Por Ramon Mello
Do novo time de cantoras da música popular brasileira, Thaís Gulin se destaca “não apenas pela voz clara de emissão segura, mas pela escolha criteriosa do repertório, com um viés de vanguarda de que ela participa como autora, e ainda pelo tratamento instrumental inventivo do tema”, segundo Tárik de Souza, referindo-se ao primeiro álbum da cantora e compositora, Thaís Gulin, lançado em 2007 pela gravadora Rob Digital, que apresentava releituras como “Garoto de aluguel”, de Zé Ramalho, e “Hino de Duran”, de Chico Buarque, além de composições suas em parceria com Arrigo Barnabé e Rogério Guimarães.
Curitibana radicada no Rio de Janeiro, Thaís Gulin se prepara para lançar o segundo álbum em setembro pela gravadora Biscoito Fino, É só você segurar na minha mão quando for mergulhar – título provisório. O repertório do disco, produzido por Alê Siqueira (Marisa Monte, Omara Portuondo, Elza Soares) e Kassin (Vanessa da Matta, Los Hermanos), inclui a música de Ivan Lins – “Paixão, passione” – gravada por Gulinpara a trilha sonora nacional da novela Passione, da TV Globo. E há ainda composições inéditas de nomes como Adriana Calcanhotto e Tom Zé – único artista a fazer participação especial no disco, com “Ali Sim, Alice”.
“Liguei para o Tom Zé e a dona Neuza, mulher dele, atendeu. Falei: ‘Oi, é a Thaís Gulin, que gravou ‘Cedotardar’. Tô fazendo meu segundo disco, será que o Tom Zé se anima em me mandar uma inédita?’ Ela disse: ‘Acho que ele vai adorar.’ Esse é um disco praticamente de inéditas, é mais difícil de se fazer que o primeiro, fui deixando sair, fiquei flutuando por um tempão até ter a primeira ideia. Aí foi indo, indo”, diz a cantora e compositora, que reservou espaço para composições próprias (“Horas cariocas” e “ôÔôôôôÔô”), músicas de jovens compositores como Kassin e Rodrigo Bittencourt, e parcerias com Moreno Veloso. Além dessas novidades, o disco traz também duas releituras, uma delas de música de Jards Macalé.
O que é tão diferente nesta nova fase? “A distração. O acaso das ideias, dos encontros e inspirações.” E completa: “Eu tenho mania de pensar que eu não vou saber fazer nada do que fazia na semana anterior [risos]. Imagina de um disco para o outro. É um abismo, é muita liberdade... Embora este disco seja uma continuação, não consigo seguir o que aconteceu. É como se precisasse dar um chute no castelinho e começar como se nada tivesse acontecido”, revela Gulin, que também investigou o repertório do show, durante o ano de 2009, em apresentações do seu projeto Musiqueria \o/ Processo Aberto e Distraído.
Aos 30 anos, Thaís carrega em sua música a inquietude que adquiriu no tempo em que fazia teatro na adolescência. Quase ninguém sabe, mas ainda muito nova ela veio para o Rio de Janeiro fazer as oficinas de teatro de Gerald Thomas. Chegou a cursar Performing Arts no Manchester City College, na Inglaterra. Em 2001, radicou-se no Rio com o propósito de ser atriz e cantora. A música foi trilhando o rumo da sua vida, acabou estudando no Conservatório de Música Brasileira de Curitiba e se formou bacharel na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), no curso de Música Popular Brasileira – Arranjo.
Desde então, vem conquistando crítica e plateia pelo Brasil com interpretação bastante particular, cheia de força, personalidade e lirismo. O sonho de menina se torna cada vez mais real, mas sem perder a fantasia. Thaís Gulin surpreende pela escolha de repertório diferenciado e sofisticado. Em seu canto, a música brasileira é marcada por criatividade e atitude, revelando uma sonoridade ímpar.
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