domingo, outubro 26, 2008

ARQUEÓLOGA DOS MARES - NISE



‘Nise – Arqueóloga dos Mares’, de Bernardo Carneiro Horta, é o livro que estou lendo para realizar a próxima entrevista do CLICK(IN)VERSOS. Não se trata de uma biografia, mas um ‘biografema’ da psiquiatra Nise da Siveira. Bernardo usou as palavras do escritor francês Roland Barthes para convencer a ‘dama do inconsciente’ sobre o livro.

O biografema nunca é uma verdade objetiva, ele nada mais é do que uma anamnese factícia – o que empresto ao autor que amo. A biografemática, ciência do biografema, teria como objetivo pormenores isolados da vida da vida da gente. Essa biografia fragmentada diferiria da biografia-destino, onde tudo se liga tentando fazer sentido. O biografema é o detalhe aparentemente insignificante, fosco – a narrativa e a personagem no grau zero, meras virtualidades de significação. Por seu aspecto sensual, o biografema convida o leitor a fantasiar, a compor, com estes fragmentos, um outro texto, que é, ao mesmo tempo, do autor amado e dele mesmo, o leitor.

O autor teve o privilégio de conviver com Nise da Silveira durante os últimos anos de vida, no Grupo de Estudos C.G.Jung. O resultado é um livro especial sobre a brasileira que mudou a história da psiquiatria no Brasil. Leia esse trecho:

Certa vez, ao ver alunos de psicologia manuseando e comentando livros sobre o tema, Dra. Nise disparou:

“Rasguem os manuais de psiquiatria! Leiam Machado de Assis. Seria mais proveitoso trocar certos tratados de psiquiatria pelos livros deste que é o maior escritor brasileiro de todos os tempos, primeiro grande mestre de psicologia. Suas obras analisam com mais profundidade a alma humana. Quem quiser aprender psicologia, pra valer, deve ler Machado. Não houve melhor psicólogo, no mundo. Ele rivaliza com Willian Shakespeare, que também era escritor – ambos saíram-se grandes autores de psicologia. Vocês concordam? Em Hamlet, o personagem de Shakespeare parece estar desvairado, fora de si. Todos acham que está louco. Então há uma resposta à altura: ‘Desvario sim, mas tem seu método!’ Todo delírio tem um sentido, e cabe ao psiquiatra e ao psicólogo apurá-lo com a visão, olfato e sensibilidade afiados para compreender que método é este. Não é a toa que Machado de Assis cita Hamlet em sua obra”.

Além de recomendar a leitura do Bruxo do Cosme Velho e do Bardo, a Dra. também indicava obras de Dostoieviski e Marcel Proust.

"Seria muito vantajoso que o estudante trocasse vários de seus manuais de psicologia por ‘Em busca do tempo perdido’. Por favor, não me venham com jargões psiquiátricos! Isso é o Grupo de Estudos C.G.Jung. Um grupo de respeito!”, dizia.

2 comentários:

Anônimo disse...

um lindo livro sobre uma linda mulher...

o blog tá bacana.

bjo

Unknown disse...

Engraçado...um dos melhores professores da Gama falou para largarmos os manuais e lermos literatura...acho que ele andou contactando a Nise!