segunda-feira, abril 25, 2011

FESTIPOA 2011

Festa Literária de Porto Alegre - FestiPoa

“Evento cultural consolidado na cidade, a Festa Literária de Porto Alegre - FestiPoa Literária acontece anualmente, desde 2008, reunindo escritores, poetas, dramaturgos, tradutores, professores, jornalistas e artistas. Durante onze dias, os convidados se apresentam em painéis, debates, saraus, mesas-redondas, shows, perfomances, mostras de filmes, exposição de artes, lançamentos de livros, leituras e oficinas literárias em livrarias e espaços culturais da cidade.

Em suas três primeiras edições o evento atingiu, a cada ano, um público médio de mil e quinhentas (1.500) pessoas interessadas em arte e literatura, público que vem crescendo gradativamente de uma edição para outra. Em 2010, recebeu o Prêmio Fato Literário, na categoria Projeto Literário, pelo voto do júri popular.

Neste ano, a 4ª edição da FestiPoa vai ocorrer de 28 de abril a 08 de maio e terá diversos nomes de destaque da literatura nacional e, ainda, alguns convidados internacionais. Antonio Cicero, Nelson de Oliveira, Xico Sá, Ramon Mello, Maria Rezende, José Castello, Carlos Nejar, Lúcia Rosa (projeto Dulcinéia Catadora), Paulo Scott, Vitor Ramil, Nicolas Behr, Rogério Pereira (editor do jornal Rascunho), Ademir Assunção (editor, junto com Marcos Losnak e Rodrigo Garcia Lopes, da revista Coyote), Laerte, Carpinejar, Adão Iturrusgarai, Paulo César Pinheiro, Charles Kiefer, Zeca Baleiro e Marcelino Freire são alguns dos nomes confirmados, dentre os quase uma centena de convidados. O evento dedicará momentos da programação ao projeto Portuguesia, idealizado e coordenado pelo poeta Wilmar Silva (MG), que já foi realizado em Portugal, Belo Horizonte e São Paulo. Portuguesia fará parte da FestiPoa e receberá um convidado muito especial, o poeta português Ernesto E. Melo e Castro, que virá à Porto Alegre lançar dois livros.

O escritor João Gilberto Noll é o homenageado da 4ª FestiPoa. Noll abrirá o evento, lendo trechos de seus livros e após conversará com o crítico literário e escritor José Castello.

A programação traz mais de 30 atividades espalhadas pelas livrarias Letras & Cia, Palavraria e Bamboletras, Goethe Institut Porto Alegre, Instituto Estadual do Livro, Casa de Cultura Mario Quintana, OX/Ocidente, Casa de Teatro, Beco, Matita Perê, Pé Palito Bar, Cinebancários, Sala P.F. Gastal e Espaço Cultural Casa dos Bancários.

Dos cursos e oficinas, destacam-se o curso Que é Poesia, com o poeta e ensaísta Antonio Cicero; Literaturas Francófonas das Américas tropicais, ateliê com a educadora e gestora do acervo da biblioteca do Colégio Justin Cateyée Dominique Boisdron; o minicurso Cosmovisão - a literatura encontra a tecnologia, a arte encontra a ciência, com o escritor e Doutor em Letras Nelson de Oliveira; História é pra contar, oficina com a professora, escritora e contadora de histórias Marô Barbieri; Eu era cronista e não sabia, oficina com a escritora e professora doutora em Estudos Literários Eliana Mara Chiossi e Poesia falada, oficina com a poeta maranhense Lúcia Santos. (vide informações de locais, datas e inscrições em anexo).

No segmento de cinema, a 4ª FestiPoa Literária promove mostras de filmes, com entrada franca, em três salas: CineBancários, PF Gastal e Norberto Lubisco (informações em anexo).

Acompanhe a programação completa através do site www.festipoaliteraria.com e do blog http://festipoaliteraria.blogspot.com. Toda a programação do evento tem acesso gratuito. Somente há cobrança de taxa de inscrição para a oficina Poesia falada e para o curso Cosmovisão.

A FestiPoa Literária é produzida pelo jornal Vaia, com a co-produção do coletivo Cabaré do Verbo. O patrocínio cultural do evento é do Sindicato dos Trabalhadores da Justiça Federal RS (Sintrajufe). O evento conta, ainda, com os apoios culturais das livrarias Letras & Cia., Palavraria, Sesc-RS, Instituto Estadual do Livro e Casa de Cultura Mario Quintana."


PROGRAMAÇÃO - FESTIPOA


DIA 28 DE ABRIL, QUINTA-FEIRA

Letras & Cia – Avenida Osvaldo Aranha, 444 – Bom Fim – 51 3225-9944

17h Abertura: João Gilberto Noll lê trechos de seus livros. Após, José Castello conversa com Noll, escritor homenageado da 4ª edição da FestiPoa Literária
19h Homenagem ao coletivo Dulcinéia Catadora. Convidados: Lúcia Rosa e Peterson Marques (Dulcinéia)
19h30 Lançamento de “Ribamar”, de José Castello, com apresentação de Fabrício Carpinejar

Casa de teatro – Rua Garibaldi, 853 – Independência – 51 3029-9292
21h30 Festa em homenagem a João Gilberto Noll e Dulcinéia Catadora

DIA 29 DE ABRIL, SEXTA-FEIRA

Letras & Cia – Avenida Osvaldo Aranha, 444 – Bom Fim – 51 3225-9944
17h30 Mesa Zona de confronto e a literatura de invenção: Antonio Xerxenesky, Paulo Ribeiro e Nelson de Oliveira
19h Mesa Hoburaco grupo de oficina de poesia. Coordenação: Diego Petrarca

Goethe Institut – Rua 24 de Outubro, 112 - 21187800
19h30 Sarau “Rebeldes e aventureiros”, com Biblioteca Goethe Institut e Cirandar.

DIA 30 DE ABRIL, SÁBADO

Praça Alexandre Zachia (bairro Cristal)
Das 09h às 18h A Volta do Povo à Praça: atividades culturais e lançamento do livro Imagens faladas – uma reportagem fotográfica sobre a memória do bairro Cristal: Ponto de Cultura Quilombo do Sopapo, Cirandar, Dulcinéia Catadora, Cidade Poema, Clube de Mães do Cristal, Levante da Juventude e Cabaré do Verbo.

Letras & Cia – Avenida Osvaldo Aranha, 444 – Bom Fim – 51 3225-9944
11h Mesa Matérias e memórias de poesia: Ricardo Silvestrin, Nicolas Behr e Edson Cruz.
Lançamento: “Bagaço da Laranja” (Nicolas Behr)
Lançamento: ‘Musa rara – literatura e adjacências” (www.musarara.com.br), editador por Edson Cruz
14h30 Mesa Políticas públicas para o escritor, o livro, a leitura e a literatura: Fabiano Santos (Ministério da Cultura), Jeferson Assunção (Secretaria de Estado da Cultura) e Ademir Assunção (poeta e editor da Coyote)
16h30 Mesa Uma História da literatura brasileira: Carlos Nejar e Luiz Horácio
Lançamentos: “História da literatura brasileira” e “Viventes” (Carlos Nejar)
18h54 A melhor maneira de dizer tudo em 6 minutos: leitura de poemas com Diego Grando.
19h Mesa Poéticas do conto: Deonísio da Silva, Charles Kiefer e Miguel Sanches Neto
Lançamentos: “Contos reunidos” (Deonísio). “Então você quer ser escritor?” (Miguel) e “Poética do conto” (Kiefer)

DIA 01 DE MAIO, DOMINGO

Palavraria – Rua Vasco da Gama, 165 – Bom Fim – 51 32684260
15h Mesa Poesia no livro, no palco e na web: Horacio Fiebelkorn, Ramon Mello e Ademir Assunção
16h54 A melhor maneira de dizer tudo em 6 minutos: leitura de poemas com Ramon Mello
17h Mesa Poesia hispânica e brasileira em traduções e publicações Virna Teixeira, Douglas Diegues e Cristian De Nápoli
18h24 A melhor maneira de dizer tudo em 6 minutos: leitura de poemas com Cristian De Nápoli
18h30 Mesa Novos autores: realismo na literatura ainda é possível? Vinícius Castro e Daniela Langer. Mediação: Luciana Thomé

Pé Palito Bar – Rua João Alfredo, 577 – Cidade Baixa – 51 9641-4278
20h30 Festa
Lançamentos: coletânea “O Melhor da Festa Volume 3“ e livros de Virna Teixeira, Douglas Diegues, Horacio Fiebelkorn, Cristian De Nápoli, Ademir Assunção.
Entrega do II Prêmio Artistas Gaúchos (um prêmio criado por artistas gaúchos para reconhecer aqueles que fazem pela arte local. Informações: www.artistasgauchos.com.br)
Lançamento da antologia F.E.L (Fora do eixo literário, do coletivo Soma)
Leituras: Ademir Assunção, Horacio Fiebelkorn, Cristian De Nápoli, Douglas Diegues, Lúcia Santos, Virna Teixeira, May Pasquetti e 5XClarice
Show: Coletivo Avalanche

DIA 02 DE MAIO, SEGUNDA-FEIRA

Palavraria – Rua Vasco da Gama, 165 – Bom Fim – 51 32684260
18h30 Mesa Literatura policial: Tailor Diniz, Samir Machado e Paulo Wainberg Mediação: Carlos André Moreira
20h Mesa Cidades inventadas, cidades que inventamos: Carol Bensimon e Daniel Galera. Mediação: Flávio Wild

Casa de Cultura Mario Quintana – Rua dos Andradas, 736 – Centro – 51 3225-9587
20h Teatro Bruno Kiefer Show dos PoETs, com gravação de DVD e abdução de Antonio Cicero

DIA 03 DE MAIO, TERÇA-FEIRA

Letras & Cia – Avenida Osvaldo Aranha, 444 – Bom Fim – 51 3225-9944
18h30 Mesa Adaptações de obras clássicas e a formação de novos leitores: Paula Mastroberti, Caio Riter e Izaura Cabral. Mediação: Daniel Weller
19h54 A melhor maneira de dizer tudo em 6 minutos: leituras do grupo Nos Lemos
20h Palestra-entrevista: “Um outro pastoreio” e as novas formas narrativas: Rodrigo dMart e Índio San. Entrevistador: Augusto Paim

Cinebancários - Rua General Câmara, 424 -Centro – 51 3433-1204
19h Malditos cartunistas: exibição do documentário. Após, debate com Fábio Zimbres, Chiquinha, Daniel Paiva e Daniel Juca (diretores do filme)

Matita Perê Bar -Rua João Alfredo, 626 -Cidade Baixa – 51 3372-4749
21h Mesa Crônica, oficinas de crônica e sarau Santa Sede: Rubem Penz, Sergio Napp e Cláudia Laitano

DIA 04 DE MAIO, QUARTA-FEIRA

Casa de Cultura Mario Quintana – Rua dos Andradas, 736 – Centro – 51 3225-9587
17h30 Galeria Augusto Meyer Mesa e abertura da exposição Design da cultura/cultura do design: Fabriano Rocha, Samir Machado, Flávio Wild e Vitor Mesquita
19h Quintana’s bar (Mezanino) Mesa Literatura nas HQs: Claudio Levitan, Eloar Guazzelli e Carlos Ferreira
20h30 Café dos Cataventos Santa Maria sempre chama para Festa (como e porque festejar um Bloomsday no RS): Aguinaldo Severino, Lu Thomé, Samir Machado e Antonio Xerxenesky

Casa de Teatro – Rua Garibaldi, 853 – Independência – 51 3029-9292
22h Sarau do Bertoldo em homenagem a Antonio Cicero: Bianca Obino, Diego Petrarca, Cris Cubas, Lorenzo Ribas, Andréia Laimer, Ricardo Silvestin e Sidnei Schneider

DIA 05 DE MAIO, QUINTA-FEIRA

Casa de Cultura Mario Quintana – Rua dos Andradas, 736 – Centro – 51 3225-9587
17h Auditório Luis Cosme Mesa Canção e letra de canção: Antonio Cicero, Frank Jorge e Felipe Azevedo (mediação)
18h30 Auditório Luis Cosme Mesa Satolep-São Luís, a literatura e a música de Zeca Baleiro e Vitor Ramil. Mediação: Guto Leite
20h Quintana’s bar (Mezanino) Mostra Artística Cabaré do Verbo: escritores e músicos convidados da FestiPoa Literária. Lançamentos: l’amore no”, de Leonardo Marona, e “Poesia sem pele”, de Lau Siqueira.

DIA 06 DE MAIO, SEXTA-FEIRA

Casa de Cultura Mario Quintana – Rua dos Andradas, 736 – Centro – 51 3225-9587
16h30 Auditório Luis Cosme Portuguesia: apresentação Wilmar Silva
17h Auditório Luis Cosme Portuguesia: E. de Melo e Castro – intervenção e leitura de poemas. Provocador: Luis Serguilha.
Lançamento de “Neo-poemas-pagãos” (E. de Melo e Castro)
18h Auditório Luis Cosme Portuguesia: Guesas livres: Sandro Ornellas, Leonardo Marona e Ronald Augusto
18h30 Auditório Luis Cosme Portuguesia: A Poesia em transe: imaginários de resistência: Reynaldo Bessa, Luis Serguilha, Wilmar Silva. Provocador: Ronald Augusto

OX/Ocidente – Avenida Osvaldo Aranha, 960 – Entrada pela Rua João Teles – Bom Fim - (51) 3312-1347
20h30 às 23h Sexta Básica: leituras e shows: Lima Trindade, Sandro Ornellas, Telma Scherer, Reynaldo Bessa, Marcelo Sahea, Maria Rezende e CasaMadre

DIA 07 DE MAIO, SÁBADO

IEL (Instituto Estadual do Livro) – Rua André Puente, 318 – Indepêndência – 51 3311-7311 – 51 3311-7299
10h30 Mesa Medula de diálogos: Experiências de linguagem & Imaginários de resistência: Sandro Ornellas, Maria Rezende, Telma Scherer e Rodrigo Garcia Lopes
12h Guesas livres: Reynaldo Bessa, Marco de Menezes, Maria Rezende e Telma Scherer
14h30 Lançamento do livro “Koa’e”, de Luis Serguilha, e diálogos com Jane Tutikian e Maria Luiza Berwanger
16h Lançamento da contraantologia “Portuguesia” (org. Wilmar Silva)

Bamboletras – Rua Gal Lima Silva, 776 – Cidade Baixa – 51 3221-8764
15 às 18h Festinha Cidade Poema: Laís Chaffe, Marô Barbieri, Christina Dias, Alexandre Brito, Celso Gutfreind e Sandra Santos

Palavraria – Rua Vasco da Gama, 165 – Bom Fim – 51 32684260
16h30 Mesa A literatura em publicações culturais: Rogério Pereira (jornal Rascunho), Victor Nechi (revista Norte) e Lima Trindade (revista Verbo21)
18h Leitura dramática “Pedrarias” (Roberto Medina): Grupo teatral Ninho de Escorpiões (Andréia Vargas, Cibele Tubino, Daniel Anillo, Paula Hahn e Luciano Teixeira; participação especial da cantora Carla Zambiasi)
18h30 Lançamento e sessão de autógrafos de “Matinta, o bruxo”, com Paulo César Pinheiro

Casa de teatro – Rua Garibaldi, 853 – Independência – 51 3029-9292
20h30 Mesa Humor sempre humor: Adão Iturrusgarai, Laerte e Xico Sá.
Lançamentos: Aline e Antrologia (Adão), Muchacha (Laerte), Chadabadabá (Xico Sá) e Ordinário (Rafael Sica)
23h Macbar: drama e riso – leituras improvisadas de Macbeth: Reginaldo Pujol Filho, Xico Sá, Marcelino Freire, Lu Thomé e Altair Martins

DIA 08 DE MAIO, DOMINGO

Palavraria – Rua Vasco da Gama, 165 – Bom Fim – 51 32684260
14h30 Palestra de E. de Melo e Castro: O Paganismo em Fernando Pessoa e sua projeção no mundo contemporâneo.
16h Lançamento da revista Coyote e pocket show com Rodrigo Garcia Lopes (poeta e editor da Coyote)
16h26 A melhor maneira de dizer tudo em 6 minutos: leituras de poemas com Eliana Mara Chiossi.
16h30 Mesa Música e palavra na boca de poeta: Everton Behenck, Botika e Marcelino Freire


Beco – Av. Independência, 936 – Independência – 51 3028-7160
19h Performance sonora NeoNão Poesia Biosonora: Wilmar Silva e Fracesco Napoli
19h30 Mesa-homenagem a Laerte: Paulo Scott, Fábio Zimbres, Rafael Sica e Chiquinha
20h30 Lançamentos: “O Minotauro e o monstro” (Laerte e Paulo Scott) e “A agramaticidade das feridas do coração” (E. de Melo e Castro), publicações do coletivo Dulcinéia Catadora
21h30 Festa de encerramento Shows: Banda Rocartê, Ronald Augusto Trio. Espetáculo A timidez do monstro, com Paulo Scott, Flu, Mauro Dahmer e convidados.

DIA 14 DE MAIO, SÁBADO (RESSACA DA FESTIPOA 2011)

Usina do Gasômetro – Avenida Presidente João Goulart, 551 – Centro – 51 3289-8140 e 51 3289-8146
16h Sala P.F. Gastal: Entrega do prêmio do concurso de fotografia Imagens da ficção

Livraria Cultura – Avenida Túlio de Rose, 80 – Passo da Areia – 51 3028-4033
19h Show Tamburilando canções: Felipe Azevedo violão com voz. Lançamento do CD e Hot-site interativo

terça-feira, abril 19, 2011

CINEMA AMERICANO


[minha canção predileta do cd ' ôÔÔôôÔôÔ' de gulin]

Cinema Americano
Composição : Rodrigo Bittencourt

Tão homem tão bruto tão coca-cola nego tão rock n'roll
Tão bomba atômica tão amedrontado tão burro tão desesperado
Tão jeans tão centro tão cabeceira tão Deus
Tão raiva tão guerra tanto comando e adeus
Tão indústria tão nosso tão falso tão Papai Noel
Tão Oscar tão triste tão chato tão homem Nobel
Tão hot dog tão câncer social tão narciso
Tão quadrado tão fundamental
Tão bom tão lindo tão livre tão Nova York
Tão grana tão macho tão western tão Ibope
Racistas paternalistas acionistas
Prefiro os nossos sambistas
A ponte de safena Hollywood e o sucesso
O cinema a Casa Branca a frigideira e o sucesso
A Barra da Tijuca Hollywood e o sucesso
Prefiro os nossos sambistas
Prefiro o poeta pálido anti-homem que ri e que chora
Que lê Rimbaud, Verlaine, que é frágil e que te adora
Que entende o triunfo da poesia sobre o futebol
Mas que joga sua pelada todo domingo debaixo do sol
Prefere ao invés de Slayer ouvir Caetano ouvir Mano Chao
Não que Slayer não seja legal e visceral
A expressão do desespero do macho americano é normal
Esse medo da face fêmea dita por Cristo é natural
É preciso mais que um soco pra se fazer um som um homem um filme
É preciso seu amor seu feminino seu suíngue
Pra ser bom de cama é preciso muito mais do que um pau grande
É preciso ser macho ser fêmea ser elegante
Prefiro os nossos sambistas


[thaís gulin ao vivo com 'les pop', banda de rodrigo bittencourt, daniel lopes e thiago antunes]

>>> perfil da cantora que escrevi para revista SaraivaConteúdo, em 2010:

THAÍS GULIN, PRESENTE PARA A MÚSICA BRASILEIRA

Por Ramon Mello

Quando criança, Thaís Gulin montava peças de teatro com os vizinhos, inventava música sozinha e obrigava os pais a assistirem às apresentações que organizava. Foi na solidão do seu mundinho, ao som de Balão Mágico, Nara Leão e João Gilberto, que a talentosa menina transformou-se na cantora que ouvimos celebrando seus ídolos. Desde 2007, a curitibana vem conquistando espaço na música popular brasileira, com a aprovação de gente como Tom Zé, Jards Macalé, Nelson Sargento, Zeca Baleiro e Arrigo Barnabé – artistas que têm composições no disco de estreia da jovem.

Do novo time de cantoras da música popular brasileira, Thaís Gulin se destaca “não apenas pela voz clara de emissão segura, mas pela escolha criteriosa do repertório, com um viés de vanguarda de que ela participa como autora, e ainda pelo tratamento instrumental inventivo do tema”, segundo Tárik de Souza, referindo-se ao primeiro álbum da cantora e compositora, Thaís Gulin, lançado em 2007 pela gravadora Rob Digital, que apresentava releituras como “Garoto de aluguel”, de Zé Ramalho, e “Hino de Duran”, de Chico Buarque, além de composições suas em parceria com Arrigo Barnabé e Rogério Guimarães.

Curitibana radicada no Rio de Janeiro, Thaís Gulin se prepara para lançar o segundo álbum em setembro pela gravadora Biscoito Fino, É só você segurar na minha mão quando for mergulhar – título provisório. O repertório do disco, produzido por Alê Siqueira (Marisa Monte, Omara Portuondo, Elza Soares) e Kassin (Vanessa da Matta, Los Hermanos), inclui a música de Ivan Lins – “Paixão, passione” – gravada por Gulinpara a trilha sonora nacional da novela Passione, da TV Globo. E há ainda composições inéditas de nomes como Adriana Calcanhotto e Tom Zé – único artista a fazer participação especial no disco, com “Ali Sim, Alice”.

“Liguei para o Tom Zé e a dona Neuza, mulher dele, atendeu. Falei: ‘Oi, é a Thaís Gulin, que gravou ‘Cedotardar’. Tô fazendo meu segundo disco, será que o Tom Zé se anima em me mandar uma inédita?’ Ela disse: ‘Acho que ele vai adorar.’ Esse é um disco praticamente de inéditas, é mais difícil de se fazer que o primeiro, fui deixando sair, fiquei flutuando por um tempão até ter a primeira ideia. Aí foi indo, indo”, diz a cantora e compositora, que reservou espaço para composições próprias (“Horas cariocas” e “ôÔôôôôÔô”), músicas de jovens compositores como Kassin e Rodrigo Bittencourt, e parcerias com Moreno Veloso. Além dessas novidades, o disco traz também duas releituras, uma delas de música de Jards Macalé.

O que é tão diferente nesta nova fase? “A distração. O acaso das ideias, dos encontros e inspirações.” E completa: “Eu tenho mania de pensar que eu não vou saber fazer nada do que fazia na semana anterior [risos]. Imagina de um disco para o outro. É um abismo, é muita liberdade... Embora este disco seja uma continuação, não consigo seguir o que aconteceu. É como se precisasse dar um chute no castelinho e começar como se nada tivesse acontecido”, revela Gulin, que também investigou o repertório do show, durante o ano de 2009, em apresentações do seu projeto Musiqueria \o/ Processo Aberto e Distraído.

Aos 30 anos, Thaís carrega em sua música a inquietude que adquiriu no tempo em que fazia teatro na adolescência. Quase ninguém sabe, mas ainda muito nova ela veio para o Rio de Janeiro fazer as oficinas de teatro de Gerald Thomas. Chegou a cursar Performing Arts no Manchester City College, na Inglaterra. Em 2001, radicou-se no Rio com o propósito de ser atriz e cantora. A música foi trilhando o rumo da sua vida, acabou estudando no Conservatório de Música Brasileira de Curitiba e se formou bacharel na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), no curso de Música Popular Brasileira – Arranjo.

Desde então, vem conquistando crítica e plateia pelo Brasil com interpretação bastante particular, cheia de força, personalidade e lirismo. O sonho de menina se torna cada vez mais real, mas sem perder a fantasia. Thaís Gulin surpreende pela escolha de repertório diferenciado e sofisticado. Em seu canto, a música brasileira é marcada por criatividade e atitude, revelando uma sonoridade ímpar.

HH


teaser do docmentário ' HH um passeio - uma conversa - um dia com hilda hilst', de leandra lambert, marco aurélio brandt e alexandre gwaz

[via ana lúcia vasconcelos]


outro vídeo bacana, 'simplesmente, hilda':



e mais outro, documentário apresentado pela rede minas:





[o escritor josé luís mora fuentes, grande amigo de hilda hilst, morreu três dias após a entrevista, em 2009]

domingo, abril 17, 2011

REPARE

se um cachorro serve para a gente falar sozinho, um gato serve para aprendermos a ficar quietos.

MAIS

“Mais, foi a primeira palavra que eu me repeti intensamente em minha infância: 'mais e, mamãe, mais e...'
Fosse guaraná, fosse coca-cola; fosse coca, fosse cola; fosse amor ou desamor ou qualquer outra espécie de dor.
Eu quero é mais ser imortal!! Quero ser o meu futuro ancestral.
Quero mais Tabacaria, mais Pessoa, mais Maria, mais vinho, mais poesia..."

[ângela roro no LP ‘amor ao armagedon’, 1993, antes de cantar ‘’quero mais’, composição dela com ana terra]


[pra quem ama kazuo ohno]

GLAUCO MATTOSO, 'POETA DA CRUELDADE'


O anti-herói cego, “pornosiano, barrockista, deshumanista, anarchomasochista, pós-maldito”, como gosta de se rotular, completa 60 anos com lançamentos e relançamentos por diferentes editoras

Por Ramon Mello
Foto Claudio Cammarota

Autor de uma “poesia viril”, o poeta paulistano Glauco Mattoso completa 60 anos no dia 29 de junho deste ano, produzindo literatura intensamente. Para quem desconhece sua história, seu nome é uma alusão direta ao poeta satírico Gregório de Matos (1633–1695), o Boca do Inferno, além de trocadilho com a doença congênita – o glaucoma – que lhe privou progressivamente da visão. Pedro José Ferreira da Silva é o seu nome de batismo.

Mestre do pastiche literário, já perverteu mais de quatro mil sonetos, série iniciada em 1999, superando o poeta italiano Giuseppe Belli (1791-1863), recordista no gênero, que teria composto 2.279 sonetos em uma obra produzida entre 1830 e 1839. Desde a cegueira total em 1995 – trajetória que lembra a do escritor argentino Jorge Luis Borges –, Mattoso escolheu o soneto como modo de organizar seus escritos. A forma fixa de poema (14 versos compostos por dois quartetos e dois tercetos) auxilia o poeta cego a escrever mentalmente os poemas, sem abandonar a transgressão dos temas.

Autor do romance autobiográfico Manual do podólatra amador: aventuras e leituras de um tarado por pés (All Books/ Casa do Psicólogo), Glauco Mattoso cultiva a fama de escritor maldito com suas preferências excêntricas. Ele é obcecado por pés masculinos, fetiche retratado tanto na prosa quanto na poesia. O pé e a cegueira são temas centrais de muitos de seus livros. Através da perversão sexual, o autor denuncia as perversidades sociopolíticas. Sua temática, que funciona como alicerce do próprio soneto, abusa da pornografia e escatologia, assim como os versos do poeta fescenino do século 17, cuja referência é explícita.

Mattoso cursou biblioteconomia na Escola de Sociologia e Política de São Paulo e letras vernáculas na USP, sem concluir. Além dos sonetos, já escreveu dezenas de contos, dois romances, centenas de crônicas, vários ensaios, um dicionário de palavrões, um tratado de versificação, publicou dezenas de volumes de poesia e editou um fanzine durante quatro anos. “Mas o soneto é meu maior vício, e só como vício posso definir esse gênero que me serve de válvula para desabafar a revolta contra a cegueira. Parafraseando o Zé Dirceu, eu não posso, não quero e não devo deixar de sonetar...”, ironiza.

Prestes a se tornar sexagenário, o poeta relembra que o interesse pelos sonetos é anterior a cegueira: “Eu já admirava os clássicos pelo rigor com que eram compostos, especialmente um tipo de poema tão difícil como o soneto. Mas, enquanto ainda enxergava, minhas influências eram mais iconoclastas (modernismo, concretismo, tropicalismo e marginalismo), por isso raramente sonetei naquela fase. Quando fiquei cego, percebi que minha capacidade mnemônica era magicamente imensa. Passei, entre a insônia e o pesadelo, a compor freneticamente, salvando na memória os versos que, graças à rima e à métrica, mantinham-se intactos até que eu os digitasse no computador falante. Atribuo tal capacidade, também, a alguma ‘assistência espiritual’, já que me considero um bruxo...”, relata Glauco Mattoso, que trabalha diariamente com um programa de leitura de voz no computador (desenvolvido pela UFRJ), sem perder as subversões que pratica na sua escrita desde a época da poesia marginal nos anos 1970.

Celebração

Em comemoração ao 60º aniversário do “poeta da crueldade”, diversos lançamentos estão programados. A editora Annablume lançará uma caixa com 10 livros, sete já editados e três inéditos: O poeta da crueldade, O poeta pornosiano e Poemídia e sonetrilha. A Annablume detém os direitos de publicação da série de poesias Mattosiana pelo selo literário Demônio Negro e a obra Contos hediondos (2009). É também responsável pela obra ensaística de Mattoso, da qual publicaram, na Coleção Língua, Literatura e Discurso, o Tratado de versificação (2010) – acordo onde o poeta propõe “revisitar as trilhas da versificação e revalorizar o conceito da ‘musa’ no aspecto ‘musical’ do poema”. O selo Tordesilhas também adquiriu toda a prosa escrita do autor, repleta de ironia e humor negro, longe de tudo que se pode classificar como literatura bem comportada. Além de publicar os romances A planta da donzela (Lamparina, 2005) e Manual do podólatra amador, a editora prepara uma nova versão da coletânea Contos hediondos, incluindo textos inéditos. A prosa mattosiana, irreverente como a poesia, é muito bem elaborada, o que elimina a proximidade com a simples pornografia.

Ao longo dos anos, o Conde Glauco Mattoso – como o nomeou o poeta Roberto Piva (1937–2010) – passou a publicar em diversas editoras, o que dificulta a concentração de sua obra em um único selo. A produção poética inclui 35 títulos fora de catálogo ou com contrato para vencer, sem contar os poemas publicados na internet. O editor Luiz Fernando Emediato, da Geração Editorial, que o conhece desde os anos 1970, o considera “um grande escritor, polêmico e alternativo, implacável diante do mercado, para o qual não faz nenhuma concessão”.

Fase Visual e Face Cega

As referências de Glauco Mattoso passam de Camões a Augusto de Campos, de Gregório de Matos a Luiz Delfino, de Sade a Cego Aderaldo, de Olavo Bilac a Millôr Fernandes. Não é à toa que Caetano Veloso citou o poeta na música “Língua”, do disco Velô, de 1984. O cantor baiano o conheceu através do concretista Augusto de Campos, na época em que Glauco assinava o Jornal Dobrabil (trocadilho com o Jornal do Brasil

e com o formato dobrável), um fanzine poético-panfletário feito com uma datilografia minuciosa que imitava as famílias tipográficas utilizadas pelos grandes jornais.

Mattoso também é conhecido pela sua intensa colaboração na imprensa alternativa na década de 1980, como Tralha, Mil Perigos, Som Três, Top Rock, Status, Around e Chiclete com Banana – esta última criada em parceria com o cartunista Angeli, publicada pela Circo Editora. Nos últimos anos, o poeta tem escrito para o site de literatura Cronópios [www.cronopios.com.br] e colaborado para revistas impressas, como a Caros Amigos.

O crítico e ensaísta carioca Pedro Ulysses Campos já dividiu a poesia de Glauco Mattoso em duas fases: “a primeira seria a Fase Visual (1970–1980), enquanto o poeta praticava um experimentalismo paródico de diversas tendências contemporâneas; e a segunda a Fase Cega (1999 até hoje), quando o autor, já privado da visão, abandona os processos artesanais, tais como o concretismo datilográfico, e passa a compor sonetos e glosas”. “Spik (sic) Tupinik” (1977), um dos sonetos mais famosos dá a dimensão da relevância da poesia de Glauco Mattoso: Rebel without a cause, vômito do mito / da nova nova nova nova geração, / cuspo no prato e janto junto com palmito /o baioque (o forrock, o rockixe), o rockão. / Receito a seita de quem samba e roquenrola: / Babo, Bob, pop, pipoca, cornflake; / take a cocktail de coco com cocacola, / de whisky e estricnina make a milkshake. / Tem híbridos morfemas a língua que falo, / meio nega-bacana, chiquita-maluca; / no rolo embananado me embolo, me embalo, / soluço - hic - e desligo - clic - a cuca. // Sou luxo, chulo e chic, caçula e cacique. / I am a tupinik, eu falo em tupinik.

A musicalidade de seus versos pode ser conferida no CD Melopéia (Rotten Records), nas vozes da MPB como Itamar Assumpção, Humberto Gessinger, Inocentes, Billy Brothers, Laranja Mecânica e Arnaldo Antunes. Trata-se de uma antologia de seus sonetos misturada a diferentes ritmos: samba-enredo, techno-samba, samba-canção, punk-rock e bluejazz. O álbum, que tem a capa assinada por Lourenço Mutarelli (uma paródia da capa do disco Tropicália, 1967) está esgotado.

Glauco Mattoso fabrica a própria lenda com a sua obra e sua história: cego, gay, podólotra e masoquista. Sempre que se escreve sobre o poeta, há uma tentativa de definilo: marginal, punk, pós-concreto, maldito... “Todos esses rótulos estão corretos. Eu próprio me colei mais alguns: pornosiano, barrockista, deshumanista, anarchomasochista, entre outros. Mas, para melhor sintetizar todos eles, pode me chamar de pós-maldito...”, explica o ícone do “malditismo literário” no Brasil.

E agora, poeta, como é completar 60 anos? “Acho que é como estar prestes a completar 18 quando a gente é menor de idade, ou 100 quando a gente ainda tem 99. Parece que subimos um degrau e só podemos olhar para frente, sob risco de tropeçarmos e cairmos. A partir deste ano, posso ser chamado de ‘edoso’ e tenho que me vacinar contra a gripe. Minhas fantasias masturbatórias, entretanto, prosseguem a todo vapor...”, revela o poeta maldito que se tornou um clássico, um dos melhores sonetistas do Brasil.

[publicado originalmente na revista saraivacontúedo, abril de 2011]

sexta-feira, abril 15, 2011

SOBRE MARIA BETHÂNIA


BETHÂNIA E AS VIRGENS DESERDADAS

Por Inês Pedrosa

[Artigo da escritora portuguesa Inês Pedrosa, diretora da Casa Fernando Pessoa, publicado no jornal Estado de São Paulo, em 31.03.2011]


Bethânia e as virgens deserdadas

Durante os breves dias que passei agora no Brasil, pasmei com a ferocidade da campanha contra um projeto de poesia de Maria Bethânia. O meu pasmo foi subindo de degrau em degrau a cada hora de cada um dos cinco dias e terminou num miradouro de indignação. Parece-me útil dar a ver aos brasileiros o panorama feio que os meus portugueses olhos divisaram – amo demasiado o Brasil para poder ficar fora dele mesmo quando ele me deixa fora de mim, mas temo que assim não aconteça com corações mais turísticos do que o meu.

O coro de virgens ofendidas com a verba que o Ministério da Cultura autoriza a captar para o projeto de Bethânia ( um milhão e trezentos mil reais) é patético por diversas razões, a primeira das quais é a suposição cândida de que, a não ser investido na divulgação de poesia de língua portuguesa a que Bethânia se propõe, esse dinheiro seria canalizado para escolas, hospitais e o escambau. Verdade seja que a lista dos projetos aprovados pelo Ministério da Cultura inclui muita coisa que, vista de fora, me parece o escambau. Em Portugal, a Lei do Mecenato não funciona, porque o conceito de desenvolvimento através das artes ainda não conseguiu furar a massa cinzenta dos empresários lusitanos. Por isso, os apoios à cultura saem directamente do bolso dos contribuintes, o que os torna sempre polémicos e sujeitos à conspiração das invejas organizadas – a mais eficiente organização do país.

Eu tinha a ilusão de que o Brasil não era assim – via o Brasil virado para o futuro, incompatível com o ressentimento. Ainda quero ver, porque o Brasil onde eu moro e quero cada vez mais morar é povoado por artistas que se inspiram mutuamente, estudiosos ousados, enfim, gente que não perde tempo a envenenar-se e a envenenar os outros. Pobres puritanos da moral alheia: a grana que patrocinará Bethânia nunca serviria para pagar outras coisas. Porquê? Porque Bethânia não é uma coisa qualquer. O que ela faz tem repercussão. Possui um talento e uma voz únicos. Aguentem-se.

Porque será que só o projeto de Bethânia é sujeito ao escrutínio da maledicência? Porque Bethânia é uma estrela – de fato. Enche quantas vezes quiser as maiores salas de espetáculos de Portugal, da Europa e de várias partes do mundo. Porque o Ministério da Cultura do Brasil a subsidia? Não: porque tem um percurso internacionalmente reconhecido. Como cidadã da gloriosa pátria da língua portuguesa – a única pátria em que, tal como Fernando Pessoa, me reconheço – agradeço-lhe diariamente o seu trabalho de muitas décadas em prol da poesia e dos poetas desta língua, de Pessoa a Guimarães Rosa, de Vinicius de Moraes a José Régio, de Sophia de Mello Breyner Andresen a João Cabral de Melo Neto. Se me tornei, ainda adolescente, leitora de José Régio, a ela o devo. O meu fascínio por Pessoa começou com a voz dela. E foi dela que recebi o primeiro estímulo para a descoberta da sublime literatura brasileira. Não há muitos cantores populares por esse mundo que se dediquem, de um modo contínuo, a este trabalho pioneiro e pedagógico. Penso que a visível subida do nível cultural do Brasil nas últimas décadas deve muito a Maria Bethânia. E tenho a certeza que a literatura portuguesa tem uma dívida imensa para com ela – toda a minha geração foi tocada pelos seus poetas, mesmo ou sobretudo quando, aos vinte anos, ia ouvi-la apenas para encontrar consolo para a vertigem das paixões mal sucedidas.

A 8 de Março de 2010 fui ao Rio de Janeiro para, em nome da Casa Fernando Pessoa e em parceria com o Instituto Moreira Salles, galardoar Maria Bethânia e Cleonice Berardinelli com a Ordem do Desassossego, então instituída. Quisémos que a primeira atribuição dessa Ordem fosse uma homenagem ao Brasil e a essas duas heroínas da divulgação da obra de Fernando Pessoa. Pouco depois, Bethânia foi a Portugal fazer um show e contactou-me, dizendo que queria oferecer um recital de poesia de língua portuguesa na Casa Fernando Pessoa. E ofereceu – sim, gratuitamente, escandalizem-se, oh virgens! – um espetáculo belíssimo, concebido, encenado e realizado por ela, aliando interpretação e canto, com uma inteligentíssima seleção dos maiores poetas de Portugal e do Brasil. As paredes da Casa iam estourando, tal a multidão e o deslumbramento.

Nessa ocasião, Bethânia falou-me da sua vontade de levar pelo interior do Brasil e de Portugal um conjunto de espetáculos destes, exclusivamente dedicados à poesia. Que Bethânia ou alguém próximo dela ( porque Bethânia nem sequer é praticante da religião das redes virtuais) tenha acrescentado a esse projeto a circulação dos poemas ditos na internet, parece-me uma excelente e eficaz ideia. Sim, opulentos invejosos, já há muita poesia na net – mas não dita e encenada por Bethânia. A voz e o critério dela chegam mais longe, movem mais almas – é isso que não se lhe perdoa. Caetano já o disse, numa crónica coruscante, no “Globo”. Mas eu quero repeti-lo, porque não sou irmã dela – amo-a, sim, como comecei a amá-lo a ele, desde a mais tenra juventude e sem os conhecer de parte alguma nem saber onde ficava Santo Amaro da Purificação, de onde ambos vieram, sem patrocínios nem padrinhos, para acrescentar luz e força às nossas vidas. Amo-os porque as suas vozes e os seus dons criativos me fizeram e fazem acreditar que o mundo pode ser um lugar mais belo e mais sábio. O Brasil está a dar certo porque eles – e muitos outros como eles, e uma multidão com eles – assim o quiseram. E isso só não vê quem não quer – ou não é capaz – de ver.


***

AINDA SOBRE BETHÂNIA

Por Ramon Mello

Sinto a necessidade de reafirmar minha posição sobre a polêmica em torno do projeto do blog ‘O mundo precisa de poesia’, idealizado por Hermano Vianna, em que a cantora Maria Bethânia foi convidada a realizar leituras diárias de poemas.

Assim que a questão foi levantada na web, afirmei concordar com a declaração do cineasta Jorge Furtado: “Na minha opinião, o governo brasileiro deveria tirar do seu caixa o dinheiro (1,3 milhões de reais, uma ninharia perto da roubalheira do Detran gaúcho, dos pedágios paulistas, da máfia do governo Roriz/Arruda no DF, etc, etc...) e entregar para a Maria Bethânia, junto com um buquê de rosas e um cartão, pedindo desculpas pela confusão”.

Respeito e admiro Maria Bethânia por tudo que já realizou para música brasileira e para literatura em língua portuguesa. Estamos falando de uma grande artista, com mais de 45 anos de carreira, que mantém uma relação legítima com sua trajetória. Uma mulher que estudou em escola pública e se dedicou a vida propagar os nomes dos poetas: “Os nomes dos poetas populares deveriam estar na boca do povo!” (Antônio Vieira)

Bethânia cobrou (leitura e elaboração) R$ 1.643 por cada um dos 365 vídeos - o que é justo. O valor aprovado para captação do projeto - R$ 1,3 milhão – o Minc entendeu que era correto, após realizar cortes no valor original. Há sites e shows aprovados com valores até superiores (e justificativas questionáveis), mas pegaram Bethânia para bode expiatório.

Penso que o momento é propício para uma discussão ampla com Ministério da Cultura sobre as políticas culturais do país e a readequação de leis de incentivo, que foram fundamentais, mas hoje estão defasadas, como a Rouanet e a do Audiovisual. Devemos cobrar essas mudanças ao MinC e não denegrir a imagem de uma artista que tanto contribui para nossa cultura.

Enfim, desejo, sinceramente, que Maria Bethânia consiga realizar o projeto ‘O mundo precisa de poesia’.


Solução

(Raul Sampaio e Ivo Santos)

Tu verás que eu ainda sou
O que mais deseja te ajudar
Venho te pedir tempo pra pensar
E deixa essa gente falar de mim
Quero ouvir o tempo lhe dizer
Que a vida inteira há de pertencer
O que o tempo diz, o vento não desfaz
Nem a língua de quem fala demais


quinta-feira, abril 14, 2011

DESPEDIDA DO SARAIVACONTEÚDO

Após dois anos dedicados, diariamente, ao SaraivaConteúdo, a equipe idealizadora e gestora do projeto se despede. Ou seja, eu, Marcio Debellian, Bruno Dorigatti, Claudia Barbosa, Tomas Rangel, Flavia Paulo, Bruno Duarte, Luiza Moscoso, João Pedro Bittencourt, Eduardo Simões e Mauro Ferreira não estamos mais vinculados ao desenvolvimento do site.

Fica a alegria de ter contribuído para um trabalho inédito em livrarias, através de uma pequena cartografia do que melhor foi produzido em cinema, música e literatura no Brasil. Nesse breve tempo de trabalho, foram realizadas mais de 270 entrevistas em vídeos, além de artigos e matérias. Só na minha seara, foram mais 60 encontros com cineastas, atores, músicos e, principalmente, escritores:

Adélia Prado, Adriana Lisboa, André Dahmer, Andréa Del Fuego, Affonso Romano de Sant'Anna, Antônio Xerxenesky, Arnaldo Bloch, Arthur Dapieve, Beatriz Bracher, Botika, Carla Faour, Chacal, Carola Saavedra, Cid Moreira, Cristovão Tezza, Diana de Hollanda, Dira Paes, Edney Silvestre, Elisa Lucinda, Eucanaã Ferraz, Fábio Moon e Gabriel Bá, Fabrício Carpinejar, Fausto Fawcett, Felipe Pena, Ferreira Gullar, Francisco Bosco, Francisco José Viegas, Gabriela Guimarães Gazzinelli, Gastão Cruz, Gonçalo M. Tavares, Guilherme Zarvos, Heloisa Buarque de Hollanda, Hermes Bernardi Jr., Inês Pedrosa, João Gilberto Noll, João Paulo Cuenca, João Ximenes Braga, José Castello, José Eduardo Agualusa, José Jofilly e Irandir Santos, Lobo Antunes, Leticia Wierzchowski, Lourenço Mutarelli, Luís Cardoso, Luiz Antonio de Assis Brasil, Luiz Ruffato, Luiz Zerbini, Lya Luft, Manoela Sawitzki, Marcelo Moutinho, Marcus Vinicius Faustini, Marina Colasanti, Martha Medeiros, Murilo Salles, Nélida Piñon, Ondjaki, Patrícia Melo, Paulo Scott, Renato Terra e Ricardo Calil, Reinaldo Moares, Sérgio Britto, Suzana Amaral, Tatiana Salem Levy, Thalita Rebouças, Thiago Pethit, Zuenir Ventura...

O SaraivaConteúdo e a Revista SaraivaConteúdo (filhote do site) foi idealizado e desenvolvido pela Debê Produções, empresa que tem Marcio Debellian como pensador. Desejo que a nova equipe escolhida pela Livraria Saraiva tenha o mesmo fôlego e tesão em realizar um trabalho tão bacana.

BALLET DA CENTOPEIA


letuce: letícia novaes e lucas vasconcellos

terça-feira, abril 12, 2011

INSTRUÇÃO

faça da próxima vez a última

tiê canta calcinha preta no novo álbum 'a coruja e o coração'

sexta-feira, abril 08, 2011

O MASSACRE DE REALENGO

[soneto 4141] GLAUCO MATTOSO

“Massacre” se chamou “da Candelaria”.
Chamou-se de “massacre” o “de Vigario
Geral”. Mas comparar? Ha quem compare o
que occorre em Realengo, em faixa etaria?

Qualquer outra tragedia é secundaria,
embora jamais haja um justo horario
que a Morte nos reserve e seja vario
o caso em cada agencia funeraria.

Creanças, quando victimas, são serio
motivo à reflexão, pois illusorio
se torna o Amor christão num cemiterio.

Um louco… Um attemptado… Caso chore o
Pae pelo Filho e a crença recupere o
espirito da gente, é o Céu inglorio?



[via leonardo davino]

segunda-feira, abril 04, 2011






Profissão: POETA

por Mariana Filgueiras

Parece difícil rimar contas do mês com
poesia, mas não para todo mundo: há quem viva de livros, sites, oficinas literárias e até eventos para empresas

A polêmica sobre o valor autorizado pelo Ministério da Cultura para captação de recursos para o blog de poesias da cantora Maria Bethânia — R$ 1,3 milhão — deu novo fôlego a um debate há muito esquecido: o valor da poesia. E, principalmente, o valor de quem a promove. Se o montante pedido para o projeto “O mundo precisa de poesia” é muito ou pouco, talvez nem os 72 heterônimos de Fernando Pessoa saibam dizer. Mas fato é que muita gente, com muito (muito) menos, consegue não somente divulgar, mas até viver de poesia. De autores laureados a vendedores de rua — aqueles do desconcertante “Você gosta de poesia?” — fomos atrás das histórias de quem encara os versos como ofício.

Nos anos 70, quando integrava o grupo de poetas Nuvem Cigana, Ricardo Gomes, o Chacal, chegou a trocar o próprio relógio de pulso por um jegue. O animal seria muito mais útil para quem pretendia viver de poesia num sítio no Sul Fluminense. Em outra ocasião, decidiu passar um tempo em Londres, mimeografou cem cópias do livro “Preço da passagem” e vendeu no Baixo Gávea. Hoje em dia, avalia, o poeta tem uma realidade muito mais favorável.

— Eu vivo de poesia há 40 anos e posso dizer: as coisas mudaram muito — atesta Chacal, aos 60 anos, enquanto prepara a primeira oficina (remunerada) do g r u p o d e p o e s i a C E P 20.000, fundado por ele há 21 anos. — Hoje, há oficinas, editais, rodas de leitura, eventos pagos. Ainda não é uma situação ideal, muitos grupos precisam de apoio. A poesia corrige o analfabetismo funcional, melhora o uso da língua, malha os neurônios. Hoje, o governo compra poesia e distribui nas escolas, coisa impensável anos atrás. Não sei se aumentou o número de leitores. Mas a circulação e a remuneração, com certeza.

O poeta Ramon Mello, aos 27 anos, é um exemplo de uma novíssima geração que já experimentou esta boa fase. Ramon deixou a pequena Araruama, na Região dos Lagos, aos 16 anos, para estudar teatro no Rio. Como sempre gostou de ler e escrever poesia, criou um blog em que entrevistava autores iniciantes. Ex-editor da Língua Geral, Eduardo Coelho visitou o site e depois perguntou se Ramon tinha algum livro pronto.

Nascia assim “Vinis mofados”, lançado em outubro de 2009, com excelente recepção.
O blog deu origem a um site mais estruturado, onde Ramon já entrevistou mais de 80 escritores. Uma coisa puxou outra: numa das entrevistas, conheceu o escritor Rodrigo de Souza Leão, morto há dois anos. A convite da família, tornou-se curador da obra dele. Em pouco tempo, passou a cuidar também da obra de Dinah Silveira da Queiroz e organiza a antologia de poemas de Adalgisa Nery. Novas poesias vêm em ideias anotadas no celular, o blog segue online e o próximo livro já está quase pronto.

Em janeiro, Ramon organizou, com Chacal e Heloisa Buarque de Hollanda, o festival de poesia “A palavra toda”, e passou a dar oficinas para jovens poetas. Numa delas, no Sesc Tijuca, “adotou” o menino Thiago Levy, de 16 anos, exvendedor de balas que se inscreveu por indicação da professora de Português do colégio público.

— Ele entrou todo marrentinho, e achei que estava ali por engano. Mas ele soltou:
“Ué, aprendi na escola que o Machado de Assis vendia bala, que nem eu”. Como quem diz: “Eu quero ser poeta, como faz?”, ou algo assim. Passei num sebo, catei alguns livros, fiz um “kit-poeta” e dei a ele. Acho que primeiro você vive para a poesia, depois aprende a viver de poesia — ensina Ramon, de malas prontas para Recife, onde ministraria as oficinas no Festival de Literatura Digital, seguindo depois para a Festa Literária de Porto Alegre.

Quando decidiu ser poeta, o niteroiense Paulo Betto Meirelles, de 23 anos, também deu seu jeito: largou a faculdade de Direito, para desespero dos pais, publicou o primeiro livro (“Tabuleiro de egos”) e levou para Niterói o sarau noturno Corujão da Poesia, evento semanal que já frequentava numa livraria do Leblon desde os 19 anos. Criado pelo poeta João Luiz de Souza há cinco anos, o Corujão funciona como uma vigília literária: toda terça-feira de madrugada, o microfone está aberto para leitura de poesias. Quem está sempre lá é o músico Jorge Ben Jor, padrinho afetivo do evento.

— Propus ao João fazer o Corujão em Niterói, ele topou, e hoje a curadoria virou meu trabalho. Meus pais foram ver uma vez, acho que estão se acostumando com a ideia de que poeta também pode ser uma profissão — conta Paulo, que ainda é compositor e músico da banda Pelicano Negro. Foi no Corujão da Poesia que João descobriu uma maneirade remunerar os poetas mais “entregues”:

— Eu vi que gente importante entrava na livraria por acaso, enquanto estávamos botando fogo no Corujão, e olhava interessada. Então eu pensei em apresentar os poetas a esses empresários, oferecendo pequenos saraus para empresas. Deu certo, com o lema “torne o seu evento mais inspirador e emocionante, inclua poesia na programação”. Hoje, instituições como Tribunal de Justiça do Rio, Senac, Firjan e empresas contratam poetas, sempre pagando cachês dignos — reforça João, que já “exporta” seus poetas para eventos no país todo.

Uma delas é a atriz e poeta Betina Kopp, 27 anos, que se formou em Educação Física mas nunca quis exercer a profissão. No Corujão, Betina recita poesias próprias, mas especializou-se nas alheias. Já gravou audiolivros e criou performances poéticas — numa delas, oferece um menu de poesias para degustação, em que declama o “poeta-prato” escolhido pelo espectador — e apresenta-se em festivais de poesia em todo Brasil.

— A poesia me trouxe muito mais do que o teatro. Já conheci 11 estados do Brasil,já me apresentei no Canecão e no presídio Bangu 1, mostrei poesias a gente que nunca tinha lido um livro e ainda recebo por isso — diz Betina, que para a foto posou com as colheres-adereço que usa em suas performances.

Após dez anos trabalhando com poesia na editora 7Letras e na revista eletrônica “Modo de Usar & Co” (que publica em parceria com os poetas Ricardo Domeneck, Fabiano Calixto e Angélica Freitas), a poeta Marília Garcia, de 32 anos, decidiu dar aulas de teoria da poesia em universidades. Às vésperas dos concursos públicos para professor de faculdades de Letras, pode ser encontrada submersa nos livros na biblioteca da PUC.

— Ao longo desses anos na editora, acompanhei de perto o aumento do interesse pela poesia. Isso se reflete em mais possibilidades para o poeta, como a criação de um edital especialmente para a criação literária, que já dura dois anos (ela se refere ao Programa Petrobras Cultural), e na expansão dos grupos de poesia. No Rio, há eventos de poesia todos os dias — comemora Marília, lembrando que no último em que esteve como convidada, no Sesc de Jacarepaguá, surpreendeu-se com a quantidade de jovens na plateia. Depois desta entrevista, Marília aproveitou o tema e publicou em sua revista-site um poema de Bénédicte Houart que começa com os seguintes versos: “Com os direitos de autor/ do meu primeiro livro de poesia/ comprei um m&m amarelo/ duvido que alguém tenha saboreado os meus poemas/ com tanto alarido.”

— A relação tão forte com a poesia, no meu caso, vai além do trabalho com os versos, é um modo de ver o mundo, entender as coisas — diz Armando Freitas Filho é uma espécie de “Rilke coroa”, como ele mesmo define. Poeta há quase 50 anos, com 15 livros publicados e muitos prêmios para apoiá-los na estante, é a ele que recorrem jovens poetas ansiosos por orientação. Exatamente como fazia o jovem Franz Kappus com o poeta alemão Rainer Maria Rilke, no início do século passado — e que poeta iniciante, brasileiro ou alemão, não tem a correspondência trocada entreos dois, as famosas “Cartas a um jovem poeta”, no fundo da mochila?

A diferença é que Armando, aos 71 anos, faz tudo por email. Da ânsia dos jovens poetas, ele garimpa os textos mais bem escritos e indica para publicação. É assim que Armando vive de poesia: além de escrevêlas, trabalha atualmente como consultor das editoras. Foi ele quem descobriu as jovens Alice Sant’Anna, de 22 anos, e Laura Liuzi, de 24, que tiveram os primeiros livros (“Dobradura” e “Calcanhar”, respectivamente) muito bem recebidos no meio literário. A próxima aposta de Armando é Silvio Fraga Neto, de 24 anos. Seu primeiro livro vai inaugurar o selo de poesia da editora Bem-te-vi, no próximo mês de junho.

— Fico feliz em apresentar uma novíssima geração. É preciso conhecer poetas novos, senão ficamos com Fernando Pessoa a vida inteira — provoca Armando. — E o melhor é que o trabalho deles é completamentediferente. A Alice roça na poesia de Ana Cristina César; a Laura tem uma escrita mais subjetiva, com mais sombras; o Silvio tem o perfume da brilhantina de João Cabral — elogia o poeta, que teve como um Rilke particular ninguém menos do que Manuel Bandeira.

Quando foi convidado a dar a primeira palestra, no início dos anos 70, Armando percebeu que não estava fazendo um favor, mas um serviço: e que para isso precisava cobrar, oras, afinal não se vive de brisa. Juntou-se ao poeta e amigo Cacaso e juntos montaram uma tabela de preços que usariam a partir de então.

— Não deu muito certo, e eu só fui ser bem pago quando os poemas foram incluídos em livros didáticos — lembra Armando. — Ano passado, meu filho mais novo fez vestibular e trouxe a prova para casa: não é que estava lá um poema que escrevi aos 20 anos? Das três questões relacionadas a eles, acertei duas. E o mais curioso é que o gabarito das três era “C/D/A”, as iniciais de Carlos Drummond de Andrade. Concluí que Drummond é sempre a resposta certa. Da sua casa, na Ilha da Gigóia, o poeta Mano Melo, de 65 anos, concorda. Aos 16, ainda em Fortaleza, descobriu a poesia com Drummond e não sossegou mais. Veio morar no Rio, onde fez parte da “geração mimeógrafo” e de grupos de poesia renomados, como o Ver o Verso, com Claufe Rodrigues e Pedro Bial. Publicou oito livros e hoje conta mais de 40 anos pagando as contas com poesia. E com um pouco de sorte...

— Já passei muito aperto, os deuses da poesia te cobram muito, estão sempre testando sua determinação. Mas sempre que fico pendurado aparece um trabalho muito legal para fazer — conta. — Foi assim quando cheguei ao Rio, nos anos 70, e é assim até hoje. Foi vendendo livros de poesia mimeografados do Leme ao Leblon que juntei dinheiro para passar um tempo na Índia. Quando voltei, tive a ideia de fazer recitais nos auditórios das escolas particulares. Que professor de português recusaria? — recorda Mano, que teve entre os compradores de livro a escritora Clarice Lispector. Mano escreve todos os dias, das 15h às 2h. Acabou de concluir o novo livro, “Poemas do amor eterno”, que será lançado em maio. Mano também faz poesias sob encomenda, muitas para publicidade. Com forte sotaque cearense, gosta de repetir uma história que ouviu em Cuba, durante um evento literário para o qual foi convidado: um dos participantes contou que o filho fizera um pedido ao governo para trocar a profissão de enfermeiro pela de poeta, mas mantendo o salário.

— Ele me mostrou a respostado governo, aceitando a reivindicação, mas exigindo que o rapaz entregasse um livro por ano. Inacreditável, não? — espanta-se Melo, que vez por outra complementa a renda fazendo pontas em novelas.

Se o leitor reconhecer sua fisionomia em algum papel de porteiro, pode ter certeza: ali está um poeta despercebido num uniforme.

Assim como passam batidos os jovens do grupo Geração Delírio, que batem ponto todos os dias, depois do almoço, no “escritório”: as escadas da Biblioteca Nacional. De domingo a domingo, Paulo Alves Filho, Nelson Neto, Thiago Oliveira e Thiago Carvalho atravessam o caminho dos passantes para oferecer zines de poesia com a mal-recebida pergunta “Você gosta de poesia?”.
— De cada cem pessoas, umas 20 compram. Mas só uma dá atenção, para, conversa, lê, estimula... — conta Nelson Neto, que se sustenta há seis anos com os cerca de R$ 700 que tira por mês vendendo poesia por aí nas ruas.

Parceiro das calçadas de Nelson todos esses anos, Paulo foi alfabetizado pela mãe, em casa. Empregada doméstica, ela levava gibis dados pela patroa ao filho, que começou a devorar as revistinhas de “Dylan Dog” e a buscar novas leituras, até trombar com Augusto dos Anjos, o poeta preferido.

Hoje, é Paulo quem ajuda a mãe, com o dinheiro das vendas de sua obra.

— A gente se vira, sobrevive, mas não adianta nada se não houver leitores — analisa o rapaz.



sábado, abril 02, 2011


A Foto da Capa
Composição : Chico Buarque

O retrato do artista quando moço
Não é promissora, cândida pintura
É a figura do larápio rastaqüera
Numa foto que não era para capa
Uma pose para câmera tão dura
Cujo foco toda lírica solapa

Era rala a luz naquele calabouço
Do talento a clarabóia se tampara
E o poeta que ele sempre se soubera
Claramente não mirava algum futuro
Via o tira da sinistra que rosnara
E o fotógrafo frontal batendo a chapa

É uma foto que não era para capa
Era a mera contracara, a face obscura
O retrato da paúra quando o cara
Se prepara para dar a cara a tapa