segunda-feira, fevereiro 28, 2011

HOSPÍCIO É DEUS

“Sou um anjo com vocação para demônio.

(...)

O que me assombra na loucura é a distância – os loucos parecem eternos. Nem as pirâmides do Egito, as múmias milenares, o mausoléu mais gigantesco e antigo, possuem a marca de eternidade que ostenta a loucura.

De novo: o que me assombra na loucura é a eternidade.

Ou: a eternidade é a loucura.

Ser louco para mim é chegar lá.

(...)

Hospício são flores frias que se colam em nossas cabeças perdidas em escadarias de mármore antigo, subitamente futuro. (...) Hospício é não se sabe o quê, porque Hospício é Deus.

(...)

O hospício é uma cidade triste de uniformes azuis e jalecos brancos.

(...)

Não aceito nem compreendo a loucura. Parece-me que toda a humanidade é responsável pela doença mental de cada indivíduo. Só a humanidade toda evitaria a loucura de cada um.”


[Maura Lopes Cançado, 'Hospício é Deus' (1965)]

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