domingo, janeiro 17, 2010

JORNAL DA UNIÃO, PARAÍBA


Por Leonardo Davino

Destacar os melhores de 2009 não é tarefa fácil. Mas dou minha contribuição, neste período de balanços e expectativas, apontando o que continuará (me) tocando em 2010.

Na música tivemos: Pelo sabor do gesto, disco que confirma Zélia Duncan como uma das cantoras que melhor sabe escolher repertório; Certa manhã acordei de sonhos intranquilos, de Otto, é um objeto híbrido capaz de amalgamar vários matizes do experimento cancional; além do denso e redentor Zii e Zie, de Caetano Veloso; e do avassalador Maria Alcina confete e serpentina, da sempre fulgurante Maria Alcina.

Entre as exposições, frente ao luto pelo incêndio que destruiu parte do acervo de Hélio Oiticica: Obranome II reuniu os mais significativos objetos da poesia visual do Brasil; Pierre et Gilles - a apoteose do sublime trouxe alguns bons exemplos da obra da dupla francesa; e Vertigem, dos gêmeos Gustavo e Otávio Pandolfo, mostrou a união do grafite com o realismo fantástico típicos dos irmãos.

Já no cinema, alheio à invasão dos vampiros, 2009 teve: o bonito Milk, com um competente Sean Penn; o diagnóstico preciso de Entre os muros da escola; e o inquietante e pop (500) dias com ela. Por aqui, Coração vagabundo, Palavra(en) cantada, Dzi Croquettes e Simonal - ninguém sabe o duro que dei se destacam entre os documentários (categoria reinante) que retrataram figuras e épocas que contribuem para a riqueza da canção e da cultura brasileiras. Mas, certamente, o velhinho Carl Fredricksen, de Up - altas aventuras, roubou a cena.

Na literatura, tivemos o lançamento de Vinis mofados, o aguardado livro de poesia de Ramon Mello. Além de registrar como o diálogo entre canção e poesia é muito tênue, o autor consegue, através de versos rápidos (mas demonstradores de boa lapidação), imprimir o cotidiano de forma tão prazerosa (mesmo com dor) que a vida parece mesmo valer a pena; além do livro Entre milênios, reunião póstuma dos escritos de Haroldo de Campos, que mostra o mestre atento ao novo e à tradição.

Mas entre as surpresas de 2009 (ano do centenário de Carmen Miranda), Sílvia Machete é rainha. Com presença e voz marcantes, suas bolhas de sabão fizeram o ano passar mais leve.

A outra impactante surpresa foi ouvir Pedro Miranda. Sua voz (com algo de Clementina de Jesus) é forte e doce, cheia de tradição, mas sem se desconectar de seu tempo. O cd Pimenteira é o melhor (pela revelação) de 2009.


Um comentário:

Anna Luisa Araujo disse...

Muito legal. Tá mandando bem, Ramones. Beijoca.