segunda-feira, fevereiro 16, 2009

14 DE FEVEREIRO


Fiz 25 anos no dia 14 de fevereiro: Valentines Day e Era de Aquário. Comemorei na Sexta-Feira 13, num boteco em Botafogo e depois da meia-noite fui ao Cinemateque. Só espero que 2009 seja melhor que ano passado, por favor. Será.

Dia 14 também é a data de morte da escritora Carolina Maria de Jesus, a mineira que morava na favela do Canindé, em São Paulo, autora do famoso livro-diário 'Quarto de despejo' – traduzido para 31 idiomas.

1 de julho. Eu percebo que se este Diário for publicado vai maguar muita gente. (...) Quando passei perto da fabrica vi varios tomates. Ia pegar quando vi o gerente. Não aproximei porque ele não gosta que pega. Quando descarregam os caminhões os tomates caem no solo e quando os caminhões saem esmaga-os. Mas a humanidade é assim. Prefere vê estragar do que deixar seus semelhantes aproveitar.

Ganhei meu primeiro Moleskine, aquele famoso caderno de notas produzido na Itália. O caderninho ficou conhecido por ter sido usado por artistas como Van Gogh, Matisse, Picasso e Hemingway. Não tenho frescuras para escrever, rabisco muito em guardanapos, mas gostei do presente. Escrevi esse poema:

medito
paro de
fumar
ouço rôrô
acendo vela
canto pontos
de oxum
faço de
tudo para
apagar
você da
memória


Diana de Hollanda me enviou esse texto sobre os 25 anos, autoria do escritor francês Georges Perec:

“Você quase nada viveu, e no entanto, já está tudo dito, tudo terminado. Tem apenas vinte e cinco anos, mas sua trajetória está inteiramente traçada. Os papéis estão prontos, os rótulos: do urinol de sua primeira infância à cadeira de rodas de seus velhos dias, todos os postos estão ali e esperam a sua vez. Suas aventuras são tão bem descritas que a mais violenta revolta não abalaria ninguém. Você poderia em vão descer à rua e mandar às favas os chapéus das pessoas, cobrir a cabeça de imundícies, ir descalço, publicar manifestos, atirar à passagem de um usurpador qualquer, de nada adiantará: sua cama já está pronta no dormitório do asilo, seu talher está posto na mesa dos poetas malditos. Barco enfurecido, miserável milagre. O Harrar é uma atração popular, uma viagem organizada. Tudo está previsto, tudo está preparado nos mínimos detalhes: os grandes ímpetos do coração, a fria ironia, o dilaceramento, a plenitude, o exotismo, a grande aventura, o desespero. Você não venderá sua alma ao diabo, não irá, de sandália nos pés, lançar-se ao Etna, não destruirá a sétima maravilha do mundo. Tudo já está pronto para a sua morte: a bala de canhão que o levará há muito foi forjada, as pranteadeiras já estão designadas para acompanhar seu caixão.”

Maria Rezende me deu muitos livros de presente, ela e Rodrigo. Entre tantos livros, o ‘Livro dos Abraços’, de Eduardo Galeano – paixão de Maria. Destaco essa A função da arte/1:

Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que descobrisse o mar. Viajaram para o Sul.

Ele, o mar, estava do outro lado das dunas, esperando.

Quando o menino enfim alcançou a areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto o seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza.

E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai:

- Me ajuda a olhar!

Melhor ainda é ler esse texto e depois ouvir Caymmi:





É doce morrer no mar, por Dori Camymmi.

Um comentário:

Anônimo disse...

Parabéns, Gato de Alice. Qualquer dia venha miar de novo na minha janela.