domingo, agosto 05, 2012

ILUMINA, POR JOÃO PENONI


TEXTO, REVISTA DE DOMINGO



MUITO ALÉM DA BANANA E DO FEIJÃO
Ramon Mello
Rio-Londres, 2012. 
Imagine um grande casarão do século XIX lotado com ideias e energias de 30 artistas do Rio de Janeiro; assim tem sido o dia-a-dia na residência artística do Rio Occupation London. Desde que chegamos para as olimpíadas culturais, no dia 07 de julho, além de costurar a cidade pela malha de transporte underground, a atividade mais intensa tem sido criar, livremente. Um privilégio criar nesta cidade, embora o verão chuvoso deixe parte da viagem um pouco melancólica. Keep walking.
Nas malas, cada artista trouxe seu calling card para a abertura do trabalho organizado pelo Battersea Arts Centre. No BAC, onde estamos baseados, cada cômodo é ocupado com música, literatura, artes visuais, teatro, fotografia, cinema e performance. Nada para inglês ver, definitivamente. Arte para se relacionar, de fato. Para além da banana e do feijão, muito além dos clichês, que não renegamos, mas engolimos e regurgitamos na busca de algo diferente: aprendizagem antropofágica.
Emocionante acompanhar o processo de cada artista, seja Laura Lima, criando um filme que não é um filme; João Penoni interferindo no espaço com o próprio corpo, borrando os limites entre corpo e imagem; João Sanchez criando pinturas a partir dos meus poemas; Pedro Rivera com seu “camelondon”; Robson Rozza incorporando a performática miss Aretha Sadick; Siri (nosso Sir. I) fazendo música como uma criança com um novo brinquedo; ou Pedro Miranda, Edu Grau, Domenico, Alessandra Maestrini e Felipe Rocha fazendo os ingleses cantarem e dançarem no Brazilian Kitchen...
Todos os passos são registrados nas fotos de Ratão e nos vídeos de Paulo Camacho, e instantaneamente disponibilizados no calçadão virtual, o Facebook. São diversas as produções orquestradas por Christiane Jatahy, Gringo Cardia e Paul Heritage, impossível descrever o trabalho de todos os artistas. Em cada dia, um novo aprendizado.
Mais do que a possibilidade de trabalhar com artistas ingleses e ocupar instituições como Victoria and Albert Museum, Tate Modern ou Southbank Centre, a intensa troca diária com os artistas brasileiros tem sido a motivação do encontro. Afetividade. Não falamos de afinidade, somos distintos. Que tipo de linguagem pode se criar a partir desses afetos? Ainda não sabemos. A busca começa no final dessa viagem, no Brasil.
A viagem encerra no dia 5 de agosto, mas a sensação é que vivenciamos juntos alguns dias “fora do tempo”. Na bagagem, a oportunidade de recomeçar e agradecer por tudo que foi recebido nesse período.

Ramon Mello é poeta e jornalista, autor de Vinis Mofados (Língua Geral, 2009) e Poemas tirados de notícias de jornal (Móbile Editorial, 2012).

Conheça os 30 artistas do Rio Occupation London:

Alessandra Maestrini
Anna Azevedo
Andrea Capella
Bernando Stumpf
Breno Pineschi
Bruno Vianna
Dina Salem Levy
Domenico Lancellotti
Eddu Grau
Eduardo Nunes
Emanuel Aragão
Eric Fuly
Felipe Rocha
Gustavo Ciríaco
João Brasil
João Penoni
João Sánchez
Laura Lima
Luciana Bezerra
Marcela Levi
Paulo Camacho
Pedro Miranda
Pedro Rivera
Ramon Mello
Ratão Diniz
Robson Rozza
Siri
Stella Rabello


MISTURA BRASILEIRA EM LONDRES, O GLOBO


Os trabalhos e as histórias da ocupação de 30 artistas do Rio na capital inglesa

por André Miranda

Os artistas cariocas selecionados para a ocupação
foto: Ellie Kurtz

LONDRES - Há um mês, a maior preocupação dos responsáveis pelo Battersea Arts Centre (BAC), espaço cultural no sul de Londres, era como seria receber 30 brasileiros por uma temporada. Eles chegaram no início de julho para dormir, comer e criar no BAC, formando o maior grupo que já se hospedou no centro ao mesmo tempo. Hoje, após um período de música, vídeos, fotos, bananas penduradas e feijoada para cem pessoas — enfim, manifestações artísticas de todos os tipos —, a grande preocupação do povo do BAC é como será ficar, a partir do próximo domingo, sem os brasileiros.

O grupo de 30 artistas está na Inglaterra pelo Rio Occupation London, projeto criado pela Secretaria de Estado de Cultura do Rio como parte da programação oficial dos Jogos Olímpicos. Todos atuam em território fluminense e foram selecionados para trocar experiências e criar coletivamente. Há gente de vários campos das artes, assim como há campos para todas as gentes. A ocupação mostrou como as artes podem se integrar às pessoas, ao espaço, ao tempo.

O resultado, prova maior dessa integração, está na exposição montada nos galpões de uma antiga fábrica de biscoito de Londres, atualmente um centro de exposições e estúdios, o V22. A mostra foi aberta anteontem e fica em cartaz até amanhã.

— Quando estão num processo de pesquisa, os artistas precisam conviver com outras pessoas. É assim que vão alcançar uma elasticidade em seus trabalhos — afirma a artista visual Laura Lima, uma das participantes da ocupação.

— O que interessa para a gente é o que está entre as áreas. É um processo que coloca todo mundo em risco — acrescenta o músico Domenico Lancelloti, outro integrante da comitiva.

A turma chegou a Londres na primeira semana de julho. No BAC, eles se dividem em quartos individuais ou coletivos, a maioria com lembranças deixadas por artistas que já passaram por lá. Por exemplo: um dos quartos é um salão com seis cabanas, como casas de bonecas gigantes, dentro das quais ficam as camas. Em outro, a cama é suspensa por cordas e pode balançar enquanto o artista dorme.

As festas costumam acontecer numa das cozinhas do BAC. Assim, foi pelo estômago, literal e metaforicamente, que um dos frutos mais interessantes da ocupação foi gerado. Liderados por Pedro Miranda, Domenico, Eddu Grau, Felipe Rocha, Siri, João Brasil e Alessandra Maestrini formaram a big band Brazilian Kitchen (em português, Cozinha Brasileira). A novíssima banda fez três apresentações no BAC, uma para mais de cem pessoas. Só que o caldo não era apenas musical: enquanto tocavam, eles cozinhavam para a plateia. O cardápio foi de feijoada a xinxim de galinha.

— Numas das apresentações, vieram uns romenos. Todos tocaram com a gente. Agora vamos nos reunir mais uma vez na sexta, no V22 — conta Pedro Miranda.

A convivência no BAC não é somente entre os artistas fluminenses. Lá são encenadas peças de teatro, grupos de ingleses se reúnem para oficinas, e mães passeiam com seus filhos. No último domingo, foi realizado um casamento indiano num salão grande nos fundos. Na terça, houve um baile de idosos.

Nesse mesmo salão, Siri fez funcionar um órgão fabricado em 1900 e parado há décadas. Já numa das festas na cozinha, o poeta Ramon Mello juntou a turma para recitar versos de Sylvia Plath. Na escada que dá acesso ao segundo andar, foram pendurados painéis feitos em papel de arroz por João Sanchez. E na calçada em frente ao BAC, há sinais do trabalho de Breno Pineschi: bananas coloridas presas a postes.

— Aqui, pessoas que não se conheciam acabaram se descobrindo — conta Christiane Jatahy, que, ao lado de Gringo Cardia, responde pela direção artística da ocupação. — Nada acontece individualmente. No meu trabalho, por exemplo, todos participaram. Fizemos 14 apresentações em casas londrinas, para pessoas que haviam respondido um anúncio que publicamos. Houve desde um muçulmano que mora num barco até uma senhora de 92 anos. O Paulo Camacho filmou tudo e vamos transformar esse material num documentário. Todos os artistas que estão aqui fazem parte de um grande corpo. (Veja os vídeos no canal do artista no Youtube)
Ontem, esse corpo praticamente se mudou do BAC para o V22, a 30 minutos de distância, incluídos metrô e trem. A exposição dos brasileiros, com entrada gratuita, reúne instalações, performances, pinturas, filmes e tudo mais que a imaginação deles pôde criar. Eduardo Nunes transformou os quatro narradores do romance “De verdade”, do húngaro Sándor Márai, numa videoinstalação de quatro telas que alteram o ambiente de acordo com o personagem que esteja falando para o público.

Luciana Bezerra deixou uma pequena casa montada numa praça durante dias, onde recebia pessoas para conversar. Dessas conversas, fez cinco vídeos num formato de diário de viagem, exibidos na exposição. João Penoni, por sua vez, fez autorretratos animados, em que o corpo se funde ao espaço. Enquanto isso, Domenico criou vídeos sensoriais de três a quatro minutos para acompanhar a trilha sonora feita em parceria com o irlandês Sean O'Hagan, ex-integrante do Stereolab.

Já Anna Azevedo trouxe imagens de duas cerimônias em homenagem a Iemanjá, na Urca e na Praça XV, à noite e pela manhã. A videoinstalação, “Janaína”, é apresentada em duas telas que se encontram com ângulo de 130 graus, com trilha de Siri que, diz ela, dá “roupagem contemporânea a uma imagem tradicional”.

Além dos já citados, a Rio Occupation London teve a participação de Andrea Capella, Bernardo Stumpf, Bruno Vianna, Dina Salem Levy, Emanuel Aragão, Eric Fuly, Gustavo Ciríaco, Marcela Levi, Pedro Rivera, Ratão Diniz, Robson Rosa e Stella Rabello. Todos têm de 20 a 40 e tantos anos, e pretendem dar continuidade às parcerias surgidas em Londres quando o projeto se encerrar. A ideia é que no início de 2013 o Rio receba um grupo de artistas ingleses para uma ocupação na Lapa.

RIO OCCUPATION LONDON, ESTADÃO




London 2012 - Rio Occupation London



Artistas brasileiros "ocupam" área de Londres

RIO OCCUPATION LONDON, PPP - VÍDEOS


Day#1 Arrival



30 Artists, 30 Days - Rio Occupation London

RIO OCCUPATION LONDON, PAULO CAMACHO - VÍDEOS

rio occupation london #1
 rio occupation london #2
 rio occupation london #3
 rio occupation london #4
 rio occupation london #5
 rio occupation london #6
 rio occupation london #7
 rio occupation london #8
 rio occupation london #9
 rio occupation london #10
 rio occupation london #11
 rio occupation london #12
 rio occupation london #13
 rio occupation london #14
 rio occupation london #15
 rio occupation london #16
 rio occupation london #17
 rio occupation london #18

sábado, agosto 04, 2012

ENDLESS POEM - LONDON, HIGH TIDE

'Endless poem', performance a partir do  'Poem traversed by the sampler manifesto'
HighTide,V22 - Londres [julho/agosto 2012]


fotos: Gui Perdigão























































Endless Poem

Written by Ramon Mello with contributions by HighTide writers Vickie Donoghue & Kenny Emson
Design by João Sánchez
Composed by Siri

Directed by Rob Drummer

Performed by Sean Hart

The poet Ramon Mello will be resident at HighTide Festival Theatre in London and alongside artist João Sánchez will collaborate with director Rob Drummer on a new performance work, Endless Poem. This bold new work will feature a large-scale mural by João and contributions from HighTide writers, representing a dynamic collision between visual, poetic and performance languages. The streets of Clerkenwell will provide the backdrop for this daring experimentation in form, narrative and intercultural performance, as well as inspire both Ramon and João in further work throughout the occupation.

 The Performance, in Progress

On Friday 20 July there’ll be an opportunity to get a ?rst look at this new performance. For more details please click here

Date / Time: 20th July from 5pm

Address: The Farmiloe Building, 34, St John Street, London, EC1M 4AY

 Endless Poem forms part of the Rio Occupation Finale Festival at V22, The Biscuit Factory from 1-3 August.

POPPIES IN JULY - BATTERSEA, LONDON

leitura de poemas de Sylvia Plath, comemoração dos 80 anos
 Battersea Art Centre, Londres [julho de 2012]



fotos: João Penoni