“Sou um anjo com vocação para demônio.
(...)
O que me assombra na loucura é a distância – os loucos parecem eternos. Nem as pirâmides do Egito, as múmias milenares, o mausoléu mais gigantesco e antigo, possuem a marca de eternidade que ostenta a loucura.
De novo: o que me assombra na loucura é a eternidade.
Ou: a eternidade é a loucura.
Ser louco para mim é chegar lá.
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Hospício são flores frias que se colam em nossas cabeças perdidas em escadarias de mármore antigo, subitamente futuro. (...) Hospício é não se sabe o quê, porque Hospício é Deus.
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O hospício é uma cidade triste de uniformes azuis e jalecos brancos.
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Não aceito nem compreendo a loucura. Parece-me que toda a humanidade é responsável pela doença mental de cada indivíduo. Só a humanidade toda evitaria a loucura de cada um.”
[Maura Lopes Cançado, 'Hospício é Deus' (1965)]