Cineasta iraniano continua preso no Teerã
Protestos contra a prisão do diretor de cinema Jafar Panahi tomam a web
Por Ramon Mello
O prestigiado cineasta iraniano Jafar Panahi, 49 anos, premiado internacionalmente e que manifestou o seu apoio à oposição do presidente Mahmud Ahmadinejad, continua preso em Teerã. Panahi foi preso há um mês com a família.
Jafar Panahi conquistou o público brasileiro com seu primeiro longa, O Balão Branco, de 1995, realizado depois de alguns documentários e dois filmes para a televisão. Nos anos 90, as produções iranianas ganharam as salas de cinema por todo o país. Panahi chegou a ganhar o prêmio do júri na 19.ª Mostra de Cinema de São Paulo, o da Associação de Críticos de Nova York e o Camera d'Or no Festival de Cannes.
O procurador-geral de Teerã, Abbas Jafari Dolatabadi, afirmou que Panahi "não foi detido por ser um artista ou por razões políticas, mas porque cometeu um delito". No entanto, somente no dia 31 de março a família conseguiu visitá-lo na prisão. Panah Panahi, filho do cineasta, disse que Jafar foi levado da sua residência com a mulher, a filha e os convidados para um local desconhecido por homens vestidos à civil que irromperam pela casa na segunda feira à noite. Após as detenções, os agentes fizeram uma busca pela casa e confiscaram o seu computador, além de outros pertences não especificados.
O cinema iraniano fez a cabeça de muitos cineastas do mundo inteiro, inclusive no Brasil. O cineasta Walter Salles, diretor de sucessos como Central do Brasil (1998) e Diários de Motocicleta (2004), contesta a política do governo iraquiano:
"A prisão de Jafar Panahi é um ato de absoluta arbitrariedade, próprio aos regimes totalitários que não aceitam a existência de vozes dissonantes. Jafar Panahi é um cineasta de extrema sensibilidade, com uma obra marcada por uma profunda crença no humanismo. Fiz parte do juri da Mostra de São Paulo que lhe conferiu o prêmio de Melhor Filme para "O Balão Branco". As imagens desse filme estão comigo até hoje. Que Panahi esteja preso há mais de 30 dias revela o quanto o governo iraniano desconhece os preceitos básicos dos direitos humanos", afirma Salles.
O diretor e roteirista Roberto Gervitz, diretor de Feliz Ano Velho (1987) e Jogo Subterrâneo (2005), entre outros filmes, também protesta contra a prisão de Panahi:
“Além de representar uma ameaça da estatura do Jafar, essa prisão mostra como está a situação política no Irã. A comunidade cinematográfica deve se manifestar para que Panahi seja solto. No dia 15 de abril haverá um movimento internacional para fazer exibições dos filmes dele. Quem puder, tem de colaborar. É uma luta a favor da liberdade. A prisão de qualquer cineasta, famoso ou não, é um atentado à democracia. E isso nós brasileiros conhecemos bem”, defende Gervitz, que assinou já assinou uma petição online em defesa do cineasta. A petição conta com mais 2 mil assinaturas, entre eles Cacá Diegues e Pedro Almodovar.
O International Film Festival Rotterdam confirmou a exibição dos filmes de Jafar Panahi, com a cooperação do Museu do Cinema, em Amseterdã, que vai exibir o filme O Balão Branco.
O International Film Festival Rotterdam confirmou a exibição dos filmes de Jafar Panahi, com a cooperação do Museu do Cinema, em Amseterdã, que vai exibir o filme O Balão Branco.
No Brasil, a Associação de Cineastas Brasileiros está organizando a projeção dos filmes de Panahi no Rio de Janeiro e em São Paulo. Em São Paulo a projeção acontecerá no Arteplex, graças ao empenho do diretor Leon Cakoff. E no Rio será na PUC, conforme organização do cineasta Silvio Tendler da ABRACI (Associação Brasileira de Cineastas).
Além da petição, a web tem servido de tribuna para universitários, críticos e cineastas promovem protestos e debates contra a prisão de Jafar Panahi.
No site de relacionamentos Facebook, por exemplo, cerca de três mil internautas de diferentes nacionalidades – em sua maioria americanos, iranianos e brasileiros - se reúnem na página Free Jafar Panahi! Para trocar informações sobre o cineasta, acompanhando as notícias.
No Twitter, o crítico de cinema Amir Labaki [@aimarlabaki] reclamou, no dia 10 de maio, sobre a falta de cobertura da imprensa no caso Panahi:
"Jafar Panahi, diretor iraniano, está preso há dias. Sem acusação formal. A notícia sumiu da mídia. Se não houver grito, será calado.", twittou Labaki.
A produtora de cinema Tatiana Leite, idealizadora da mostra Faça Você Mesmo – O Novo Cinema da Malásia, que mantém contato com a família do cineasta desde que participou do Fajar International Film Festival, em 2004, está indignada com a prisão.
“Panahi não é um ativista, é um cineasta. Estamos chocados porque o governo de Ahmadinejad está censurando a liberdade de expressão. Isso é um absurdo. A prisão dele representa um retrocesso, o povo iraniano é muito ligado às artes. O Brasil tem boas relações diplomáticas com o presidente iraniano, podemos pedir a libertação de Jafar Panahi”, diz Tatiana.
No início do mês passado, os organizadores da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo divulgaram um comunicado de protesto:
“Nós da Mostra Internacional de Cinema manifestamos a nossa indignação pela prisão do cineasta e amigo Jafar Panahi pelo governo do Irã”.
[Texto publicado originalmente no portal Cultura.RJ, da Secretaria de Cultura do Estado]
2 comentários:
Eu adorei esse filme..."Balão Branco"...e não sabia da prisão de Jafar...
Sem dúvida uma perseguição...
Beijos
Leca
Eu adorei esse filme..."Balão Branco"...e não sabia da prisão de Jafar...
Sem dúvida uma perseguição...
Beijos
Leca
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