quarta-feira, dezembro 29, 2010

CIRCO

chica, eu e meu irmão renato.

sexta-feira, dezembro 24, 2010

quinta-feira, dezembro 23, 2010

muitas alegrias por vir!



segunda-feira, dezembro 20, 2010

sábado, dezembro 11, 2010



[via little lody]

sexta-feira, dezembro 10, 2010

quarta-feira, dezembro 08, 2010

terça-feira, dezembro 07, 2010

0

leia a entrevista com adélia prado na íntegra, aqui!

segunda-feira, dezembro 06, 2010

VIOLÊNCIA CONTRA HOMOSSEXUAIS



Drauzio Varella

A HOMOSSEXUALIDADE é uma ilha cercada de ignorância por todos os lados. Nesse sentido, não existe aspecto do comportamento humano que se lhe compare.

Não há descrição de civilização alguma, de qualquer época, que não faça referência a mulheres e a homens homossexuais. Apesar de tal constatação, esse comportamento ainda é chamado de antinatural.

Os que assim o julgam partem do princípio de que a natureza (leia-se Deus) criou os órgãos sexuais para a procriação; portanto, qualquer relacionamento que não envolva pênis e vagina vai contra ela (ou Ele).

Se partirmos de princípio tão frágil, como justificar a prática de sexo anal entre heterossexuais? E o sexo oral? E o beijo na boca? Deus não teria criado a boca para comer e a língua para articular palavras?

Se a homossexualidade fosse apenas uma perversão humana, não seria encontrada em outros animais. Desde o início do século 20, no entanto, ela tem sido descrita em grande variedade de invertebrados e em vertebrados, como répteis, pássaros e mamíferos.

Em alguma fase da vida de virtualmente todas as espécies de pássaros, ocorrem interações homossexuais que, pelo menos entre os machos, ocasionalmente terminam em orgasmo e ejaculação.

Comportamento homossexual foi documentado em fêmeas e machos de ao menos 71 espécies de mamíferos, incluindo ratos, camundongos, hamsters, cobaias, coelhos, porcos-espinhos, cães, gatos, cabritos, gado, porcos, antílopes, carneiros, macacos e até leões, os reis da selva.

A homossexualidade entre primatas não humanos está fartamente documentada na literatura científica. Já em 1914, Hamilton publicou no "Journal of Animal Behaviour" um estudo sobre as tendências sexuais em macacos e babuínos, no qual descreveu intercursos com contato vaginal entre as fêmeas e penetração anal entre os machos dessas espécies. Em 1917, Kempf relatou observações semelhantes.

Masturbação mútua e penetração anal estão no repertório sexual de todos os primatas já estudados, inclusive bonobos e chimpanzés, nossos parentes mais próximos.

Considerar contra a natureza as práticas homossexuais da espécie humana é ignorar todo o conhecimento adquirido pelos etologistas em mais de um século de pesquisas.

Os que se sentem pessoalmente ofendidos pela existência de homossexuais talvez imaginem que eles escolheram pertencer a essa minoria por mero capricho. Quer dizer, num belo dia, pensaram: eu poderia ser heterossexual, mas, como sou sem-vergonha, prefiro me relacionar com pessoas do mesmo sexo.

Não sejamos ridículos; quem escolheria a homossexualidade se pudesse ser como a maioria dominante? Se a vida já é dura para os heterossexuais, imagine para os outros.

A sexualidade não admite opções, simplesmente se impõe. Podemos controlar nosso comportamento; o desejo, jamais. O desejo brota da alma humana, indomável como a água que despenca da cachoeira.

Mais antiga do que a roda, a homossexualidade é tão legítima e inevitável quanto a heterossexualidade. Reprimi-la é ato de violência que deve ser punido de forma exemplar, como alguns países o fazem com o racismo.

Os que se sentem ultrajados pela presença de homossexuais que procurem no âmago das próprias inclinações sexuais as razões para justificar o ultraje. Ao contrário dos conturbados e inseguros, mulheres e homens em paz com a sexualidade pessoal aceitam a alheia com respeito e naturalidade.

Negar a pessoas do mesmo sexo permissão para viverem em uniões estáveis com os mesmos direitos das uniões heterossexuais é uma imposição abusiva que vai contra os princípios mais elementares de justiça social.

Os pastores de almas que se opõem ao casamento entre homossexuais têm o direito de recomendar a seus rebanhos que não o façam, mas não podem ser nazistas a ponto de pretender impor sua vontade aos mais esclarecidos.

Afinal, caro leitor, a menos que suas noites sejam atormentadas por fantasias sexuais inconfessáveis, que diferença faz se a colega de escritório é apaixonada por uma mulher? Se o vizinho dorme com outro homem? Se, ao morrer, o apartamento dele será herdado por um sobrinho ou pelo companheiro com quem viveu por 30 anos?

[Ilustrada, Folha de São Paulo, 4 de dezembro de 2010]

ALEXANDRE IVO

sexta-feira, dezembro 03, 2010

NO MEIO DO CAMINHO



Em comemoração aos 40 anos do poema “No meio do caminho”, de Carlos Drummond de Andrade, o Instituto Moreira Salles publicou o livro Uma pedra no meio do caminho – Biografia de um poema, seleção com o que foi dito sobre os famosos versos, organizado pelo poeta Eucanaã Ferraz.

Por ocasião do lançamento, o IMS produziu esse vídeo com a leitura de “No meio do caminho” em vários idiomas. Leituras por Heloisa Jahn (dinamarquês), Sidney Calheiros (latim), Davi Arrigucci Jr. (italiano) , Jana Binder (alemão), Laura Hosiasson (espanhol), Pieter Tjabbes (holandês), Jean Claude Bernardet (francês), Paulo Schiller e Mariana Schiller (húngaro), Yael Steiner (hebraico), Matthew Shirts (ingles), Carlos Papa (tupi) e Eucanaã Ferraz (português).

THINGS

quarta-feira, dezembro 01, 2010

7 NOVOS

em momentos distintos:

Augusto Guimaraens Cavalcanti

o poeta lança 'os tigres cravaram as garras no horizonte', ao lado de ana salek com
'dezembro'. dia 1 de dezembro, quarta-feira, no astro bar do planetário da gávea


Domingos Guimaraens

o poeta e artista plástico lança a exposição 'risco'. dia 2 de dezembro, quinta-feira, no espaço cultural sérgio porto



Mariano Marovatto

o poeta e músico lança o disco 'aquele amor nem me fale' + compacto 'teu/nunca'+ clip




terça-feira, novembro 30, 2010

SOBRE COLHEITAS

o amor é um fruto ácido? melhor com álcool.


lourdes alves, cordelista recifense, colheu esse limão enamorado no quintal de casa, em junho de 2009.

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sexta-feira, novembro 26, 2010

TEMPO

"Sêneca nos ensina que temos que agir sabendo que vamos morrer. Quando se está consciente da morte, distingue-se o essencial do acessório. A consciência da morte muda o modo como utilizamos o tempo. Muda a forma como vivemos. Carta a Lucílio são cartas de Sêneca a um aprendiz. A primeira carta fala precisamente do tempo. O aprendiz reclama da falta de tempo. Sêneca diz a ele: 'Ao invés de se queixar da falta de tempo, vais ver o que é essencial e o que é acessório. E no dia seguinte fazes somente o que é essencial. E assim verás: tens tempo'. "

Gonçalo M. Tavares

['Máquina de escrever', Segundo Caderno, O Globo, entrevista realizada por Karla Monteiro - 25/11/10]


quinta-feira, novembro 25, 2010

GEOGRAFIAS IMAGINÁRIAS


[clique na imagem para ampliar]

GEOGRAFIAS IMAGINÁRIAS, DE MAURO FAINGUELERNT

Abertura: 25 de novembro de 2010, 19h às 22h

Exposição: 26 de novembro de 2010 a 26 de fevereiro de 2011

De terça a sábado, 11h às 19h

Galeria Tempo
Avenida Atlântica 1782, Loja E - Copacabana
Rio de Janeiro

quarta-feira, novembro 24, 2010

LEANDRO JARDIM

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O poeta Leandro Jardim convida para o lançamento do seu livro 'Os poemas que não gostamos de nossos poetas preferidos' (Selo Orpheu/Editora Multifoco), no dia 2 de dezembro, às 19h, no Espaço Multifoco.


Espaço Multifoco
Rua Mem de Sá, 126 - Lapa

SIMONE MAGNO

[clique na imagem para ampliar]

A escritora e jornalista Simone Magno convida para o lançamento do seu livro 'A lua depois do gravador' (Grua Livros) no dia 29 de novembro, às 19h, na Blooks Livraria.

Blooks Livraria
Praia de Botafogo, 316
[dentro do Arteplex Unibanco]

"Os encontros e desencontros são os fios que amarram as narrativas curtas de amor de A lua depois do gravador – histórias de você e ele. Um amor contemporâneo, pop, urbano. Simone Magno percorre os sentimentos em relação ao outro, sentimentos nem sempre nítidos, não apenas para o objeto, como também para o sujeito que sente. Sujeito e objeto se confundem no amor vivido pelas personagens. Uma cantada num lobby do hotel, numa reunião de trabalho, acaba num café da manhã no dia seguinte, e este fim, num momento de silêncio, é percebido como o começo de tudo. Um amor por vezes efêmero, por vezes perene. A festa em que o namorado apresenta a você um amigo estrangeiro, cineasta, e as suas memórias estão ainda em carne viva, e os três ficam sem graça até o namorado cair em si e desviar o olhar. Um amor por vezes gritado, por vezes silencioso. A entrevista exclusiva que ele concede à jornalista. E depois do gravador desligado, a carícia, a lua. E depois da lua, o Rio de Janeiro, porque ele se casa e não é com você. Um amor por vezes delicado, por vezes louco. O perfume recebido de presente por engano: você achou forte demais, agradeceu dizendo que gostou, mas não era para você, era para Iemanjá. Um amor por vezes desencontrado. E quando você encontra o amor, despeja o líquido no mar; a Iemanjá o que lhe era de direito. Um amor, em todas as suas faces, sempre intenso."


"Será que também da festa universal da morte,
da perniciosa febre que ao nosso redor
inflama o céu desta noite chuvosa,
surgirá, um dia, o amor?"

Thomas Mann, 'A Montanha Mágica'

[epígrafe do livro 'O macaco ornamental', de Luís Henrique Pellanda]

sábado, novembro 20, 2010

"força é mudares de vida"

‎['torso arcaico de apolo', r.m. rilke - trad. manuel bandeira]

LA QUESTION

alegria é encontrar o vinil 'la question', de françoise hardy, a preço de banana num sebo em copacabana





Composição: Françoise Hardy - Música: Tuca - [1971]

La question
Je ne sais pas qui tu peux être
Je ne sais pas qui tu espères

Je cherche toujours à te connaître
Et ton silence trouble mon silence

Je ne sais pas d'où vient le mensonge
Est-ce de ta voix qui se tait

Les mondes où malgré moi je plonge
Sont comme un tunnel qui m'effraie

De ta distance à la mienne
On se perd bien trop souvent

Et chercher à te comprendre
C'est courir après le vent

Je ne sais pas pourquoi je reste
Dans une mer où je me noie

Je ne sais pas pourquoi je reste
Dans un air qui m'étouffera

Tu es le sang de ma blessure
Tu es le feu de ma brûlure
Tu es ma question sans réponse
Mon cri muet et mon silence.


A Questão
Eu não sei o que você pode ser
Eu não sei o que você espera

Procuro sempre te conhecer
E seu silêncio perturba meu silêncio

Eu não sei da onde vem a mentira
É de tua voz que se cala

Os mundos onde, contudo eu mergulho
São como um túnel que me assusta

De sua distância em relação à mim
Se perde sempre muitas vezes

E procurar te entender
É como correr atrás do vento

Eu não sei por que eu fico
Em um mar onde eu me afogo

Eu não sei por que eu fico
em um ar que me sufoca

Você é o sangue da minha ferida
Você é o fogo da minha queimadura
Você é minha pergunta sem resposta
Meu grito mudo e meu silêncio...

[tradução: saki, letras terra]

segunda-feira, novembro 15, 2010

[clique na imagem para ampliar]



>>> TERÇAS LITERÁRIAS, GERAÇÃO 00
Dia 16 de novembro, terça-feira, 19h
Autores: Cecilia Giannetti e Ramon Mello
Mediação: Beatriz Rezende
Casa da Leitura da Biblioteca Nacional
Rua Pereira da Silva, 86, Laranjeiras

quinta-feira, novembro 11, 2010

DESARMADO E PERIGOSO



é verdade
roubo beijo
mato saudade


['ninguém muda ninguém', livro de poemas de andré dahmer]

quarta-feira, novembro 10, 2010

terça-feira, novembro 09, 2010

BETHÂNIA E OS SAPOS DE BANDEIRA




Os Sapos - Manuel Bandeira

Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.

Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
- "Meu pai foi à guerra!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".

O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado.

Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.

O meu verso é bom
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.

Vai por cinquüenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A fôrmas a forma.

Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas..."

Urra o sapo-boi:
- "Meu pai foi rei!"- "Foi!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".

Brada em um assomo
O sapo-tanoeiro:
- A grande arte é como
Lavor de joalheiro.

Ou bem de estatuário.
Tudo quanto é belo,
Tudo quanto é vário,
Canta no martelo".

Outros, sapos-pipas
(Um mal em si cabe),
Falam pelas tripas,
- "Sei!" - "Não sabe!" - "Sabe!".

Longe dessa grita,
Lá onde mais densa
A noite infinita
Veste a sombra imensa;

Lá, fugido ao mundo,
Sem glória, sem fé,
No perau profundo
E solitário, é

Que soluças tu,
Transido de frio,
Sapo-cururu
Da beira do rio...

segunda-feira, novembro 08, 2010

domingo, novembro 07, 2010



Quand je marche
Juien Bensé

Une fois la, porte ouverte
Une fois mes oreilles couvertes
Par le bruit des chansons
Je m’aventure, au dehors
Je ne pense même plus à mes morts
Je souris, j’ai l’air con
Le vent de Paris me caresse
Je suis en vie, je suis heureux
Est-ce car je suis amoureux
J’oublie le monde de sa misère
La maladie qui gronde, les guerres
Soudain je me sens mieux
Quand je marche dans mes rues
Quand je marche, je marche plus
Qu’au pas de mes chansons
Les gens me prennent pour un fou
Me regardent chanter seul je m’en fous
Pour un instant je les aime
J’ai même envie de faire l’amour
A toutes ces filles qui courent
Mon amour ai-je un problème
Quand je marche dans mes rues
Quand je marche, je marche plus
Qu’au pas de mes chansons
Quand je marche dans mes rues
Quand je marche, je marche plus
Qu’au pas
Quand je marche dans mes rues
Quand je marche, je marche plus
Qu’au pas de mes chansons

quinta-feira, novembro 04, 2010

RSL

hoje, 4 de novembro, rodrigo de souza leão faria 45 anos, luz.


foto: antônio leão


EU.

Morri sem conhecer Rodrigo
Há quem diga que ele
Olhava muito o próprio umbigo

Mas não é isso não
Tinha fome de Leão
Queria tudo agora

Foi
Chegada a hora

[Rodrigo de Souza Leão]

quarta-feira, novembro 03, 2010

"agora que nos vimos, disse o unicórnio para alice, se você acreditar em mim eu acredito em você", lewis carroll


[citação encontrada no livro 'como esquecer', de myriam campello, adaptado para o cinema por malu de martino]

terça-feira, novembro 02, 2010

+ CONVITES, LITERATURA



POESIA NO SESI

>>> HOMENAGEM A FERNANDO PESSOA

Dia 10 de novembro, quarta-feira, ao meio-dia
Participarei do evento 'Poesia no Sesi', organizado por Claufe Rodrigues e Mônica Montone. Ao lado de Alexey Bueno, vou ler poemas de Fernando Pessoa, o poeta homenageado.


PAIXÃO DE LER, SESC RIO

>>> ENTER A POESIA WWW

Roda de conversa e apresentação do projeto ENTER - Antologia Digital (idealização e curadoria de Heloísa Buarque de Hollanda). Pensar a literatura hospedada na internet e sua lógica de percepção.

Dia 10 de novembro, quarta-feira, às 15h.
Poetas: Ramon Mello (mediador), Alice Sant'anna e Ismar Tirelli Netto
Sesc Tijuca – Rua Barão de Mesquita, 539 Tel.: (21) 3238-2164

Dia 11 de novembro, quinta-feira, às 15h.
Poetas: Diana de Hollanda (mediadora), Maria Rezende e Omar Salomão
Sesc Madureira – Rua Ewbanck da Câmara, 90 Tel.: (21) 3350-7744


>>> PERCURSOS DA POESIA

Tendências e transformações da poesia brasileira nas últimas décadas. Roda de conversa com dois poetas e mediação de um pesquisador para debater questões sobre percepções e leituras sobre a poesia, construção poética, referências relevantes para a compreensão do momento presente.

Dia 11 de novembro, quinta-feira, às 15h.
Poetas: Ericson Pires e Ramon Mello
Mediação: Júlio Diniz
Sesc São João de Meriti – Av. Automóvel Clube, 66. Tel.: (21) 2755-7070.

Dia 12 de novembro, sexta-feira, às 15h.
Poetas: Paulo Henriques Britto e Ramon Mello
Mediação: Júlio Diniz
Sesc Madureira – Rua Ewbanck da Câmara, 90 Tel.: (21) 3350-7744


PANORAMA JARAGUÁ: LITERATURA

>>>LIVRO: CRÍTICA E DIVULGAÇÃO

Dia 14 de novembro, domingo, 18h30
Autores/Jornalistas: Marcelo Moutinho, Luís Henrique Pellanda e Ramon Mello
Sesc Jaraguá do Sul - Santa Catarina - Rua Jorge Czerniewicz, 633
Evento organizado por Carlos Henrique Schroeder e Loreno Hagendorn
Programação completa, AQUI!


CASA DA LEITURA, BIBLIOTECA NACIONAL

>>> TERÇAS LITERÁRIAS, GERAÇÃO 00
Dia 16 de novembro, terça-feira, 19
h
Autores: Cecilia Giannetti e Ramon Mello
Mediação: Beatriz Resende
Rua Pereira da Silva, 86, Laranjeiras
Programação completa, AQUI!

GULLAR NA PRIMAVERA DOS LIVROS



Flávia Muniz fez a gentileza de registrar a conversa com o poeta Ferreira Gullar:






Fotos: Vitor Vogel



domingo, outubro 31, 2010

ONDE ESTÁ O AUTOR?

Criação coletiva na nova era

Artistas mostram como improvisações podem ganhar visibilidade mundial ao misturar tags e links

Por Ramon Mello

Uma obra pode nascer de uma criação coletiva? Sim. Nas artes, em especial no teatro, a expressão "criação coletiva" é bastante conhecida. Inúmeros grupos de artistas - Asdrúbal Trouxe o Trombone, O Teatro do Ornitorrinco, Mambembe, Ventoforte - já provaram que a construção de uma obra a partir do grupo, através de um processo improvisado, pode ser muito bem realizada quando se tem pesquisa e repertório consistentes.

A extensão desse conceito pode ser vivenciada na web, para além dos limites territoriais, em outras áreas artísticas como a música e a literatura. Em tempos de Web 2.0, os músicos não têm se limitado a compartilhar vídeos ou baixar músicas na rede. Mesmo a criação não sendo propriamente uma novidade, o Control C + Control V pode colaborar e muito na recriação de um trabalho artístico.

O autor de um projeto original pode ganhar uma visibilidade mundial em poucos dias, ao se misturar entre tags e links. O músico israelense Kutiman, de 27 anos, por exemplo, era pouquíssimo conhecido até que no começo desse ano disponibilizou sua ideia na rede.

Kutiman criou o projeto Thru You e ficou famoso como "o homem que entortou o YouTube". Ele combinou trechos de sons e imagens desconhecidos, criando assim músicas inéditas, como um jazzista a improvisar. Suas experimentações são cultuadas por especialistas do universo musical como verdadeiras obras primas.

Há poucos dias foi a vez do músico Andy Rehfeldt, que ganhou fama por transformar toda a música e manter a característica dos artistas: o metal vira música da Disney e o pop vira metal. Um dos vídeos mais conhecidos é Enter Sandman (Metalica) apresentado em smooth jazz.

Para o compositor e cantor Dimitri BR, autor do projeto Diahum, que consiste em publicar online uma videocanção original, a cada dia primeiro do mês, o trabalho de Kutiman pode ser considerado autoral. O que coloca em pauta a discussão a expressão artística autoral.

"O Kutiman está tocando a internet, utilizando elementos que já existem como instrumento musical. A imagem é determinada pelo som, o que aparece é consequência do som que se quer ouvir. Eu considero o trabalho do Kutiman autoral, embora as influências estejam explícitas. As colaborações estão presentes, é inegável, mas o DJ é o autor. O imbróglio é comercialização. Como pagar os samplers? É a questão. Mas o crédito é indispensável, pois a divulgação é grande moeda de troca", afirma Dimitri, que disponibiliza seu trabalho, Música Sólida, para download na internet através do Pay with a Tweet - site que permite o usuário baixar vídeos, músicas inéditas e e-books, "pagando" ao artista através da divulgação do seu trabalho em comunidades virtuais como o Twitter.

Em território tupiniquim, o músico João Brasil criou o blog 365 Mashups, um projeto em que reúne mashup diferente por dia desde o primeiro dia de janeiro de 2010, faz mistura satíricas de Steve Jobs com Lady Gaga, Beatles com Funk e Tessália com Glen Gould. Há dois anos, até mesmo o carioca Marcelo Camelo, ex-Los Hermanos, se encantou com esquizofrenia audiovisual da internet e inventou fazer colagens com pedaços de vídeos do YouTube. O projeto, intitulado Orquestra YouTube, foi tomado como experiências de e-music e levado para o palco.

Assim, misturando o acorde de um guitarrista brasileiro, o vocal de um músico inglês e alguns samplers de diferentes canções, temos um mashup - expressão cunhada a partir de remixagens musicais, também conhecidas como bastard pop ou bootlegs. A cultura do mashup já foi apropriada pela música contemporânea, marcada pelo caos e fragmentação, mas há quem defenda que literatura é pioneira nessa "brincadeira".

"Dá pra dizer, por exemplo, que a técnica literária dos “cut-ups”, que utiliza fragmentos de frases, versos e outros textos, e que foi largamente usada por autores tão diferentes como William Burroughs, T. S. Eliot e Julio Cortázar (em especial, no seu O Jogo da Amarelinha), foi uma precursora dos mashups.", defende o escritor e jornalista Alexandre Inagaki no artigo 'É misturando que a gente se (des)entende'.

O escritor Leonardo Villa-Forte, o DJ da literatura, realiza com o projeto MixLit um trabalho de seleção e edição de textos, assim como os DJs que adicionam e cruzam instrumentos e músicas em uma única faixa. A mistura diversos autores e estilos pode gerar surpreendentes mash-ups literários.

"O Mix Lit surgiu no fim do ano passado, durante minhas leituras percebi a conexão entre os textos e o caráter político sobre o trabalho do leitor/autor. Neste projeto, sou autor de um remix, de um mashup, busco as palavras nas páginas de outro. A grande questão é a comercialização dessa obra. Há um livro do Flavio Carneiro, O Leitor Fingido, que fala justamente dessa liberdade do leitor. A tradição literária, de uma certa forma, é um grande mashup", diz Villa-Forte que pesquisa e seleciona trechos de diferentes autores, consagrados ou não, para misturar num novo texto, intitulando seu trabalho de "literatura remixada".

Toda essa ideia remixagem lembra a composição Remix Século XXI (1999), de Wally Salomão e Adriana Calcanhotto: "Armar um tabuleiro de palavras-souvenirs. / Apanhe e leve algumas palavras como souvenirs. / Faça você mesmo seu microtabuleiro enquanto jogo linguístico".

Entre o amalgama de tantas vozes, é fácil notar que autoria está em processo de transformação. O semiólogo francês Roland Barthes (1915-1980), autor do polêmico texto A Morte do Autor, entendia o escritor como o imitador de um gesto anterior a ele, nunca original. Assim sendo seu único poder misturar escritas. A questão é entender como preservar os direitos de múltiplos autores.

[Estadão - 31/10/2010]

quinta-feira, outubro 28, 2010

foto: Marcos Dantas

"deus te crie, poeta", Adélia Prado me disse

foto: J. Egberto

>>> para quem não ouviu o cbn na travessa com a adélia prado, AQUI!

REENCONTRANDO ADÉLIA


Adélia está ali na livraria "Travessa" do Leblon/Rio, num auditório apinhado de leitores atentos, respondendo perguntas durante o lançamento de "A duração do dia"(Record). Chegamos meio atrasados, Marina e eu, e ficamos em pé ouvindo. Linda essa Adélia, com esses cabelos brancos, aquele rosto maduro, falando sobre a alucinação que é escrever poesia.

De repente, ela quer citar aquele tradutor de Guimarães Rosa, o nome lhe escapa, eu sopro de onde estou: "Gunter Lorenz" . Ela nos reconhece, abre um sorriso familiar, acolhedor, e diz que recomendou que a uma repórter me perguntasse sobre aquela estória de como a ajudei na publicação de seu primeiro livro. Ela já está cansada de contar isto.

Realmente a repórter me havia telefonado minutos antes, e contei o que já virou folclore: não nos conhecíamos, mas Adélia me enviou seus poemas. Eu li aqueles textos, alguns manuscritos e fiquei maravilhado. Como quando a gente descobre uma pepita de ouro na bateia, ou uma nova estrela no firmamento, telefonei para Drummond e disse: -alvíssaras! surgiu uma poeta em Minas!

A gente sabe que isto não ocorre todo dia. Mineração poética é coisa árdua. E os astrônomos levam tempo para achar algo novo nos céus. E aquela era uma estrela, das grandes. Estava madura. Pronta. Tinha brilho ( ou redação própria).

Quis o destino (e a força de sua poesia) que nossos caminhos se cruzassem. Era eu crítico da "Veja" e resenhei seu primeiro livro ajudando a divulgá-lo além das montanhas. Na verdade, o lançamento do livro no Rio já tinha sido um acontecimento. Além do ex-presidente Juscelino aparecer na noite de autógrafos, também Rubem Braga a recebeu em sua cobertura. E Adélia ali, com sua simplicidade autêntica, imaginem! pedindo autógrafo das celebridades presentes. Ela que em Paraty, há pouco tempo, teve uma fila de 5 horas de leitores ansiando por seu autógrafo.

De outra feita, uma ex-aluna que trabalhava com Roberto Dávila instigou-o a entrevistar Adélia. Ele chamou-me para ajudá-lo. Ela falou aquelas simplicidades que extasiam todo mundo. Pois Fernanda Montenegro, que é mineira, se achou nas palavras dela e me telefonou pedindo para contatá-la. Surgiu então o espetáculo ""Dona Doida".

Aliás, essa estória engraçada: Ziraldo estava em Belo Horizonte no projeto "Encontro Marcado" e implorou a Arakén Távora:-Me leve a Divinópolis, tenho que conhecer Adélia. Ao que Arakén comentou: -Imagine, o Menino Maluquinho quer conhecer Dona Doida!

O que é que a poesia dessa mulher tem?

Leiam as dezenas de teses e não sei quantos ensaios sobre sua obra.

Mas tem algo mais. Agora ela está ali falando aos seus leitores. Diz que é necessário paciência e humildade para merecer um poema. Que um poema não é um artefato racional. Que a obra de arte é melhor que seus autores, pois fala de nossa densa humanidade. E o mistério continua.

Cássia Kiss e Ramon Mello lêem vários de seus poemas. E o mistério continua. Sua fala termina, nos abraçamos, tiramos retrato, forma-se a imensa fila, converso com José- o marido- singularíssima figura.

Vou para casa e leio os poemas, aumentando a duração do dia e da noite.

O artista é aquele que se dá o luxo de ouvir sua voz interior. Há ruídos demais no mundo e a poesia, quando autêntica, recupera nossos elos perdidos. Elos que nem sabíamos existir, mas que vão se compondo no fragmento das palavras até que de repente o sentido emerge.

E poesia é isto, revelação, epifania.

quinta-feira, outubro 21, 2010

XEPA LITERÁRIA


na primavera dos livros, museu da república: todos os livros da língua geral em promoção.

'vinis mofados' a preço de banana!


terça-feira, outubro 19, 2010

POESIA, CONVITES



no dia 23 de outubro, sábado, às 18h30, no museu da república, vou mediar, junto com a escritora suzana vargas, uma conversa com o poeta ferreira gullar.


no dia 25 outubro, segunda-feira, às 19h, na livraria da travessa do shopping leblon, adélia prado vai lançar 'a duração do dia'. haverá um talk show com a poeta, mediado pela jornalista e escritora simone magno. vou ler, com cássia kiss, os novos poemas de adélia.

vamos?

SOBRE FLORES

os lírios gostam de se abrir na madrugada, ao som de um piano

segunda-feira, outubro 18, 2010

IMPRECISO



omar salomão transformou seu novo livro de poemas numa exposição de artes plásticas, 'impreciso'. leia mais, aqui.

sexta-feira, outubro 15, 2010

Philippe Halsman [ Jean Cocteau ] 1948

'BAR DO MIGUEL'

Quando o garçom se materializa

DE BAR EM BAR (78) – Rosa de Ouro

Por Mauro Sta. Cecília

Conheci o jornalista Ramon Mello quando fui entrevistado por ele há uns três anos (por ocasião do lançamento de um livro meu). Logo no início daquele papo, nas primeiras indagações, percebi que ele era também artista num sentido amplo. Depois disso, de fato, ele surgiu com livro de poesia (Vinis mofados), a curadoria da obra do ótimo escritor Rodrigo Souza Leão (morto precocemente), diversas entrevistas com nomes (realmente) de peso e uma peça de teatro (adaptada de uma obra de Souza Leão). Hoje ele é o meu convidado neste boteco de belíssimo nome: Rosa de Ouro.

Quando fui combinar com ele onde iríamos, sugeri uns quatro ou cinco bares. Mas ele devolveu: “Conhece o Rosa de Ouro, no início da Voluntários da Pátria? Adoro aquele lugar barulhento, e tem o melhor garçom do Rio, o Miguel.” Topei no ato, pelos adoráveis motivos alegados (o “lugar barulhento” e, claro, o nome improvável do garçom).

Chego primeiro, por volta de 18:30 h, e o pequeno bar inicia o seu movimento camaleônico para o turno da noite – assim como ocorre, por exemplo, com o Bar Rebouças no Jardim Botânico: durante o dia um pé-sujo normal, de noite um bar descolado. A essa hora ainda consigo pegar uma mesinha de calçada na beirada do bar. A vista é panorâmica pro rush dos automóveis e dos passantes e para as duas outras mesas por enquanto ocupadas do lado de fora, com dois amigos numa e noutra um cara e uma menina, ambas as duplas nos seus 20 e poucos anos.

Enquanto tomo uma primeira Antarctica, eis que chega o poeta Ramon (com seus 26 para baixar consideravelmente a média de idade da mesa), chega inquieto, pede um copo, puxa logo uma cigarrilha e o papo não para mais. A fim de acompanhar nossos pensamentos líquidos (título de um poema dele), me apresenta ao garçom Miguel, que ainda não havia se materializado (muito simpático e totalmente diferente do que eu imaginava). Pedimos mais outra cerveja e uma pizza marguerita, uma das especialidades da casa, levinha, na linha do bom, bonito e barato. Outras opções: iscas de fígado, salsichão, feijão amigo, bolinho de bacalhau. E os pratos: milanesa à parmegiana, estrogonofe, fritada de bacalhau e viradinho à paulista.

Ramon Mello, nascido em Araruama e emancipado aos 16 (desde cedo decidiu que sairia da cidade), veio para o Rio estudar teatro na Escola Martins Pena e acabou fazendo também jornalismo. Em oito anos de Rio, morou em seis lugares diferentes e nesse tempo, a partir de suas entrevistas, conheceu boa parte dos faróis da cultura brasileira. Entrevistou, por exemplo, seus ídolos João Gilberto Noll e Fernanda Montenegro. E mais nomes como Sérgio Britto, Ferreira Gullar, Michel Melamed, Heloísa Buarque de Hollanda e o próprio Rodrigo Souza Leão (de quem se tornou próximo a partir de um único encontro e de quem recebia toda semana uma ligação telefônica, sempre no mesmo dia e horário). Depois de sua morte, recebeu a obra do amigo para cuidar.

Algumas cervejas consumidas, o bar está fervilhando com a calçada apinhada de gente. O movimento do tradicional pé-sujo de bairro cresceu muito em função dos estabelecimentos que se avolumaram ali perto: cinemas, livrarias, pé-limpos e boate. O escritor Ramon, depois de nosso encontro, ainda vai a um lançamento de livros de dois amigos. Ainda pedimos com a saideira uma porção de bolinho de bacalhau, que veio apenas razoável. (Mas acho que ninguém aqui se importa muito.) Para finalizar, pergunto ao meu promissor convidado o que ele tem ouvido ultimamente. Moska e o grupo português Três Marias. O inquieto Ramon é um cara antenado, assim como esse bar Rosa de Ouro (cujo nome foi tirado de um histórico show de Paulinho da Viola e Clementina de Jesus), do bom Miguel. Sim, caro leitor, existe um garçom chamado Miguel. Saúde e até a próxima.

Rosa de Ouro – Rua Voluntários da Pátria 1, lj 11, Botafogo (2527-0565)
e essa tristeza que não passa?

quinta-feira, outubro 14, 2010

"E pensei em quanto eu tive sorte na vida por seguir o conselho do tio Lucho e ter decidido, aos 22 anos, naquela pensão madrilenha da rua do Doutor Castelo, em algum momento de agosto de 1958, que não seria advogado, e sim escritor, e que, desde então, ainda que tivesse de viver com pouco dinheiro, organizaria minha vida de modo que a maior parte do tempo e da energia fossem dedicados à literatura, e que eu só buscaria empregos que me deixassem tempo livre para escrever."

['quartoze minutos de reflexão' com vargas llosa, leia o texto na íntegra no estadão]

terça-feira, outubro 12, 2010

DIZEM QUE SOU LOUCO




Me roubaram uns dias contados (Record, 2010), Rodrigo de Souza Leão

Na passagem dos dias

O livro póstumo de Rodrigo de Souza Leão (1965/2009), “Me roubaram uns dias contados” é um romance com muitos personagens e um só, o próprio autor. Ele costura a narrativa ficcional com situações de seu cotidiano e outras referências ao mundo real. Vida e ficção quase não se distinguem.

Trata-se do quarto livro de Rodrigo de Souza Leão, que também era músico e poeta. O segundo livro, a novela “Todos os cachorros são azuis” (7 Letras, 2008) foi produzido com incentivo do Programa Petrobrás Cultural e um dos 50 finalistas do Prêmio Portugal Telecom. A atual produção faz parte do projeto da Editora Record de edição da obra inédita de Rodrigo. A organização do acervo está a cargo do escritor Ramon Mello.

O autor sofreu um surto psicótico que o levou a aposentadoria precoce aos 23 anos. Desenvolveu o que popularmente se chama síndrome do pânico e ficou sem sair de casa por vinte anos. A loucura é o principal tema de sua obra.

Pouco antes de sua morte, Rodrigo de Souza Leão começou a sair para freqüentar aulas de pintura na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Estava se destacando e sendo incentivado pelo professor e artista plástico João Magalhães, mencionado na nota de abertura do livro. A capa é um dos quadros de Rodrigo. Além destas referências diretas, o livro faz menção ao mergulho nas artes plásticas pelo autor através do personagem “Van Gogh brasileiro”, que não tinha uma orelha, pintou uma série de quarenta quadros em curto espaço de tempo, ganhou o prêmio Nobel da paz e era atazanado por um sósia. Paralelamente, ficou grávido de um extraterrestre e deu a luz a um híbrido que nunca chegou a ver.

A narrativa de Rodrigo aparenta ser totalmente fragmentada, mas não é. Ainda que crie e abandone personagens, divague entre considerações sobre a escrita, vida, loucura, juventude , frustração e dirija-se diretamente ao leitor para confessar que está ali enchendo lingüiça, faz de modo que a narrativa não se perca.

Vários personagens surgem, situações absurdas ocorrem e o leitor as perpassa como quem entra numa enorme construção cheia de cômodos e escadas, abrindo e fechando portas. O que se fragmenta são as diversas histórias, não a narrativa. O autor começa uma para logo perder o fio e iniciar uma outra. Diz que está tentando fazer um romance e que talvez não consiga. No entanto, o texto acaba sendo uma ficção sobre um escritor que tenta escrever um romance e por sofrer abalos psíquicos e “não ter o talento de Proust” não consegue terminar a história que estaria desenvolvendo. E cria outra e mais outra. Surge daí um personagem-narrador, elo de ligação entre as câmaras de suas histórias, ele mesmo transmudando-se em uma série de personagens, porém sempre reconhecível.

Dando ritmo a narrativa com uma freqüência que dá a impressão mesmo de ter sido calculada, são citados trechos de grandes sucessos da música brasileira, facilmente reconhecíveis pela notoriedade. Isso cria um elo com o imaginário do leitor que já tem onde se segurar durante as inúmeras mudanças no texto. A primeira vista aparentam ser fragmentações ou quebras no discurso. Uma leitura mais atenta percebe que não há quebra real e sim passagens sutis, quase imperceptíveis. Podemos encarar estas passagens como portas que ligam uma história a outra, ou transmutações de uma história em outra. O texto possibilita várias leituras.

O autor cita seu primeiro livro em prosa. Amarra sua vida literária dando coerência ao novo trabalho. A voz é a mesma com a diferença de que "Todos os cachorros são azuis" possuía nitidamente começo, meio, fim e apenas uma trama, constituindo-se numa novela. Em "Me roubaram uns dias contados" há várias tramas, situações de conflito e resolução, que ainda que não sejam escritas de forma tradicional, conseguem oferecer a estrutura de um romance tal qual conhecemos.

Outro dado importante na literatura de Rodrigo de Souza Leão reside no fato de que ele aproveita que o leitor de prosa esteja ali para que leia prosa poética ou poemas disfarçados de prosa: “A maioria das pessoas não tem assunto. Eu tenho assunto, mas prefiro ficar calado. Ninguém acredita no que falo. Não sei por que estou falando agora. Falo porque não sou ninguém e não me incomoda ser nada.” Neste aspecto, nos lembra Clarice Lispector que, apesar de não ser poeta, trazia em seus textos uma enorme carga poética e filosófica. Fazia isso através da boca de seus personagens. Entrava em contato direto com o leitor, remetendo-o a questionamentos profundos sobre a linguagem e a existência.

O mesmo ocorre, guardadas as devidas proporções, com o texto de Rodrigo de Souza Leão. Em alguns momentos, a narrativa é apenas um pretexto, uma armadilha, para pegar o leitor que se defronta com poesia. Construções lógicas, alumbramentos do autor são arremessados sem aviso prévio, nas brechas de suas “histórias”, nas pretensas quebras do discurso. Mas se a semelhança com Clarice Lispector se apresenta através da prosa poética na narrativa, o humor e o universo do absurdo de Rodrigo o atira para longe de dela. Não há momentos solenes na narrativa de Rodrigo. Se por acaso alguma frase esbarra neste terreno, é por ínfimos momentos que logo se revezam com deboche e ironia.

Conta-se que o autor, queria escrever um livro de seiscentas páginas, para que ele pudesse ficar em pé sozinho, apoiado em sua base. Não escreveu seiscentas páginas, mas produziu uma arquitetura capaz de dar ao texto a estrutura necessária para se manter de pé até o fim, como um bloco coeso.

[Elaine Pauvolid - JB digital, dia 9 de outubro de 2010]

segunda-feira, outubro 11, 2010

Ode Descontínua e Remota para Flauta e Oboé



II

Porque tu sabes que é de poesia
Minha vida secreta. Tu sabes, Dionísio,
Que a teu lado te amando,
Antes de ser mulher sou inteira poeta.
E que o teu corpo existe porque o meu
Sempre existiu cantando. Meu corpo, Dionísio,
É que move o grande corpo teu.

Ainda que tu me vejas extrema e suplicante
Quando amanhece e me dizes adeus.

[Poema de Hilda Hilst, musicado por Zeca Baleiro, cantado por Veronica Sabino]

sábado, outubro 09, 2010

quarta-feira, outubro 06, 2010

"O que é o poema? Ele é uma flor que não morre. É uma flor que não murcha. Uma flor que não tem perfume e que desabrocha em alguma parte alguma da vida."

Ferreira Gullar

[Revista BRAVO! Outubro/2010, em matéria assinada por João Barile]

terça-feira, outubro 05, 2010

PORTRAIT

eu ramones por jô bilac [05.10.2010 - berlim]

JORNAL DE SERVIÇO




Leitura em diagonal das páginas amarelas

Jornal de Serviço

Adriana Calcanhotto
Composição: Carlos Drummond de Andrade

I
Máquinas de lavar
Máquinas de lixar
Máquinas de furar
Máquinas de curvar
Máquinas de dobrar
Máquinas de engarrafar
Máquinas de empacotar
Máquinas de ensacar
Máquinas de assar
Máquinas de faturamento

II
Champanha por atacado
Artigos orientais
Institutos de beleza
Metais preciosos
Peleterias
Salões para banquetes e festas
Condimentos e molhos
Botões a varejo
Roupas de aluguel
Tântalo

III
Panelas de pressão
Rolos compressores
Sistemas de segurança
Vigilância noturna
Vigilância industrial
Interruptores de circuito
Iscas
Encanadores
Alambrados
Supressão de ruídos

IV
Doenças da pele
Doenças do sangue
Doenças do sexo
Doenças vasculares
Doenças das senhoras
Doenças tropicais
Câncer
Doenças da velhice
Empresas funerárias
Coletores de resíduos

V
Papéis transparentes
Vidro fosco
Gelatina copiativa
Cursinhos
Amortecedores
Resfriamento de ar
Retificadores elétricos
Tesouras mecânicas
Ar comprimido
Cupim

VI
Mourões para cerca
Mudanças de pianos
Relógios de igreja
Borboletas de passagem
Cata-ventos
Cintas abdominais
Produtos de porco
Peles cruas
Peixes ornamentais
Decalcomania

VII
Peritos em exame de documentos
Peritos em imposto de renda
Preparação de papéis de casamento
Representantes de papel e papelão
Detetives particulares
Tira-manchas
Limpa-fossas
Fogos de artifício
Sucos especiais
Ioga

VIII
Anéis de carvão
Anéis de formatura
Purpurina
Cogumelos
Extinção de pêlos
Presentes por atacado
Lantejoulas
Sereias
Souvenirs
Soda cáustica

IX
Retificação de eixos
Varreduras mecânicas
Expurgo de ambientes
Revólver para pintura
Pintores a pistola
Cimento armado
Guinchos
Intérpretes
Refugos
Sebo

sexta-feira, outubro 01, 2010

RIO-HAITI,CIDADE ATRAVESSA


a antologia "brasil-haiti" vai ser lançada nesta sexta-feira no 'cidade atravessa', na livraria da travessa do centro, das 17h30 às 20h. neste livro está meu conto 'o dia em que parei de fumar'.

no evento, leituras de roberto muggiati, simone magno, felipe pena, ronaldo ferrito, talles machado horta, henrique rodrigues, angela dutra-menezes e lúcia bettencourt. além de entrevista com geraldo carneiro e fausto fawcett.

quarta-feira, setembro 29, 2010

DIAMANTE


[Antonio Cicero]

O amor seria fogo ou ar
em movimento, chama ao vento;
e no entanto é tão duro amar
este amor que o seu elemento
deve ser terra: diamante,
já que dura e fura e tortura
e fica tanto mais brilhante
quanto mais se atrita, e fulgura,
ao que parece, para sempre:
e às vezes volta a ser carvão
a rutilar incandescente
onde é mais funda a escuridão;
e volta indecente esplendor
e loucura e tesão e dor.

terça-feira, setembro 28, 2010

HOMENAGEM A ADALGISA NERY


homenagem a poeta Adalgisa Nery (1905-1980) na Fundação Casa de Rui Barbosa, dia 30 de setembro, às 18h. vou mediar a conversa entre Ana Arruda Callado, Dalva Nery e Elizabeth Feldhuzen.

DIGESTÃO


ele ainda está na calçada da voluntários, sob a chuva, com o coração na boca.

sábado, setembro 25, 2010



Agora

[Rosanna Decelso]

agora que você não quer
agora que você não diz que quer eu quero
agora que você diz não
agora que emudeceu seu coração eu falo

falo porque penso
ouço meu silêncio e canto
meu amor imenso
acenando o lenço no porto
sente dor mas não chora
sabe que o amor tem hora
pra chegar e pra partir

agora que você meu bem
agora que você não me quer bem eu quero
agora que você mais nem
me olha como se olhasse alguém eu olho

olho de relance
um filme um romance triste
cena de solidão
meu coração não resiste
sente dor mas não chora
sabe que o amor tem hora
pra chegar e pra partir

quinta-feira, setembro 23, 2010



O site do IMS publica vídeo com imagens de arquivo das famílias de Haruo Ohara e de Hikoma Udihara, um dos pioneiros da imigração japonesa no Paraná.

quarta-feira, setembro 22, 2010

"Um dia, como um dia para toda adolescente, eu senti que amava um homem. Conheci então uma nova paisagem da minha alma. Descobri nesse sentimento um senso de beleza capaz de afugentar todas as sombras acumuladas dentro do meu ser. Pela primeira vez, tive a sensação exata de força e liberdade. Lembro-me que, imantada por ele, eu me integrei totalmente em todas as partículas da vida e da natureza. Subindo os degraus de uma escada de pedra, reparei nas formigas que cruzavam e, com cuidado especial, procurei não esmagá-las com os meus pés. Fitei com uma ternura cuidadosa as plantas, as flores, as andorinhas, que traçavam espaço e a poeira de orvalho caída sobre as folhagens. Aprendi as cores nas luzes das manhãs e nas tonalidades do anoitecer. Eu estava no processo da metamorfose. Em tudo eu encontrava uma duplicidade de sentido. Estava sob a função de reminiscências eternas que atuavam como ligação do divino que surge no humano e com o divino que se entende no universo. Havia um abandono alegre no meu ser acompanhando a causa misteriosa. E, de repente, me senti identificada com a vida. Tive a impressão de que uma grande chuva caíra sobre o mundo, e agora se apresentava lavado, fresco, radiante. Creio que os meus gestos se tornaram harmoniosos, a minha voz era o eco da música das águas cantantes e a minha memória só se recordava das formas perfeitas, para essa nova construção. Foi uma fase de grandeza aguda e espetacular da minha alma. De tudo emanava doçura e leveza compensadoras".

[Trecho do romance autobiográfico A imaginária, publicado em 1957, o sétimo livro de Adalgisa Nery]