quarta-feira, fevereiro 18, 2009

MINHA ANALISTA SURTOU




Um furacão passou na minha vida, em 2008: o namoro de (quase) três anos acabou; mudei de casa e bairro; perdi um emprego e ganhei outro para perder logo depois; e finalmente terminei a faculdade.

Como se não bastasse tudo isso, minha analista surtou! Verdade. Essa é a minha conclusão, depois chorar, gritar e tentar desesperadamente entrar em contato com ela: liguei, mandei e-mail, deixei recado na secretária eletrônica, fui até o consultório... Nenhum sinal de vida. Nada.

Achei que ela tivesse se matado. Uma analista famosa se suicidou recentemente no Rio de Janeiro, sabia? Mas esse não foi o fim dela, graças a Deus! Eu iria me sentir muito culpado. De certa forma o desaparecimento me trouxe um pouco de culpa, pelo menos no início. Pensei: “Será que ela não suportou ouvir meus problemas? O que eu fiz?”

Depois que o porteiro do prédio me informou que ela prosseguia com o atendimento, fiquei puto! Um mês depois, resolvi deixar um recado malcriado na secretária eletrônica dizendo que queria meus textos de volta, que iria denunciá-la na imprensa, etc. e tal. Depois de muita insistência, ela enviou um e-mail, sem título e sem assinatura, com duas frases:

Os textos solicitados estarão disponíveis sexta-feira, dia 06 de fevereiro, na portaria do prédio no horário de 9h às 17h. Solicito informar quando serão quitadas as consultas em aberto.

Ela ainda teve coragem de me cobrar!?! Então, respondi:

“Vou mandar alguém pegar os textos. Quando vou pagar as consultas? Quando você tiver a dignidade de marcar um dia para explicar o que está acontecendo. Você acha profissional o que está fazendo? Não entendo como uma psicanalista pode desaparecer. Desistiu de me atender e não existe motivo? Quero saber. Tenho direito.”

E copiei uma outra psicanalista no e-mail, como testemunha.

Quem é ela? Não vou dizer, pelo menos agora. Mas vou descrevê-la: magra, alta, cabelos grisalhos, parece com a Clarice Lispector e tem jeito de sapatão francesa. Ela atende no Leblon, na Rua Venâncio Flores, e freqüenta bastante a Livraria Argumento. A mulher adora livros, o consultório é abarrotado deles.

Nossas conversas eram sempre em torno da literatura e dos meus fantasmas, é claro. Escrevi meu romance All Star Bom é All Star Sujo durante o tratamento, não posso reclamar. Para quem acreditava que a análise bloqueava o processo de criação - tolice! – até que o resultado foi gratificante. Inclusive, vou dedicar meu livro a ela, só que in memoriam. Para sobreviver, resolvi matá-la – dentro de mim, que fique claro!

Quem me indicou essa analista? Ninguém. Conheci a espécie rara numa palestra Sociedade de Psicanálise da Cidade do Rio de Janeiro (SPCRJ) sobre depressão e processo criativo. Mas ela não é da Sociedade, estava só assistindo, como eu e meu amigo que fez o convite para conferência. Decidi fazer análise com ela porque parecia com a Clarice Lispector, confesso. Quem manda, né?! Devia ter lembrado que Clarice não era fácil.

Um analista tem todo o direito de não querer me atender mais um paciente. No entanto, eles têm a obrigação de fazer esse desligamento. A surtada podia dar uma desculpa, dizer que não dava mais para receber tão pouco ou coisa parecida. Mas não, optou pelo silêncio. Sumiu. Desapareceu. Escafedeu-se. E se eu estivesse muito deprimido e quisesse me jogar na Conde de Bonfim? Entraria para a lista dos poetas suicidas. Não, não faz meu gênero – creio.

O que devo fazer? Disseram para denunciá-la no Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro (CRP-RJ). Não sei. Estou em dúvidas, acho que devo dar mais um tempo para ela pensar, colocar a cabeça no lugar. Hum?

Só sei de uma coisa: Não quero entrar num consultório de psicanálise tão cedo. Freud e Jung que me desculpem, mas vou precisar de um tempo para voltar a confiar em outro profissional. Estou de luto.

Um comentário:

Roberto Dias disse...

As vezes sinto-me assim: incompreendido, silencioso, solitário.
Ms na poesia sou livre, um arauto e falo bem alto.

Tenho um blog como você e lá divulgo meus pensamentos.

Gostaria de trocar poesias?