conviver com Nise da Silveira durante os últimos anos de vida, no Grupo de Estudos C.G.Jung. O resultado é um livro especial sobre a brasileira que mudou a história da psiquiatria no Brasil. Leia esse trecho:
Certa vez, ao ver alunos de psicologia manuseando e comentando livros sobre o tema, Dra. Nise disparou:
“Rasguem os manuais de psiquiatria! Leiam Machado de Assis. Seria mais proveitoso trocar certos tratados de psiquiatria pelos livros deste que é o maior escritor brasileiro de todos os tempos, primeiro grande mestre de psicologia. Suas obras analisam com mais profundidade a alma humana. Quem quiser aprender psicologia, pra valer, deve ler Machado. Não houve melhor psicólogo, no mundo. Ele rivaliza com Willian Shakespeare, que também era escritor – ambos saíram-se grandes autores de psicologia. Vocês concordam? Em Hamlet, o personagem de Shakespeare parece estar desvairado, fora de si. Todos acham que está louco. Então há uma resposta à altura: ‘Desvario sim, mas tem seu método!’ Todo delírio tem um sentido, e cabe ao psiquiatra e ao psicólogo apurá-lo com a visão, olfato e sensibilidade afiados para compreender que método é este. Não é a toa que Machado de Assis cita Hamlet em sua obra”.
“Rasguem os manuais de psiquiatria! Leiam Machado de Assis. Seria mais proveitoso trocar certos tratados de psiquiatria pelos livros deste que é o maior escritor brasileiro de todos os tempos, primeiro grande mestre de psicologia. Suas obras analisam com mais profundidade a alma humana. Quem quiser aprender psicologia, pra valer, deve ler Machado. Não houve melhor psicólogo, no mundo. Ele rivaliza com Willian Shakespeare, que também era escritor – ambos saíram-se grandes autores de psicologia. Vocês concordam? Em Hamlet, o personagem de Shakespeare parece estar desvairado, fora de si. Todos acham que está louco. Então há uma resposta à altura: ‘Desvario sim, mas tem seu método!’ Todo delírio tem um sentido, e cabe ao psiquiatra e ao psicólogo apurá-lo com a visão, olfato e sensibilidade afiados para compreender que método é este. Não é a toa que Machado de Assis cita Hamlet em sua obra”.
Além de recomendar a leitura do Bruxo do Cosme Velho e do Bardo, a Dra. também indicava obras de Dostoieviski e Marcel Proust.
"Seria muito vantajoso que o estudante trocasse vários de seus manuais de psicologia por ‘Em busca do tempo perdido’. Por favor, não me venham com jargões psiquiátricos! Isso é o Grupo de Estudos C.G.Jung. Um grupo de respeito!”, dizia.
"Seria muito vantajoso que o estudante trocasse vários de seus manuais de psicologia por ‘Em busca do tempo perdido’. Por favor, não me venham com jargões psiquiátricos! Isso é o Grupo de Estudos C.G.Jung. Um grupo de respeito!”, dizia.
2 comentários:
um lindo livro sobre uma linda mulher...
o blog tá bacana.
bjo
Engraçado...um dos melhores professores da Gama falou para largarmos os manuais e lermos literatura...acho que ele andou contactando a Nise!
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