sexta-feira, outubro 31, 2008

CÉU

Arrumo os livros em caixas de papelão. Mudanças. Na vitrola O Grande Circo Místico me lembra que é necessário brincar, ser criança. Caixas Piraquê: Baudelaire, Drummond, Ruffato, Chico Buarque, Manuel Bandeira: Estrela da Vida Inteira – edição de 1965, capa dura, Mestres da Literatura Brasileira. Abro o livro, leio aleatoriamente, página 30:

Lua Nova

Meu novo quarto
Virado para o nascente
Meu quarto, de novo a cavaleiro de entrada da barra.

Depois de dez anos de pátio
Volto a tomar conhecimento da aurora.
Volto a banhar meus olhos no mênstruo incruento das madrugadas.

Todas as manhãs o aeroporto de frente me dá lições de partir.

Hei de aprender com ele
A partir de uma vez
- Sem medo,
Sem remorso
Sem saudade.

Não pensem que estou aguardando a lua cheia
- Esse sol da demência
Vaga e noctâmbula
O que mais eu quero,
O de que preciso
É de lua nova.

Manuel Bandeira - Rio, agosto de 1953

CADÊ?


cadê meus cinqüenta reais? urso de pelúcia com tatuagem de tartaruga ninja, filho da puta. foi você? entro no ônibus. cadê o dinheiro filho único? não tem a passagem, desce. banco do brasil, saldo negativo. fudeu.

segunda-feira, outubro 27, 2008

RECADO, por Daniel Gonzaga



Show de lançamento do CD "Comportamento Geral", no Teatro Rival dia 12/03/2008.

IMAGENS DO INCONSCIENTE



“Quando existe um alto grau de crispação do consciente, muitas vezes somente as mãos são capazes de fantasia. Elas modelam ou desenham figuras que são muitas vezes completamente estranhas ao inconsciente”.

C.G.Jung





Darcílio Lima - Casa das Palmeiras - Rio de Janeiro



domingo, outubro 26, 2008

ARQUEÓLOGA DOS MARES - NISE



‘Nise – Arqueóloga dos Mares’, de Bernardo Carneiro Horta, é o livro que estou lendo para realizar a próxima entrevista do CLICK(IN)VERSOS. Não se trata de uma biografia, mas um ‘biografema’ da psiquiatra Nise da Siveira. Bernardo usou as palavras do escritor francês Roland Barthes para convencer a ‘dama do inconsciente’ sobre o livro.

O biografema nunca é uma verdade objetiva, ele nada mais é do que uma anamnese factícia – o que empresto ao autor que amo. A biografemática, ciência do biografema, teria como objetivo pormenores isolados da vida da vida da gente. Essa biografia fragmentada diferiria da biografia-destino, onde tudo se liga tentando fazer sentido. O biografema é o detalhe aparentemente insignificante, fosco – a narrativa e a personagem no grau zero, meras virtualidades de significação. Por seu aspecto sensual, o biografema convida o leitor a fantasiar, a compor, com estes fragmentos, um outro texto, que é, ao mesmo tempo, do autor amado e dele mesmo, o leitor.

O autor teve o privilégio de conviver com Nise da Silveira durante os últimos anos de vida, no Grupo de Estudos C.G.Jung. O resultado é um livro especial sobre a brasileira que mudou a história da psiquiatria no Brasil. Leia esse trecho:

Certa vez, ao ver alunos de psicologia manuseando e comentando livros sobre o tema, Dra. Nise disparou:

“Rasguem os manuais de psiquiatria! Leiam Machado de Assis. Seria mais proveitoso trocar certos tratados de psiquiatria pelos livros deste que é o maior escritor brasileiro de todos os tempos, primeiro grande mestre de psicologia. Suas obras analisam com mais profundidade a alma humana. Quem quiser aprender psicologia, pra valer, deve ler Machado. Não houve melhor psicólogo, no mundo. Ele rivaliza com Willian Shakespeare, que também era escritor – ambos saíram-se grandes autores de psicologia. Vocês concordam? Em Hamlet, o personagem de Shakespeare parece estar desvairado, fora de si. Todos acham que está louco. Então há uma resposta à altura: ‘Desvario sim, mas tem seu método!’ Todo delírio tem um sentido, e cabe ao psiquiatra e ao psicólogo apurá-lo com a visão, olfato e sensibilidade afiados para compreender que método é este. Não é a toa que Machado de Assis cita Hamlet em sua obra”.

Além de recomendar a leitura do Bruxo do Cosme Velho e do Bardo, a Dra. também indicava obras de Dostoieviski e Marcel Proust.

"Seria muito vantajoso que o estudante trocasse vários de seus manuais de psicologia por ‘Em busca do tempo perdido’. Por favor, não me venham com jargões psiquiátricos! Isso é o Grupo de Estudos C.G.Jung. Um grupo de respeito!”, dizia.

PARABÉNS GABEIRA!!!



Gabeira, parabéns! Infelizmente, alguns cariocas preferem os 'jovens promissores' da politicagem brasileira. Agora devemos nos preparar para a maior roubalheira 'da história desse país'.

sexta-feira, outubro 24, 2008

ONDA VERDE: GABEIRA 43!

AMANHÃ, SÁBADO, 10H NO LEME: ONDA VERDE PARA ELEGER GABEIRA.


COLEÇÃO DE AMORES

O múltiplo Rodrigo Bittencourt, meu caro amigo, lançou o clipe da música 'Coleção de Amores', parceria com profeta Jorge Mautner. A direção é do curitibano-carioca Fabiano Vianna, o Fabz, outro talento. É do Fabz o layout do CLICK(IN)VERSOS; o clipe 'Garoto de Aluguel', com Thaís Gulin e o trailer do livro 'Guerra dos Bastardos', de Ana Paula Maia. Salve Mascarenhas!

quinta-feira, outubro 23, 2008



LADO B

desculpa
mas essa música
não quero mais
ouvir

sua voz arranhada
já não convence
vira o lado do
disco

aproveita e dorme


segunda-feira, outubro 20, 2008

CONFISSÃO

Digo e escrevo palavras mentirosas para me proteger. Decepção. Quero preservar o carinho e a amizade, mas preciso de tempo para me reconstruir.

ODEIO VOCÊ




Odeio

Composição: Caetano Veloso

veio um golfinho do meio do mar roxo
veio sorrindo pra mim
hoje o sol veio vermelho como um rosto
vênus, diamante, jasmim
veio enfim o e-mail de alguém

veio a maior cornucópia de mulheres
todas mucosas pra mim
o mar se abriu pelo meio dos prazeres
dunas de ouro e marfim
foi assim, é assim, mas assim é demais também

odeio você, odeio você, odeio você
odeio

veio um garoto do arraial do cabo
belo como um serafim
forte e feliz feito um deus, feito um diabo
veio dizendo que sim
só eu, velho, sou feio e ninguém

veio e não veio quem eu desejaria
se dependesse de mim
são paulo em cheio nas luzes da bahia
tudo de bom e ruim
era o fim, é o fim, mas o fim é demais também

odeio você, odeio você, odeio você
odeio

sexta-feira, outubro 17, 2008



Encontrei com a poeta e filósofa Viviane Mosé no ‘Talho Capixaba’, Rio de Janeiro, para uma conversa sobre filosofia, psicanálise e processo criativo.


A entrevista está no BLOG CLICK(IN)VERSOS.


Aproveita e visita o blog da Viviane Mosé, a poeta acabou de estrear na blogosfera. Leia um trecho do primeiro post dela:


"Há muito tempo ensaio este instante: uma página em branco disposta a meus comentários, impressões, artigos, poemas. Mas a urgência se juntou ao medo de ter que dar conta de uma demanda que não sei se posso ou consigo. Então novamente a necessidade de falar, que sempre atravessou minha garganta. Acho que tem um nó de letras entalado em minha voz que não canta. Então palavras me ofereço e agora compartilho com quem tiver iniciativa de passar por aqui.

Aviso que nem sempre estarei com palavras muito novas, mas toda segunda vou tentar alimentar um tema, ou poema antigo ou inédito, ou contribuição de algum autor que tenha me chamado atenção. E são tantos. No mais vamos ver o que esta tela de luz viva e tão atravessada por pessoas me inspira, se mais medo ou ousadia, ou se um alguém que em mim anda dormindo e aqui vai querer voltar a acordar. Confesso que já estou gostando. Este caminho de letras se delineando''.

EMEIO




Chega em casa e vai direto para o computador. Abre a caixa de e-mail, vinte e três mensagens não lidas. Lê a primeira da lista, 'ONTEM':


(...) saudades da sua bundinha.

Resposta:

NÁDEGAS A DECLARAR: CÚ NÃO TEM CORAÇÃO.

quarta-feira, outubro 15, 2008

SORRISO DO GATO DE ALICE


Sim. Eu sei da existência do disco 'O Sorriso do Gato de Alice', de Gal Costa. Mas não foi por esse motivo que batizei o blog. Foi por causa do livro 'Alice no País das Maravilhas' e do gato de Alice, Cheshire. Até porque Gal HOJE é chata! Ficou tia velha, presa ao passado. Se eu tiver de escolher uma cantora da geração dela, fico com Maria Bethânia. Mas gosto da GAL ONTEM, anos 70, com o disco 'Vapor Barato', em parceria Waly Salomão. Esse disco não sai da minha vitrola. Sim tenho uma vitrola, ainda não me converti ao MP3.




Ah essa teoria Gal ONTEM, Gal HOJE não é minha. Mas de um crítico musical...

ASSISTA:

Cenas do filme ‘Terra Estrangeira’, de Walter Salles e Daniela Thomas, com a música ‘Vapor Barato’ cantada por Gal Costa.




Gal Costa promovendo o disco 'O Sorriso do Gato de Alice' no Faustão, em 1993.





Gal Costa no Programa Roda Viva, da TV Cultura, conversando sobre o show "O Sorriso do Gato de Alice" dirigido pelo Gerald Thomas. Polêmica: os peitinhos da Gal.



FELINOS



'O gato de Alice sorriu pra mim e sumiu na multidão. Como encontrar um gato que não quer ser encontrado? Um gato invisível. Nas ruas às vezes acho que vejo os olhos ou o sorriso, nunca o gato inteiro. Por que sorriu? Por que sorriu e sumiu? Quando achei que ia chegar ao País das Maravilhas, tive que voltar e acordar. O gato existiu ou foi só um sonho? Não sei o que fazer. Não sei o que pensar’.

Se você não aceita o meu silêncio, então vou ser direto: recebi as flores, agradeci e avisei que eu não merecia. Ou melhor, não mereço. Eu não presto! Sério. Sou desses que gosta de figurinhas repetidas, mesmo quando a cola já está gasta. Só desisto delas quando enjôo. Tá certo que já enjoei de algumas figuras, mas não o suficiente para desgrudarem dos meus dedos. Não, não joguei suas cartas no lixo. Mas me assustei com os envelopes amarelos no chão do meu conjugado logo pela manhã, confesso. Publiquei suas palavras porque são bonitas – espero que não se importe. Não duvido dos seus sentimentos, admiro a coragem e a insistência. Se fosse em outros tempos, eu faria o mesmo: flores, presentes e cenas dramáticas na portaria do prédio. Algumas coisas funcionaram, outras nem tanto. Valeu a pena? Talvez. Foi difícil aturar o desprezo. Peço desculpas pela frieza, mas é melhor assim. Tenho de ser duro (sem trocadilho, por favor) para que compreenda o meu momento. Sim, egoísmo. Tive que aprender a olhar meu umbigo para me defender de uma depressão filha da puta. Um umbigo sujo, mas meu. Quem sabe não nos esbarramos numa dessas esquinas sujas de Copacabana? Vai que surge a chance de vivermos um conto de amor escrito por um desses autores deprimidos dos anos 80. Ouvir vinil, falar de literatura e trepar o dia inteiro. Gira mundo, lembra? Respeite os instantes, por favor. Sempre fujo quando o carinho é excessivo e no tempo errado. Percebe como sou parecido com seu gato? Por falar no felino, miados de agradecimento pelas fotografias. Preso por um imã na porta da geladeira, ele me observa digitar essas palavras. Sonho ou realidade? Trata-se de ficção, das melhores. Acredite. Cartas, posts, palavras sinceras e sentimentos confusos. Engano. Não é um romance, infelizmente. Repito: sou viciado em relacionamentos fracassados, minha cocaína. Por enquanto, estou em processo de recuperação. Abstinência. Pense em você e invente o seu mundo encantado sem medo do ridículo. É inevitável.

CAMPANHA NU GROBOOO



hum eu tava bêbado, mas não me arrependo. GABEIRA 43!

sexta-feira, outubro 10, 2008

FIDELIDADE PARTIDÁRIA, NATURALMENTE


Fui ao show 'Naturalmente', da Margareth Menezes, no Mistura Fina, em Ipanema. Não, não sou fã dela. Admiro o trabalho da Margareth cantora de axé. Mas estou repensando o assunto. Cafona. Enfim, fui para acompanhar um amigo que definiu bem o show dela: ‘axé em banho maria’. Encostei no bar e tomei vodka - uma, duas, três, quatro doses - e algumas cervejas. Ou seja, fui muitas vezes ao banheiro. Numa dessas idas e vindas, encontrei a Benedita da Silva. Bêbado, não me contive e perguntei gritando: Bené, como você pode apoiar o Eduardo Paes? Ela riu, me abraçou e respondeu: ‘Fidelidade partidária, acompanho o meu partido. Essa é a minha contribuição para o Rio. Querido, gosto do Gabeira mas não dá...’ Que pena, Benedita! Que pena.

quinta-feira, outubro 09, 2008

PORTAL LITERAL 2.0



ENTONCES: Estou trabalhando como repórter no Portal Literal - convite da escritora Cecilia Giannetti e da professora Heloisa Buarque de Hollanda. O clima da redação é ótimo, meio esquizofrênico. Salve Valeska e Dorigatti!

Entrei no momento de migração, agora o Portal Literal é 2.0 . Ou seja, o Portal Literal está mudando a maneira como se produz, divulga e conhece literatura no Brasil.

Os escritores podem publicar diretamente seus textos. E as editoras também podem publicar press releases, convites para lançamentos e eventos literários, entrevistas com autores e professores, fotos em alta definição, vídeos e áudios relacionados.

Basta fazer o cadastro e você ganha um perfil no Portal Literal:

http://portalliteral.com.br/registro

>>> Se quiser entender a mudança, dá uma lida no texto preparado pela Equipe do Portal Literal:

A reformulação do Portal Literal, que se torna agora totalmente integrado ao modelo colaborativo, inclui sistemas de comentários, mecanismos de indexação (tags) e distribuição de conteúdo por RSS, além das ferramentas para publicação de conteúdo por todos os usuários cadastrados.

O novo Portal Literal busca, portanto, agregar, organizar e difundir conteúdo literário pela web, de acordo com licenças de Creative Commons.

Permanecem como elementos estruturais deste Portal os acervos de Lygia Fagundes Telles, Rubem Fonseca, Zuenir Ventura, Ferreira Gullar e Luis Fernando Verissimo, precioso patrimônio histórico cultural e resultado de uma extensa pesquisa em seus arquivos pessoais.

É mantida também a produção exclusivamente editorial de nossa equipe, demarcada no site pelo selo Editorial em artigos, reportagens, entrevistas, nas Oficinas Literárias e no concurso mensal de contos Exercícios Urbanos que fazem grande sucesso entre nosso público.

Todo o conteúdo pode ser discutido no Blog da Redação, que é interativo e manterá os usuários informados sobre temas relativos ao site, permitindo que sugiram pautas para desenvolvimento e assuntos para debate.

O segmento colaborativo inclui um Banco de Cultura, em que agora podem ser submetidos diretamente ao site arquivos de texto, bem como áudio e vídeo, entre outros; permitindo, inclusive, a publicação online de obras inteiras bem como o download de livros de novos autores de língua portuguesa de qualquer parte do país e do exterior. A comunidade do Portal Literal conhecerá em primeira mão essas obras, que, com sua participação, ganharão visibilidade.

Nossos leitores passam, desta forma, a atuar como autores e editores de um novo Portal Literal, que construiremos juntos.

Escritores, editores, jornalistas, assessorias, críticos, blogueiros, estudantes e professores ganham uma comunidade cultural online, inteiramente aberta às contribuições de seus integrantes, seja em prosa, poesia ou no debate em torno de nossa paixão em comum: a forma escrita.

quarta-feira, outubro 08, 2008

ESPINHOS

, mesmo sem merecer, sou acordado com um buquê de rosas vermelhas. o porteiro diz: tem umas flores pro senhô na portaria. obrigado. mas não mereço, acredite. só admiro os espinhos, masoquista. vício de relacionamentos desgastados.

segunda-feira, outubro 06, 2008

APRENDIZAGEM II

''Uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra pra frente".

Clarice Lispector - 'Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres'

sexta-feira, outubro 03, 2008

GABEIRA 43


Gosto de política. Mas tomei nojo da politicagem brasileira. Domingo é dia de eleição, vou para Araruama votar. Por lá as coisas pegam fogo, políticos corruptos aproveitam a falta de fiscalização para comprar votos.


Se eu votasse no Rio meu candidato seria o Gabeira - 43. De acordo com o Datafolha, Crivella e Gabeira estão tecnicamente empatados. Se Crivella perder a vaga para o segundo turno, diminuem em muito suas chances de voltar a concorrer como governador em 2010.

>>> NELSON MOTTA - GABEIRA 43:

UTOPIA CARIOCA

Sempre que vejo na televisão a propaganda do TSE mandando a gente ficar de olho nos nossos eleitos, sinto um certo constrangimento e uma sensação de ridículo institucional. Mas também um estranho orgulho e um vago sabor de superioridade: há várias eleições voto no deputado Fernando Gabeira e nunca me decepcionei com seus votos, atitudes e atuação política, mesmo quando, às vezes, discordo de seus pontos de vista. Sua honestidade e inteligência são inquestionáveis.

É uma felicidade democrática ter alguém que realmente representa no Congresso o que você pensa e acredita. Isto também é quase ridículo, porque é uma exceção do que deveria ser a norma, como é em países civilizados. Mas fiquei ainda mais orgulhoso agora que ele impôs suas condições para ser o candidato da frente PV-PSDB-PPS à prefeitura do Rio de Janeiro.

Não pediu poderes ilimitados, nem caminhões de dinheiro, nem submissão dos partidos à sua vontade: exigiu uma campanha limpa, sem ataques pessoais, propositiva; divulgação pela Internet dos fundos e despesas da campanha, e o principal: caso eleito, que o secretariado seja escolhido por méritos e critérios profissionais e não partidários, sem o habitual loteamento como moeda de troca por apoio político. Ele não acha que só porque 'todos' fazem errado ele deve fazer também. É quase uma utopia. Mas se é a realidade em países civilizados, por que não, um dia, no Brasil?

Conhecido por sua trajetória dedicada aos direitos humanos, à ecologia, saúde, educação e cultura, com reconhecida capacidade de diálogo democrático e tolerância, sem concessões à ladroagem e à política-como- ela-é, o que ele propõe é o óbvio. Mas parece um sonho quase impossível.

O Rio de Janeiro merece esta esperança.

Nelson Motta.

>>> CAETANO VELOSO - GABEIRA 43:


CONCLUSÃO:

SE VOCÊ FUMA, SENTA OU CHEIRA, VOTE NO GABEIRA!!!

ACORDO ORTOGRÁFICO


A partir de 2009 o novo acordo ortográfico entra em vigor. Uma palhaçada! Fiquei com pena do trema, coitado.

Hífen

Desaparecerá em palavras em que o segundo elemento comece com "r" e "s", como "anti-rábico" e "anti-semita" . A grafia

Acento diferencial

Não se usará mais acento para diferenciar "pára" (verbo) de "para" (preposição) ou "pêlo" (substantivo) de "pélo" (verbo) e "pelo" (preposição mais artigo)

Acento agudo

Desaparecerá nos ditongos abertos "ei" e "oi" em palavras como "idéia" e jibóia" e nas palavras paroxítonas com "i" e "u" tônicos, quando precedidos de ditongo em palavras como "feiúra"

Acento circunflexo

Desaparecerá em palavras com duplo "o", como vôo e enjôo e na conjugação verbal com duplo "e", como vêem e lêem.

Trema

Deixará de existir, só permanecerá em nomes próprios, como Hübner ou Müller.

Alfabeto

Passará a ter 26 letras, ao incorporar "k", "w" e "y".

COLAÇÃO DE GRAU


Detesto cerimônias, mas não tive como escapar da minha colação de grau: jornalismo. Não avisei a ninguém porque sei como essas coisas são chatas e cafonas. Na verdade, avisei só para amigos próximos. Mas, justamente pela amizade, eles me pouparam. Minha mãe, meu irmão mais velho e minha cunhada compareceram. Coitados. Primeiro tive que vestir uma beca horrorosa, sem falar naquele chapeuzinho quadrado. E o calor? De terno, com aquele troço por cima. Com um monte de gente desconhecida, 170 formandos e ninguém da minha turma. Eu só conhecia as pessoas de teatro. O mestre de cerimônias era um homem muito parecido com Belchior, só que a voz dele era de locutor de rádio AM. E tinha um casal de cantores com roupas de padrinhos de casamento. Mas isso não era nada, o repertório deles era terrível: uma mistura de gospel com mpb brega. O circo durou umas quatro horas, haja saco. Todos os formandos foram obrigados a ficar sentados no palco, atrás da mesa solene, ouvindo aquelas homenagens toscas. A única coisa engraçada foi que umas meninas levaram cartazes escondidos na beca: ‘Calma. Só faltam 2 horas!’; ‘Obrigado, Google’. Enfim, acabou.

PÓS-PALAVRA

depois do filme, festinha com pessoas queridas. foto 1 - ainda sóbrio. foto 2 - não sabia o próprio nome. fotos: tomás rangel.




SANTA SATISFAÇÃO



Na Santa Clara, leio o jornal, aguardo meu café e reparo em você: óculos pretos com armação grossa e uma cara de sapatão francesa. Gosto disso. Fantasio: leciona francês. Será? Não, tem as pernas bonitas demais para essa função. Pernas que horas depois vou lamber e apertar enquanto seu gato me olha com desejo. Borges, ele se chama. Não imaginei o nome, mas gostei ao saber. Quando descobri que já havíamos nos esbarrado em Copacabana, perto do Metrô da Siqueira Campos, levei um susto. Então foi você quem me encarou no domingo, na saída da agência bancária. Engraçado. Aqui estou, enroscado nos seus pelos, como se eu fosse muito íntimo. Não me importo. Você apenas me disse que estuda medicina. Não posso esquecer, também fez faculdade de música. Piano. Pena ter abandonado, tem dedos lindos. Negou meu pedido, não tocou nada pra mim. Mas colocou um gringo no Ipod. Uma intimidade tão estranha que fico envergonhado. Não fazia idéia que nos conhecíamos de vista, lembrei apenas dos seus sapatos. Sim. Temos em comum a coleção de romances fracassados. Escrevi um poema com essa expressão: romances fracassados. Mas só digo se você tocar. Não? Tudo bem, não vou insistir. Nunca aprendi nenhum instrumento. Besteira. Ganhei um violino quando era adolescente, mas desisti pela dificuldade. Sempre desisto das coisas no primeiro obstáculo, foi assim com o balé. Calma. Estou mudando, acho. Então, troquei meu violino por CD’s. Com licença, vou ser clichê e acender um cigarro depois da trepada. Posso? Obrigado. Não ri. Prometo que é só um. Vou embora, preciso escrever. Gosto de trabalhar de madrugada, movido a café. Jornalista. Levanto cedo todos os dias, só um pouco mal-humorado. Borges. Adorei seu gato. Um dia vou adotar um filhote, é uma promessa antiga. No meu conjugado não cabe mais ninguém. Sim, moro sozinho. Verdade. Pode me dar um copo d'água? Mais um pouquinho, tô com sede. Tem papel higiênico no banheiro? Preciso me limpar, meu umbigo está uma poça de porra. Qual a sua especialidade? Tá me ouvindo? Doenças do sistema imunológico. Que horas? Melhor eu ir embora. Anota meu telefone: oito-quatro-três-dois-cinco-nove-um-dois. Pronto. Salva na agenda e liga qualquer dia. Ainda lembra o meu nome? Tenho a memória péssima, deve ser a maconha. Me leva até o elevador? Tchau, Borges. Boa noite.