terça-feira, março 30, 2010

LEGIONÁRIOS




Fotos: J Egberto




AS PALAVRAS QUE NUNCA SÃO DITAS

Por Zeca Camargo

(...)

Fiquei inspirado a escrever alguma coisa quando, esta semana, encontrei numa livraria a coletânea de contos Como se não houvesse amanhã, organizada por Henrique Rodrigues e editada pela Record. Trata-se de uma série de histórias inspiradas em músicas do Legião Urbana – uma iniciativa interessante, que deve agradar não apenas aos fãs da banda (e de Renato Russo), mas aos leitores que gostam de um bom exercício lúdico.

Usar música como inspiração para literatura não é novidade. Por exemplo, o autor de Alta fidelidade, Nick Hornby, fez sua carreira literário em cima disso. E vale lembrar também de uma série de pequenos livros (que coleciono não muito religiosamente) chamada “33 1/3” – uma referência à rotação necessária para tocar os antigos LPs de vinil (consulte seu tio “mais velho” para mais detalhes). Ela convida escritores de vários estilos a contar uma história em torno de um álbum clássico do pop/rock (meus favoritos são um sobre “Unknown pleasures”, do Joy Division, por Chris Ott; “Pink moon”, de Nick Drake, por Amanda Petrisich; “Doolittle”, do Pixies, por Ben Sisario; “Endtroducing”, do DJ Shadow, por Eliot Wilder; e obviamente “Meat is murder”, do The Smiths, por Joseph T. Pernice – mas não, curiosamente, “Achtung baby”, do U2, por Stephen Cantanzarite, nem “OK Computer”, do Radiohead, por Dai Griffiths).

Mesmo não sendo muito original, a idéia de Como se não houvesse amanhã me pareceu bastante oportuna – nem que fosse pela passagem recente (lembrada com entusiasmo aqui mesmo na internet) da data que marcaria o aniversário de 50 anos de Renato Russo, agora, dia 27 de março. Como qualquer coletânea, ela é bastante irregular. Mas a maioria dos textos é interessante – são menos tributos apaixonados do que elegantes referências a obra daquele que foi um dos mais inspirados poetas e um dos mais apaixonados compositores do nosso pop.

Nenhum dos textos “baba ovo” para o Legião, mas há sempre uma alusão discreta e carinhosa às músicas escolhidas pelos colaboradores (boa parte deles, notei, nascida nos anos 70). Entre os que mais gostei, estão o de Ramon Mello (em cima da música “Sereníssima”); o disfarçadamente triste reencontro descrito por Susana Fuentes (baseado em “Quando o sol bater na janela do seu quarto”); e o conto de Miguel Sanchez Neto, inspirado por “Meninos e meninas”, que começa com essa quase perfeita frase: “É preciso passar por muitas decepções para merecer de novo o primeiro amor”.

Totalmente imbuído desse espírito, lá fui eu tentar minha sorte na ficção, com a mesma desculpa: usar uma música do Legião Urbana para contar uma história. O primeiro desafio, claro, era escolher uma canção que os outros autores ainda não haviam usado. Para minha surpresa, entre as 20 músicas escolhidas, duas das minhas favoritas ficaram de fora: “Índios” e “Quase sem querer”. Qual das suas eu deveria ser minha opção?

(...)

[Blog Zeca Camargo - G1 -29.03.10]


CONTOS INSPIRADOS EM LETRAS DO RENATO

Por Mauro Ferreira

Lançado neste sábado, 27 de março de 2010, data em que Renato Russo (1960 - 1996) faria 50 anos, o curioso livro Como Se Não Houvesse Amanhã (Editora Record, 160 páginas, R$ 32,90) apresenta 20 contos inéditos inspirados em letras escritas por Russo para músicas da Legião Urbana e do Aborto Elétrico (deste, há 'Que País É Este?' e 'Faroeste Caboclo'). Com edição organizada por Henrique Rodrigues, os 20 contos são dispostos no livro na ordem cronológica dos álbuns que apresentaram as 20 músicas. Com exceção do conto inspirado em Há Tempos, em que o autor Carlos Henrique Schroeder cita nominalmente a música lançada em 1989 no disco 'As Quatro Estações', os escritores criaram histórias sem links explícitos com as letras. Em sua grande maioria, os contos estão impregnados da melancolia que permeava as letras de Russo e - não raro - versam sobre amor e perda. Rosana Caiado Ferreira flagra Eduardo e Mônica em processo doído de separação. Ramón Mello junta os cacos emocionais de uma relação em 'Sereníssima', único conto de viés mais explicitamente gay. Destaque, 'Pais e Filhos' é conto em que o autor João Anzanello Carrascoza remói sentimentos amargos das relações familiares sob a ótica de um filho que não deu a devida atenção ao pai.


segunda-feira, março 29, 2010

sábado, março 27, 2010

quarta-feira, março 24, 2010

SONHADOR SONÂMBULO


banda tono, minha paixão mais recente: "invisto nas ações do prazer”

Ana Cláudia Lomelino, Leandro Floresta, Bem Gil, Bruno de Lullo e Rafael Rocha.

sexta-feira, março 19, 2010

SOBRE CRÍTICA

"Respeito muito a crítica porque ela é uma espécie de psicanalista do escritor. Geralmente revela coisas que nem a gente sabe sobre si mesmo, infere símbolos e relações inusitadas. De vez em quando é bom que se leve boas bordoadas, pra destrinchar o orgulho. Aliás, o orgulho e a vaidade são a Aids e o Câncer do escritor: alguns têm incubados, outros em pleno processo de expansão".

Charles Kiefer, 1987. SeteContos SetenEncantos, Org. Elias José

RENATO RUSSO 5.0



Renato Russo faria 50 anos dia 27 de março.

Como se não houvesse amanhã, lançamento da Editora Record, é um livro de contos organizado por Henrique Rodrigues. São vinte histórias inspiradas em músicas da banda Legião Urbana. A orelha do livro é do jornalista e produtor musical José Emílio Rondeau:

A Legião Urbana poderia ter sido apenas uma banda de rock. Mas tornou-se bem mais que um grupo musical que mudou as regras do jogo, ao impor sua assinatura, sua personalidade, suas convicções e sua ética a uma indústria fonográfica que apodrecia, a um país em transição. Quando a música da banda demonstrou ser capaz de traduzir e espelhar a intrincada trama de emoções dos meninos e meninas que descobriam o mundo e a si próprios – e, assim, passavam a se expor a todas as vicissitudes que isso implica -, a Legião virou ícone, fábula, religião, conselheira e influência.

O que você segura agora nas mãos é manifestação do alcance imenso de canções que poderiam ter se contentado em ser meras pepitas pop – o que já teria sido muito -, mas que atravessam os tempos intactas e potentes graças a uma universalidade e uma profundidade que cativam e inspiram; canções que emocionam, que ensinam, que aceleram a pulsação ou empurram lágrimas para fora, que fazem lembrar, que fazem pensar. Que iluminam a condição humana.

Este livro poderia ter sido apenas uma coleção de contos baseados em canções pop. No entanto, as obras nele incluídas extraem trechos, sensações, intenções e sugestões para formar um caleidoscópio rico e multifacetado, que – assim como a melhor canção pop – reflete todos nós.

Lista dos autores e das músicas:

Alexandre Plosk – Que país é este

Ana Elisa Ribeiro – Andrea Doria

Carlos Fialho – Faroeste Caboclo

Carlos Henrique Schroeder - Há tempos

Daniela Santi - Será

Henrique Rodrigues - Acrilic on canvas

João Anzanello Carrascoza – Pais e filhos

Manoela Sawitzki – Giz

Marcelo Moutinho – Vento no litoral

Mariel Reis – Música de trabalho

Maurício de Almeida – Sagrado coração

Miguel Sanches Neto – Meninos e meninas

Nereu Afonso da Silva – Ainda é cedo

Ramon Mello – Sereníssima

Renata Belmonte – Por enquanto

Rosana Caiado – Eduardo e Mônica

Sérgio Fantini – Música Urbana 2

Susana Fuentes – Quando o sol bater na janela do seu quarto

Tatiana Salem Levy – Tempo perdido

Wesley Peres – Monte Castelo


RAMON DO LIVRO
Por Júnior de Paula

Amanhã Renato Russo faria 50 anos e as homenagens vão ser incessantes. Merecidamente. Uma das mais bacanas veio pelas mãos de uma nova geração de escritores reunidos na antologia Como se não houvesse amanhã, da Editora Record. Trata-se de um livro de contos organizado por Henrique Rodrigues com 20 histórias inspiradas em músicas da Legião Urbana. Ramon Mello optou por transformar em prosa os versos de Sereníssima. “Quando adolescente, eu achava que ia ser o Renato Russo. Passava as tardes ouvindo os discos da Legião Urbana, que herdei de um tio, em uma vitrola velha”, relembra. Olhando para o futuro, Ramon trabalha na adaptação teatral do romance Todos os cachorros são azuis, de Rodrigo de Souza Leão, morto em julho de 2009, e organiza o último romance escrito por Souza Leão, Me roubaram uns dias contados.

[Heloisa Tolipan - Jornal do Brasil - 26/03/10]





quinta-feira, março 18, 2010

CUBA LIBRE

Marcio Debellian foi a Cuba e conversou com a escritora Yoani Sánchez. Assista ao vídeo exclusivo do site Saraiva Contéudo:








Leia o artigo sobre a entrevista, aqui!

EM DEFESA DO RIO

Cerca de 150 mil pessoas protestaram contra o projeto do petróleo na Cinelândia

Por Ramon Mello

Nem mesmo a forte chuva que caiu sobre a cidade nesta quarta-feira (17/03) impediu que cerca de 150 mil pessoas fossem às ruas manifestar seu apoio ao movimento 'Contra a Covardia, Em Defesa do Ri'o, proposto pelo Governador Sérgio Cabral.

A concentração foi na Candelária, de onde saíram vários carros de som, que acompanharam os pedestres pela Avenida Rio Branco em direção à Cinelândia. A manifestação ocorreu em clima de festa, com muita música e representantes dos movimentos Funk, GLBT, Contra a Intolerância Religiosa, entre outros.

Pela manhã, manifestantes chegavam de vários municípios, em centenas de ônibus. No início da tarde, escritórios e empresas do centro da cidade liberaram seus funcionários para participarem da manifestação.

Artistas e intelectuais tiveram como ponto de encontro a Casa França-Brasil, de onde saíram com a Secretária de Estado de Cultura, Adriana Rattes. Diversos grupos culturais do interior do estado vieram ao Rio participar do protesto. De acordo com Adriana Rattes, este ato tornou-se uma grande mobilização popular.

"Esta manifestação tomou conta das ruas, da internet e vai muito além de uma iniciativa do próprio governo. As pessoas entenderam que é preciso lutar e defender o Rio. Se não mostrarmos o que pensamos, correremos o risco de sermos, mais uma vez, vítimas de uma legislação que muito nos prejudicará", disse a Secretária de Cultura.

Segundo Adriana Rattes, é a primeira vez durante muitos anos que há um governo estadual preocupado com a cultura carioca e fluminense. A secretária considera esta iniciativa um fator estratégico no desenvolvimento do estado, e somente assim o valor do Rio de Janeiro será reconhecido em todas as culturas do Brasil.

O artista plástico Vik Muniz, um dos primeiros a vestir a camisa ‘Mexeu com o Rio, mexeu comigo’, sintetizou:

"Estão tentando fazer chover no nosso piquenique. É bonito ver o povo se mobilizar por uma causa importante para o Rio."

Para a bailarina Ana Botafogo, a classe artística deve estar unida e se manifestar contra a emenda.

"Estamos todos aqui para darmos apoio ao nosso governador. Também estamos de braços dados e mãos dadas para defendermos esta história dos royalties do petróleo. Daqui a pouco, esta caminhada será feita com muita música, dança, enfim, com muita alegria, como é a característica do povo carioca. Não estamos brigando com ninguém, apenas estamos defendendo o que é nosso", concluiu a bailarina.

A atriz Xuxa Lopes, fez coro: "É bonito ver a população unida para protestar por seus direitos. Eu não poderia deixar de participar da passeata, os artistas têm de dar as mãos para defender os interesses do Rio de Janeiro. Não podemos sair perdendo, a cultura principalmente."

Já o cineasta e diretor de teatro Marcus Faustini comentou que sempre adorou Ibsen - o dramaturgo norueguês - , mas que depois da emenda do pré-sal, está até com medo de falar no nome do dramaturgo.

"O Estado do Rio de Janeiro perderá como um todo se esta emenda for aprovada. É uma mudança de regras no meio do caminho que não pode existir. É bom que todos se manifestem; não há como deixarmos isto ir adiante. O governador está fazendo muito bem chamando o estado para reagir diante deste fato", disse a presidente do Theatro Municipal, Carla Camurati.

A apresentadora Xuxa Meneghel, gaúcha como do deputado Ibsen Pinheiro, também esteve presente. "Sou gaúcha, mas escolhi o Rio para viver".

Performances

Durante toda manifestação podia-se ver peformances da população. Um dos atos mais frequentes foi a simulação do enterro do deputado gaúcho Ibsen Pinheiro, autor da emenda que retira do Rio royalties do petróleo.

Antônio Menezes de Campos de Goytacazes, no Norte Fluminense, contou sua vinda para o Rio:

"Saí da minha cidade com mais 10 mil pessoas para protestar contra esse absurdo, uma politicagem. Eles aprontam esta e depois ainda querem passar o fim de semana no Rio de Janeiro."

Ao redor da Praça da Cinelândia, as caravanas que vieram do interior do estado se agrupavam com faixas e cartazes contra o projeto do petróleo aprovado pela Câmara dos Deputados e encaminhado ao Senado. Estudantes pintaram o rosto de azul e branco, lembrando o movimento Caras-Pintadas, que pediu o impeachment do ex-presidente Fernando Collor.

Em um palco montado em frente à Câmara dos Vereadores, políticos, incluindo o governador Sérgio Cabral e o prefeito do Rio, Eduardo Paes, deram as mãos para mostrar que a união apartidária faz a força em um momento em que o grande perdedor é o estado do Rio de Janeiro. Sem discursar no palco, Cabral afirmou, em coletiva à imprensa, que a manifestação foi uma grande demonstração de amor ao Rio:

"Esta é uma demonstração de amor ao Rio. Milhares de pessoas estão aqui debaixo desta chuva toda. Todos nós tomamos uma decisão muito bacana, de não politizar o ato entre A, B ou C. Estão aí artistas, políticos, todos mostrando esta marca do Rio de Janeiro, que é a da generosidade, da parceria", disse o governador.

Toni Garrido apresentou o evento, que contou com a apresentação de Fernanda Abreu, Furacão 2000 e MC Sapão - e o povo dançou até cansar embaixo da chuva.

[Texto publicado originalmente no portal Cultura.RJ, da Secretaria de Cultura do Estado]


sexta-feira, março 12, 2010

ARTISTAS CONTRA A EMENDA DO PRÉ-SAL

Por Ramon Mello e Sandra Menezes

A decisão da Câmara dos Deputados favorável ao projeto do Pré-sal que redistribui os royalties do petróleo do Rio tem provocado indignação na sociedade civil. Artistas e intelectuais tem se manifestado contra a decisão que irá diminuir radicalmente o orçamento dos municípios: o Rio perde R$ 7 bilhões de receita, além da arrecadação potencial futura.

O cineasta Cacá Diegues, natural de Maceió, se solidariza com o Governador Sérgio Cabral, que chorou ao final de uma palestra para estudantes da PUC ao ser perguntado sobre o assunto.

"O governador chamou isso de linchamento e eu concordo plenamente com ele. Mais do que um linchamento isso é uma subversão da natureza. Estão querendo tirar o pré-sal do lugar onde ele está.", diz Cacá Diegues.

Para o produtor cultural Perfeito Fortuna, presidente da Fundição Progresso, a decisão dos deputados é inconstitucional e tem de ser confrontada.

“É um tremendo absurdo! Todos têm de se manifestar contra essa vergonha, um ato inconstitucional. Políticos interessados em eleição que desejam aparecer em seus estados, tirando o que é do Rio. Na hora de usar o Rio em campanha nacional, a Cidade Maravilhosa, todos querem. Mas eles não pensam na população, em nossa cultura. Os artistas, os cidadãos do Rio de janeiro estão indignados! Vamos enforcar esses “Judas” nos Arcos da Lapa e colocar fogo! Vamos protestar!”, afirma Fortuna, que vai aproveitar o Baile de Aleluia na Fundição Progresso, no Dia de Judas, para malhar os seis deputados que não compareceram à votação da emenda.

A revolta contra a emenda proposta pelo deputado Ibsen Pinheiro (PMDB-RS), também chegou ao poeta Ferreira Gullar, que lamentou o desaparecimento do interesse público na política brasileira.

“Essa emenda é uma violência na política brasileira. Isso é o que povo ganha no período eleitoral. Esse deputado, o Ibsen, é do Sul, quer aparecer, ficar conhecido por ter levado o lucro do petróleo para o seu estado. Esse Congresso é lamentável, uma tristeza. É o andamento da política populista do presidente Lula. Estão pensando no interesse público? Não”, critica o poeta maranhense, radicado no Rio de Janeiro desde 1951.

A cantora carioca Fernanda Abreu prefere acreditar na sensibilidade do presidente Luis Inácio Lula da Silva, que tem o poder de vetar o projeto.

"Estou convencida que o presidente Lula não vai deixar passar essa agressão que estão tentando fazer com o Estado do Rio de Janeiro. Ele sabe que o estado do Rio do Rio de Janeiro será palco, nos próximos seis anos, dos maiores eventos esportivos do mundo e que o Brasil terá uma visibilidade internacional sem precedentes. Confiamos no presidente Lula e nos senadores que pensam em projetos de futuro para o país”, diz a cantora.

[Texto publicado originalmente no portal Cultura.RJ, da Secretaria de Cultura do Estado]



terça-feira, março 09, 2010

HISTÓRIAS DE AMOR DURAM APENAS 90 MINUTOS

o roteirista paulo halm faz uma belíssima estreia na direção com ‘histórias de amor duram apenas 90 minutos':




sinopse:

"Caio Blat é Zeca, um jovem escritor, vivendo a crise dos trintas anos e Maria Ribeiro é Júlia, mulher independente e bem resolvida. Entre eles surge Carol, vivida pela atriz argentina Luz Cipriota, que chega para desestabilizar a relação do casal. O ator Daniel Dantas completa o elenco, no papel do pai de Zeca, um homem crítico que mantém uma relação fria e distante com o filho. Hugo Carvana faz uma participação especial."

sábado, março 06, 2010

GULLAR 8.0


Ferreira Gullar é homenageado na Casa do Saber

Por Ramon Mello (SaraivaConteúdo)

Ao lado Antonio Carlos Secchin e Adriana Calcanhotto, o poeta Ferreira Gullar participou da homenagem organizada pela Casa do Saber do Rio de Janeiro para celebrar seus 80 anos de vida.

Com o auditório lotado, o diretor da Casa do Saber, Armando Strozenberg, iniciou a celebração dando boas-vindas aos convidados e afirmando que Gullar o “ensinou que a vida sem arte não existe”. Em seguida, dedilhando o violão, Adriana Calcanhotto cantou o poema ‘Traduzir-se’, do livro Na Vertigem do Dia, de Gullar:

Uma parte de mim / é todo mundo: / outra parte é ninguém: / fundo sem fundo // Uma parte de mim / é multidão: / outra parte estranheza / e solidão. // Uma parte de mim / pesa, pondera: / outra parte / delira. // Uma parte de mim / almoça e janta: / outra parte / se espanta. // Uma parte de mim / é permanente: / outra parte / se sabe de repente. // Uma parte de mim // é só vertigem: // outra parte, / linguagem. // Traduzir uma parte / na outra parte / — que é uma questão / de vida ou morte — /será arte?

Ao fim da música, coube ao poeta e acadêmico Antônio Carlos Secchin apresentar Ferreira Gullar e sua obra. O texto lido por Secchin foi escrito para ocasião da candidatura do poeta ao Prêmio Nobel de Literatura, em 2002.

“Antes fazer essa leitura, quero dizer que verifiquei no Google: Gullar tem milhões com referências ao seu nome. Um poeta brasileiro com essa quantidade enorme de referências não pode ser pouca coisa.”, disse Secchin.

Visivelmente emocionado, Ferreira Gullar leu seus poemas prediletos para a platéia. E, antes de cada leitura, Gullar falava sobre gênese dos poemas. As histórias, que resumiam fatos cotidianos, revelaram a grandeza do poeta diante de seus “espantos”.

“A poesia nasce do espanto. Uns poemas nascem da reflexão, outros do acontecimento.”, disse o poeta ao falar sobre o nascimento de um poema, que surgiu ao olhar uma foto aérea da sua cidade natal quando trabalhava como editor de uma revista de arquitetura no Rio.

Ao falar sobre o poema ‘A Casa’, escrito no Brasil e reescrito em Moscou, Gullar afirmou: “A vida é uma invenção”. Os versos foram reescritos porque, ao sair do país, o poeta achou que tivesse perdido o papel. Mas ao retornar para casa descobriu que o poema descansava na gaveta.

A criação de um belo poema, partindo ou não de uma realidade inventada, pode surgir de um simples cheiro de uma flor ou uma fruta:

“Desde criança como tangerina e o cheiro dela me persegue. O cheiro me remetia a algo escondido. Eu queria escrever um poema, mas não tinha o que escrever. Escrever o que? ‘A tangerina é bonita’? Não. Fui pesquisar, descobri que tangerina é a laranja da China. Até que o poema começou a nascer de uma frase: ‘Com raras exceções, os minerais não tem cheiro’. Percebi o nascimento e comecei a escrever. Temos de ficar atentos ao nascimento do poema”, afirma Gullar e completa:

“Sabe quando escrevi ‘Nasce o poema’? Eu estava numa entrevista quando uma repórter me perguntou: ‘Como nasce o poema’? Comecei a explicar e percebi que estava nascendo o poema. Terminei a entrevista e fui para casa escrever o poema que estava nascendo.”

Um dos momentos mais bonitos da leitura de Gullar foi com o poema ‘Meu Pai’: meu pai foi / ao Rio se tratar de / um câncer (que / o mataria) mas / perdeu os óculos / na viagem // quando lhe levei / os óculos novos / comprados na Ótica / Fluminense ele / examinou o estojo com / o nome da loja dobrou / a nota de compra guardou-a / no bolso e falou: // quero ver / agora qual é o / sacana que vai dizer / que eu nunca estive / no Rio de Janeiro.

Ao anunciar “o último poema com historinha”, Gullar relembrou em versos o artista plástico Iberê Camargo. O poeta ficou amigo de Iberê após a tragédia que ocorreu nos anos 80: “O Iberê saiu para rua, à procura de uma loja de cartões natalinos, e quando parou numa esquina de Botafogo para assistir a discussão de um casal. O marido se irritou. Iberê sacou a arma e matou o homem.”

A pedido de Antonio Carlos Secchin, Gullar leu o famoso poema ‘Cantiga para não morrer’, mas antes brincou: “Mas a Claudia está na platéia”., referindo-se a companheira Claudia Ahimsa que assistia a cerimônia. O poema foi escrito para uma mulher que conheceu quando estava exilado na Rússia.

Seguindo a leitura, Adriana Calcanhotto cantou o poema, que musicou com o nome de ‘Me Leve’: Quando você for se embora, / moça branca como a neve, /me leve. / Se acaso você não possa / me carregar pela mão, /menina branca de neve, / me leve no coração. // Se no coração não possa / por acaso me levar, / moça de sonho e de neve, / me leve no seu lembrar. // E se aí também não possa / por tanta coisa que leve / já viva em seu pensamento, / menina branca de neve, / me leve no esquecimento.

Secchin perguntou a Calcanhotto: “Como você conheceu a poesia de Gullar?”

“Minha mãe é professora e dava aula de manhã, de tarde e de noite. Então, ela só descansava depois do almoço – no momento que eu tinha que lavar louça. Ou seja, eu tinha que lavar louça sem fazer barulho. Desenvolvi uma técnica: ligava o rádio, baixinho. Assim que conheci o Gullar, numa canção. E depois na televisão, ele dizia loucuras. Gullar mudou minha vida.”

E, depois da conversa, Adriana cantou ‘Um gato chamado gatinho’, poema de Gullar, musicado para o show Adriana Partimpim. “O poeta é autor de literatura infanto-juvenil, mas quando lida com as crianças fala dos bichos. Drummond com os elefantes, Cecília com as borboletas e Gullar com os gatos, bichos domésticos.”, afirmou Secchin.

Há 11 anos sem publicar um livro de poemas, Ferreira Gullar leu poemas do livro inédito Em alguma parte alguma, que será publicado pela editora José Olympio.

“A poesia custa a nascer, não é que eu esteja trabalhando os poemas há 11 anos. Há poetas que conseguem trabalhar um tema, mas eu não sigo esse caminho. Como tudo é inventado, o espanto é interpretado a partir da minha visão de vida. Uma parte do livro é sobre o mistério do mundo. A idéia de ordem e desordem está presente. Meu livro novo abre com um poema intitulado ‘Fica o não dito por dito’. Ou seja, o que tenho de dizer não está no livro.”, brinca o poeta antes de ler poemas inéditos.

Conduzindo o término do encontro, Secchin pediu que Gullar contasse a história do ‘Trenzinho Caipira’, poema feito a partir de ‘Bachianas No 2’ de Villa-Lobos.

“Demorei 10 anos para fazer esse poema. Essa era a música que eu ouvi numa viagem de trem com meu pai. Eu queria fazer o poema para ele. Mas só fiz o poema quando estava exilado, escrevendo O ‘Poema Sujo’. Deixei da máquina, ouvi o disco do Villa-Lobos que carregava comigo e escrevi o poema."

Simulando o som de um trem nos acordes da guitarra, Adriana Calcanhotto cantou o 'Trenzinho Caipira'. Gullar, muito emocionado, ouvia de olhos fechados e mãos entrelaçadas. A platéia aplaudiu finalizando o encontro. Gullar: “Um violão substitui uma orquestra”.

As homenagens não terminaram, Calcanhotto pediu para cantar uma música atual, celebrando o Gullar de hoje, 'Definição da moça' – letra feita a partir do poema que Gullar fez para a esposa Claudia Ahimsa.

Como defini-la / Quando está vestida / Se ela me desbunda / Como se despida? // Como defini-la / Quando está desnuda / Se ela é viagem / Como toda nuvem? // Como desnudá-la / Quando está vestida / Se está mais despida / Do que quando nua? // Como possui-la / Quando está desnuda / Se ela toda é chuva? / Se ela toda é vulva?

“Temos que aproveitar que a musa está na platéia”, disse Calcanhotto.

Armando Strozenberg encerra brindando com os convidados: “Vamos lançar aqui o movimento FGA: Ferreira Gullar na ABL!”

>> Assista à entrevista exclusiva com o poeta Ferreira Gullar no SaraivaConteúdo:

HELÔ 7.0

Heloisa Buarque de Hollanda entrevistada por Edney Silvestre no programa Espaço Aberto, da GloboNews. Edição com imagens raras dos poetas Cacaso e Ana Cristina Cesar lendo seus poemas.


sexta-feira, março 05, 2010

COMO SE NÃO HOUVESSE AMANHÃ


[clique na imagem para ampliar]

A editora Record vai lançar a antologia Como se não houvesse amanhã, na qual 20 escritores fãs da Legião Urbana escolheram uma música preferida e fizeram um conto. A organização é do poeta Henrique Rodrigues.

Dentre os autores, Miguel Sanches Neto, Marcelo Moutinho, Tatiana Salem Levy, Wesley Peres, Manoela Sawitzki, Maurício de Almeida e eu Ramones.

Renato Russo faria 50 anos dia 27 de março.

quarta-feira, março 03, 2010

LEMBRANÇA DO BOITATÁ



[peter pan e a bailarina de vermelho - 14 de fevereiro, domingo, aniversário do ramones - praça xv, boitatá, bloco do chupa aqui!]