quinta-feira, fevereiro 06, 2014

AMPLIANDO A CONSCIÊNCIA POLÍTICA

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“Que tempos são esses em que é necessário defender o óbvio?”
Bertold Brecht
Felizmente a vida surpreende, estamos despertando de um sono profundo. A população – principalmente o estudante, vanguarda das transformações sociais – está nas ruas do Brasil clamando por mudança, a maioria de forma pacífica, ampliando a consciência política. E violência e vandalismo? Reflexo da desigualdade em que vivemos, não faz parte do grito de paz do povo que ecoa pelo país.
Neste novo tempo só acredito em revolução relacionada com a paz – a maior transformação que podemos realizar. Tente fazer algo, qualquer coisa que seja, sem paz. Impossível. Alguns indivíduos consideram anacrônica (ou até ingênua) a cultura da paz. Como se o movimento de pacificação estivesse dissociado da reflexão crítica. Talvez porque essa palavra esteja esgarçada pelo uso, como diz a poeta Viviane Mosé sobre a necessidade de ressignificação de algumas palavras e conceitos no livro ‘Receita para lavar palavra suja’. Sejamos paz, então, em nossas ações, diariamente.
Falo de um estado de harmonia, onde os opostos se equilibram. Quem está acostumado a meditar com freqüência ou praticar a espiritualidade (não falo de religião, é bem diferente) consegue vislumbrar esse estado com mais facilidade, aquietando a mente e o coração. Isso está muito além de sentar em posição de lótus. Não se trata de inércia, pelo contrário, movimento contínuo, ação em harmonia. É preciso disposição para pacificar-se, ainda mais num mundo em que a cultura da guerra e violência está em nosso cotidiano. Impossível? Não. É um desafio, possível e gratificante.
Sempre me considerei uma pessoa engajada, principalmente por aprender ainda menino lições de política com meu pai. Descobri cedo que o poder quando mal usado pode causar estragos. E quando fui estudante da Escola Estadual de Teatro Martins Penna e me tornei presidente do Grêmio Renato Vianna aprendi muito sobre democracia. No entanto, a palavra paz não se encontrava no meu dicionário. Ou, estava lá, e eu a ignorava. Hoje posso afirmar que faz muita diferença pensar e exercitar a política pelo prisma da paz.
“A Paz é barulhenta”, costuma afirmar Ana Vitória Monteiro, fundadora da Ong Paz Sem Fronteiras. De fato, é verdade, podemos constatar nas ruas, nas postagens das redes sociais, nas matérias de jornais e televisão. Os milhares de cidadãos que estão indo às ruas desejam um mundo em paz, com menos desigualdade social. Esse pedido de paz está presente nos diversos cartazes como “Fora Feliciano!”; “Pare Belo Monte!”; “ Fora Renan Calheiros!”; “Reforma política!”… Qual ser humano que não deseja paz para sua vida? Desconheço.
Participei de diversas passeatas em 2013. Levei para uma delas (na Presidente Vargas, Rio de Janeiro, no dia 17/06, que reuniu mais de 100 mil pessoas) um cartaz onde estava escrito: PAZ SEM FRONTEIRAS. Foi interessante observar a surpresa das pessoas, pediam para fotografar/filmar o cartaz. Paz é o que mais desejo nesse momento de transformação. Que tal começar essa mudança em nós mesmos? Praticar o que exigimos nos cartazes que levantamos nas ruas? Ética, cidadania, solidariedade, amor, respeito ao próximo, e paz.
No yoga esse almejado estado de paz chama-se ahimsa – uma espécie de fio dourado que conduz a prática, traçado pelo cultivo da não-violência e do respeito a si e aos outros. Que possamos recriar nossa realidade, ancorando a paz em nós para que então se instaure no mundo.
Ramon Nunes Mello
Rio de Janeiro, julho de 2013.

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