terça-feira, maio 18, 2010
OLHOS AZUIS
segunda-feira, maio 17, 2010
domingo, maio 16, 2010
sábado, maio 15, 2010
FICÇÕES
quarta-feira, maio 12, 2010
POETAS
Leonardo Gandolfi, querido amigo, herança que recebi de Rodrigo de Souza Leão, me presenteou com um pequeno livro do poeta paulista Horácio Costa. Trata-se uma plaquete com seis poemas, de edição limitada, publicado por Virna Teixeira através do Selo Arqueiro Verde. Chama-se Quando o meu generoso coração falhar. Leia um dos poemas:
ASSISTINDO UM ESPECIAL SOBRE LEONARDO COHEN NUMA SAUNA GAY EM IPANEMA
O televisor de plasma tem mais de trinta polegadas
E fica quase debaixo da escada pela qual incessantemente
Sobem e descem homens de todas as idades enrolados em suas
toalhas.
Interessam-se ao ver-me plugado ao que acontece no vídeo:
Nunca soube que o Leonardo Cohen, now aged 75,
Tinha tantos admiradores entre os mais jovens.
Bono Vox, Rufus Wainwright, o pessoal da pesada
Da música de língua inglesa dos oitenta e noventa
E mesmo jovens ainda mais jovens, um certo Antony
Que canta como um metrossexual,
Alternam-se neste especial montado, ao que parece,
Em Sydney, Austrália
Observam-se e seguem subindo e descendo os degraus,
E nas quase duas horas que levo assistindo o especial
Nenhum dos coroas ou dos jovens que sobem e que descem
De fato parou, o que se chama parar, para de fato entender
Qual a razão que tão atentamente me traz transfixado
A este programa que para eles deve parecer
Pelo menos bizarro. Ninguém vai a uma sauna gay
Para assistir com firmeza um especial
Sobre Leonardo Cohen
Não posso evitar os olhares de espanto nem quero
Deixar de assistir o programa. Se os mais jovens
Ao menos me perguntassem sobre a minha escolha.
Se os mais velhos tivessem o mesmo repertório
E soubessem o que Leonardo Cohen significou
Para a minha geração e o mundo ou a deles.
Mas não.
A uma sauna gay se vai por sexo, dizem esses
Ressabiados olhares. Não queira inventar moda.
Ninguém está aqui para saber de mais nada.
Pare com o teu programa, e mande botar de novo
Algum filme pornô, que todo mundo entende
E não tem blá-blá-blá em inglês australiano
Nem poemas cantados.
Mas não me desligo da tela, estou cativado,
Até que no último número o septuagenário
De Montreal, com pele manchada e cabelos
Grisalhos e vestindo Zegna ou Armani,
Canta com uma voz mais do que sensual
Com grupo U2 um poema de amor e de
Autoconhecimento, com arriscadas, perfeitas
Rimas internas, e um olhar que perfura o plasma
Do televisor.
Horácio Costa - RJ/SP, 16 II 09
101, HISTÓRIAS

Valéria Martins é jornalista e autora dos livros Mr. Page e os sonhos (Mojo Books, 2009) e Encontros com Deus – 21 personalidades narram sua busca espiritual (Mauad Editora, 1997), entre outros. Mantém o blog A Pausa do Tempo –www.pausadotempo.blogspot.com
terça-feira, maio 11, 2010
ELA NÃO QUERIA FALAR SOBRE O KENTUCKY
Contos de Mary Blaigdfield — A mulher que não queria falar sobre o Kentucky é o primeiro livro de prosa de Lucas Viriato de Medeiros. A estréia do poeta na ficção comprova um fato: sua escrita é marcada pelo movimento. Neste livro, o autor acompanha as viagens de seus personagens, mesmo quando eles não saem do lugar.
Um simples feixe de luz, entrando por uma porta de vidro, pode ser o ponto de partida para um caleidoscópio de emoções. “Prismas que captam luz e a jogam em todas as direções.” Impossível é não acompanhar a trajetória de uma protagonista misteriosa, de nome estranho: “Ela é Mary Blaigdfield e ela não quer falar sobre o Kentucky.” Não se preocupem, Mary não precisa falar sobre suas angústias. Os outros personagens falam por ela: “Eu sei! Crupac! Eu sei o que você fez no Kentucky! Crupac! Crupac!”
Podemos ler esse livro como um romance, degustando-o lentamente. Cada um dos contos, mesmo com suas histórias independentes, constrói o universo de Mary Blaigdfield, mulher que se animaliza diante de uma simples suspeita sobre a descoberta de seu passado. Sem dúvidas, uma mulher tão instigante como as outras personagens do livro. Em muitos dos contos, as personas femininas são os catalisadores das histórias, como Lúcia, de ‘Faxina Geral’, que nos faz enxergar que “as flores do jardim eram outras”.
As 13 histórias sintetizam a intensidade da prosa de Lucas Viriato. “Porém, a vida não é feita de possibilidades.” É justamente a impossibilidade de cada personagem, a falta de diálogo, a estranheza diante da vida que transformam a narrativa de um cotidiano sem graça numa história que merece ser lida. O autor mantém um estilo de escrita ousado, sem a pretensão de escrever numa linguagem nova.
No conto ‘Amor de Armário’, um dos melhores do livro, seres inanimados são humanizados através da história de amor entre uma caixa de cereal e de uvas-passas. Lucas Viriato segue a cartilha do poeta Manoel de Barros: As coisas não querem mais ser vistas por pessoas razoáveis — elas desejam ser olhadas de azul. Essa lente poética (cor de mendolatium?) na narrativa prende o leitor, que é levado a mergulhar “nas experiências pessoais, memórias de supermercado, naquela vida de prateleira.”
Em ‘Uma Aventura no Alto do Himalaia’ — releitura contemporânea do monstro das neves, o Grande Vuitton — encontramos a herança do autor: o Oriente. Entendemos que não há para onde fugir — mesmo em movimento, retornamos ao começo. “Ela é Mary Blaigdfield...” Na prosa de Lucas Viriato “muitas coisas resistem”, a lembrança dessas histórias é uma delas.
Ramon Mello